Especialista analisa tragédia em Ubatuba: 'Forçou pouso em pista molhada'
Do UOL e colaboração para o UOL em São Paulo
09/01/2025 12h11
O piloto do avião de pequeno porte que explodiu em Ubatuba (SP) forçou pouso na pista molhada, analisou Gerardo Portela, especialista em gerenciamento de risco, em entrevista ao UOL News nesta quinta (9).
Cinco pessoas estavam a bordo do avião no momento do acidente, sendo quatro passageiros, que foram socorridos com vida, e o piloto, que morreu. Para Portela, as condições da pista do Aeroporto Estadual de Ubatuba não estavam favoráveis para se fazer um pouso seguro.
A pista e as condições climáticas não estavam favoráveis a esse pouso. Houve um problema de aderência. Como falamos da questão do atrito, ele precisa controlar a aeronave para decolar, mas ainda muito mais para pousar, principalmente tratando-se de uma pista curta, limitada. Então muitas vezes a decolagem é feita em outro local, distante, com condições climáticas diferentes.
Essa é uma região conhecida pela dificuldade para pousos em condições visuais porque chove muito. É a área de Ubatuba, Paraty e Angra dos Reis - inclusive a usina nuclear foi construída ali justamente porque é um dos lugares do Brasil onde mais chove. Há muita nebulosidade, umidade e nuvens.
Existem vários aeródromos ali. Esse piloto tentou fazer o pouso e ainda havia bastante combustível, mas talvez não o suficiente para sair da região. Ele forçou o pouso numa pista molhada. Era o que ele tinha e provavelmente não conseguiu reduzir a velocidade. Gerardo Portela, especialista em gerenciamento de risco
Ao analisar as imagens do acidente, Portela chamou a atenção para a visibilidade ruim da pista do aeroporto, o que eleva o grau de dificuldade para o pouso.
Observem no fundo primeiro como está o cenário. Vejam a dificuldade de visibilidade. Embora pareça que tenha teto, não é uma condição favorável para um voo, principalmente porque você observa também que choveu recentemente. A pista está molhada. Parece-me, pelas imagens, que ele não conseguiu manter o alinhamento e a aderência necessária e acabou derrapando.
Para a aeronave parar, ela precisa perder energia, que é transferida para o solo pelo atrito. Se for um jato, com motor com condição de fazer reversão, isso é possível. Se a pista está molhada, infelizmente isso pode ser extremamente difícil de ser feito. Gerardo Portela, especialista em gerenciamento de risco
CEO da Rede Voa: 'Decisão final de pouso cabe ao piloto, que foi o caso'
O executivo Marcel Moure, CEO da Rede Voa, que administra o aeroporto de Ubatuba, disse, em entrevista ao UOL News, que o piloto do avião que caiu no aeródromo local fez um pouso de bastante risco.
O que posso dizer é que o pouso em Ubatuba é essencialmente feito por aeronaves com motores turbo-hélices. O Cessna 521 é uma aeronave a jato. E a pista lá são 900 metros de pista, mas pra quem pousa no sentido da praia, pra dentro. Quem pousa no sentido oposto, ela tem uma restrição, tem uma cabeceira deslocada, que se encontra nas fichas de observação, e os pilotos sabem disso.
Então, quando ele fez a curva pra pousar na praia, ele tinha 300 metros a menos de pista. Então nós estamos falando de uma aeronave Cessna, modelo 521, que tinha que pousar nesses 600 metros. É óbvio aqui que eu não tenho condições nesse momento de avaliar o peso da aeronave, situação do vento.
Mas, sim, as nossas câmeras de vigilância do CCO demonstram que a pista estava molhada. Então as condições meteorológicas daquele momento estavam bastante degradadas. Quem opera naquela região sabe que tem que ter certos cuidados, principalmente na serra [havia neblina cobrindo a serra no momento do acidente].
Então, sim, na nossa humilde opinião foi um pouso de risco é um pouso de muito risco nesse momento [...] Sai de Goiás, conversa com os órgãos de área, entra na Terminal de São Paulo sob controle, e a parte final, para pouso no aeródromo, aí a decisão final cabe ao piloto em comando, que era o caso.
Marcel Moure, CEO da Rede Voa
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