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'Terra de ninguém': pânico se espalha na UEPB após suástica e assassinato

Inscrição nazista encontrada na UEPB, com os dizeres "Nós vamos a caça" - Reprodução/Instagram/@caheg_ Inscrição nazista encontrada na UEPB, com os dizeres "Nós vamos a caça" - Reprodução/Instagram/@caheg_
Inscrição nazista encontrada na UEPB, com os dizeres "Nós vamos a caça" Imagem: Reprodução/Instagram/@caheg_

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/04/2025 05h30Atualizada em 16/04/2025 13h16

Com aulas suspensas desde que um homem foi assassinado em um campus de Campina Grande da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), alunos da instituição relatam insegurança para estudar e cobram reitoria.

O que aconteceu

Estudantes criticam falta de segurança na universidade. Alunos da UEPB contaram ao UOL que estão com medo de ir ao campus após serem alvo de ameaças nazistas e de um homem ser assassinado a tiros na CAPF (Central Acadêmica Paulo Freire), dentro da universidade.

Aulas estão suspensas até 28 de abril. Inicialmente, a reitoria suspendeu todas as atividades presenciais entre 4 e 11 de abril, mas adiou a suspensão.

Alunos se manifestaram contra falta de segurança. O DCE (Diretório Central dos Estudantes) e os centros acadêmicos da universidade protestaram anteontem em frente ao prédio da reitoria para pedir mais segurança.

Homem foi assassinado a tiros no campus

Dono de copiadora da faculdade foi morto dentro da universidade. Keine Santos Diniz, 41, era o namorado da ex-mulher do atirador, Flávio Medeiros. Diniz foi atingido por seis tiros e morreu na hora. A PCPB afirmou que Medeiros tinha uma pistola registrada em seu nome e frequentava um clube de tiro.

Keine Santos Diniz, dono de copiadora morto dentro da UEPB Imagem: Reprodução

"Foi aterrorizante", conta uma estudante que presenciou assassinato. Ela disse ao UOL que estava ao lado da copiadora no momento do crime, mas não percebeu a aproximação do atirador. Ao ouvir os disparos, correu, gritando para as pessoas nas salas se esconderem. "Só me senti segura quando cheguei em casa", diz.

Alunos reclamam que atirador conseguiu entrar e sair do campus sem ser parado. O assassinato ocorreu 3° andar da Central Acadêmica Paulo Freire. Ou seja, o autor dos disparos entrou na faculdade armado, subiu as escadas, atirou e foi embora sem ser abordado pela equipe de segurança. "Entra lá quem quer", diz uma estudante.

Após o crime, suspeito deixou o campus e foi à escola onde ex trabalhava, mas não a encontrou. Na sequência, parou o carro em uma delegacia e cometeu suicídio. O SAMU chegou a ser acionado, mas a morte dele foi confirmada logo depois.

Ameaças nazistas nas paredes

Desenho nazista na UEPB diz: "Negros malditos queimem!" Imagem: Reprodução

Suásticas foram pintadas em paredes da universidade na semana passada. Ao lado dos símbolos, estavam as frases "Nós vamos à caça" e "Negros malditos queimem!".

Adesivos "anti-antifascistas" também foram colados sobre desenhos feministas. Um vídeo, publicado por um aluno da UEPB, mostra uma pessoa colando os adesivos em diferentes partes do campus. A conta responsável pela publicação não existe mais.

Aluno apontado como responsável é investigado pela Polícia Federal. Um estudante de biologia de 19 anos foi alvo de uma operação de busca e apreensão na última sexta-feira, realizada a pedido do FBI. Agentes da PF apreenderam celulares, mídias e dispositivos de armazenamento de dados.

Estudantes sentem medo do aluno investigado. Um deles afirmou ao UOL que o rapaz se diz skinhead, nacionalista, e usa símbolos nazistas nas roupas. Um professor disse que o jovem "é conhecido na universidade", mas que a reitoria não faz nada sobre ele.

Reitoria publicou nota de repúdio após descoberta de desenhos. Em vídeo publicado nas redes sociais da UEPB, a reitora Célia Regina disse que a universidade tomou "todas as medidas cabíveis", incluindo enviar as provas que tinham à PF, mas não informou se o aluno foi suspenso ou expulso. O UOL questionou, mas não teve resposta.

Membros de comunidade acadêmica se sentem inseguros

"Não posso garantir que eu esteja lá [no campus], mas não porque eu não queira", diz estudante. O aluno, que é negro, diz que tem medo de frequentar o campus enquanto nada é feito para impedir a circulação de ideias neonazistas nos corredores da UEPB.

Eu amo meu curso de paixão. Porém, quando essas coisas acontecem, a gente se sente muito incapaz de estudar, porque se senta na cadeira pensando que algo horrível vai acontecer. Aluno da UEPB

"É uma terra de ninguém", diz professor. O docente ouvido pelo UOL diz que nem ele, nem os colegas se se sentem tranquilos para dar aulas. Ele afirma que "há um temor generalizado" que atrapalha o ensino. A reitoria "negligenciou violentamente" a segurança, disse.

Entrada da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) Imagem: Divulgação/UEPB

Universidade já foi palco de outro crime. Em 2019, assaltantes invadiram e atacaram uma agência bancária que ficava dentro do campus.

O que querem os estudantes

Abaixo-assinado por mais segurança ultrapassou 5 mil assinaturas. Publicada pelos centros acadêmicos, a petição fala em "quadro grave de insegurança e abandono" e pede:

  • Implantação imediata de um plano de segurança eficaz;
  • Presença ativa de vigilância qualificada;
  • Ampliação da rede de apoio psicológico dentro da universidade.

O que diz a faculdade

UEPB afirma que vai instalar detectores de metal em entradas. Em nota divulgada na última sexta-feira, a reitoria afirmou que iniciará um projeto para posicionar agentes com detectores de metal nas duas entradas do Centro de Aulas Paulo Freire. Eles vão controlar a entrada e saída de professores e alunos, e devem começar a atuar em 28 de abril.

Instituição prometeu aumentar rondas policiais. Plano da reitoria é trocar as lâmpadas atuais por iluminação de LED, implementar rondas regulares da PM nas vias do campus e usar "um sistema inteligente de monitoramento por meio de câmeras de vigilância".

O UOL tentou contato com a reitoria da UEPB, mas não teve retorno. Este espaço segue aberto para manifestação.


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