'Legítima defesa do racismo', diz rapper que teve sobrinho morto por PM
Manuela Rached Pereira
Do UOL, em São Paulo
03/12/2024 10h19Atualizada em 03/12/2024 10h19
O rapper Eduardo Taddeo, tio do jovem de 26 anos morto a tiros pelas costas por um policial militar no início de novembro, divulgou na segunda-feira (2) pelas redes sociais um vídeo de câmeras de segurança que registram o momento em que seu sobrinho é atingido pelos disparos do PM à paisana, na zona sul de São Paulo.
O que aconteceu
"Com as imagens da loja, está provado que meu sobrinho Gabriel foi covardemente executado", afirmou Taddeo. Ele divulgou o vídeo em seu perfil no Instagram e escreveu: "Não houve abordagem ou voz de prisão, simplesmente oito tiros em legítima defesa do racismo e do capital dos grandes conglomerados de exploradores. Não será mais um número estatístico".
Jovem morto é Gabriel Renan da Silva Soares. Nas gravações, ele aparece furtando produtos de limpeza no mercado OXXO localizado na Avenida Cupecê, no Jardim Prudência, zona sul de São Paulo. Quando tenta sair correndo da loja com os itens, ele escorrega na entrada e chama a atenção do policial de folga, que saca uma arma e inicia os disparos pelas costas de Soares, que tentava fugir.
Relacionadas
PM foi identificado como Vinicius de Lima Britto, de 24 anos. Segundo apurado pela Folha de S.Paulo, o agente afirmou em depoimento que agiu em legítima defesa.
O que dizem as autoridades
Agente foi afastado da PM-SP. Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, o caso "segue sob investigação pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)". Em nota ao UOL, o órgão afirma que "as imagens mencionadas foram captadas, juntadas aos autos e estão sendo analisadas para auxiliar na apuração dos fatos".
SSP diz ainda que investigações tentam identificar testemunha do caso. "Familiares da vítima foram ouvidos e diligências estão em andamento para identificar e qualificar a testemunha que esbarrou na vítima durante sua fuga do estabelecimento comercial, momentos antes de ser alvejado".
"Caso apurações apontem para responsabilização criminal, medidas administrativas serão adotadas" contra PM, diz SSP. "A Polícia Militar acompanha as investigações, prestando apoio à Polícia Civil. Caso as apurações apontem para a responsabilização criminal do policial militar, medidas administrativas serão adotadas, incluindo a possibilidade de processo disciplinar que poderá resultar na sua exclusão da Instituição", conclui o órgão no nota.
Chefe da segurança paulista também se manifestou sobre o caso na manhã desta terça-feira (3). Em postagem divulgada na rede social X, o secretário da SSP, Guilherme Derrite, escreveu: "Policial não atira pelas costas em um furto sem ameaça à vida e não arremessa ninguém pelo muro", em referência a outro caso recente de violência policial no estado de São Paulo divulgado pela imprensa.
Tio já havia denunciado caso
Um dia após a morte do sobrinho, Taddeo divulgou um primeiro vídeo que denunciava o caso nas redes sociais. "Mataram meu sobrinho com oito tiros, porque acusaram ele de vir furtar aqui. E, nessa, deram oito tiros, e os oito tiros ficarão como legítima defesa", publicou no dia 4 de novembro. "Mais um jovem preto, mais um jovem da periferia exterminado. (...) E mais uma vez [um policial] vai ser absolvido", seguiu.
Em outra publicação, vídeo de morador do bairro mostra o corpo de Soares na calçada, sem receber isolamento ou atendimento médico, com pessoas caminhando em volta normalmente. "Enquanto o corpo do meu sobrinho estava na calçada, a Oxxo seguiu funcionando normalmente. Os clientes também não se importavam em passar pelo seu corpo com suas compras. A polícia tampouco preservava o local onde acabavam de executar meu sobrinho".
Esse é o retrato mais fiel do quanto essa sociedade é podre e do desrespeito e desprezo por nossos jovens negros. Quem é mais criminoso? Quanto vale a vida dos nossos jovens? Pra essas pessoas nossas vidas não valem nada. Eduardo Taddeo, em publicação divulgada em 7 de novembro no Instagram