Sem dinheiro e com poucas candidaturas, PSDB aposta sobrevivência em Datena
Com pouco dinheiro à disposição nas eleições deste ano, o PSDB reduziu o número de candidatos a prefeito e vereador em todo o Brasil para apostar seu futuro — e dinheiro — na eleição do apresentador José Luiz Datena, que segue em campanha hesitante ao cargo.
O que aconteceu
PSDB tem o menor fundo eleitoral de sua história, proporcionalmente. Como tem apenas 13 deputados federais, o partido perdeu tempo de televisão e participação no fundo partidário. Hoje tem à disposição R$ 147,9 milhões para distribuir entre todos os candidatos, o equivalente a 2,8% do fundo deste ano, de R$ 4,9 bilhões. Em 2020, o "fundão" era bem menor (R$ 2 bilhões), mas o PSDB detinha 6,4% dele: R$ 130 milhões.
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Naquele ano, porém, a diferença para os adversários era muito menor. O PT, por exemplo, tinha R$ 201 milhões em 2020; hoje tem R$ 619 milhões. O PL, que tinha R$ 117 milhões, este ano é o mais rico, com R$ 886 milhões.
Sem dinheiro, a legenda reduziu o número de candidatos. O total de postulantes a prefeito em todo o Brasil despencou 47%, de 1.332, em 2020, para 712 este ano. No estado de São Paulo — que por 28 anos esteve em mãos tucanas —, serão 64 candidatos a prefeito, contra 407 há quatro anos. Se em 2020 a sigla lançou 7.989 candidatos a vereador em todo o estado, em 2024 esse número será 3.192, segundo o TSE.
"Em todas as capitais que disputamos temos chances reais de vencer as eleições", diz Marconi Perillo, presidente nacional da legenda. Além de Datena, em São Paulo, Perillo se refere aos candidatos tucanos em Palmas, Campo Grande, Goiânia, Vitória, Macapá e Florianópolis.
Nenhuma candidatura, porém, decola. Em Palmas (TO), o deputado estadual Júnior Geo aparece em terceiro, com 18,8%, segundo a Paraná Pesquisas. Em Campo Grande (MS), o deputado federal Beto Pereira está em segundo, com 15%, mas a líder é Rose Modesto (União) com 33%, diz a Quaest. Em Vitória, Luiz Paulo tem 8%, distante de Lorenzo Pazolini (Republicanos), líder com 51% (Quaest). Já em Florianópolis, Dário Berger tem 16%, enquanto o atual prefeito, Topázio Neto (PSD), marca 40% (Quaest). Em Goiânia, o jornalista Matheus Ribeiro não apareceu na pesquisa do Instituto Serpes e, em Macapá, Patrícia Ferraz tem 2% (Quaest).
Datena ainda é a maior aposta. "E, claro, [tem] o Datena, talvez o nome mais conhecido desta eleição em todo o Brasil", diz Perillo. "Datena começou a campanha tarde, mas já pontua muito bem nas pesquisas e pode ganhar, sim, contra as previsões de muitos analistas."
Mesmo sem dinheiro, o PSDB destinará R$ 8 milhões do fundo partidário a Datena. Proporcionalmente, é mais do que os R$ 14,8 milhões da campanha vitoriosa de Bruno Covas em 2020. Se o PSDB ainda detivesse 6,4% do fundão, os R$ 8 milhões de hoje equivaleriam a R$ 17 milhões.
O Datena, por ser tão conhecido e pela força de comunicação que tem, é claro que ajuda no futuro do partido. É parte do nosso projeto de apresentar ao país uma alternativa aos extremos para 2026.
Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB
"Fomos heróis"
Perillo considera "natural" que o PSDB tenha enfraquecido após perder o governo de São Paulo em 2022. "A presença de um governador atrai prefeitos e facilita a viabilização de candidaturas", diz. Quem aproveitou esse vácuo foi Gilberto Kassab, que na Secretaria de Governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) atraiu muitos prefeitos do PSDB para seu PSD: a legenda saltou de 64 para 306 prefeitos no estado em comparação com 2020.
Hoje com apenas duas dezenas de prefeitos, o PSDB é "herói", diz Perillo. "Fomos heróis porque, com 13 deputados, você não tem nem deputado para ajudar os prefeitos", diz ele ao citar as 21.706 candidaturas em 2.062 cidades do Brasil. "Esses números mostram que, apesar das dificuldades, o PSDB está determinado a se manter relevante e a continuar lutando por um espaço significativo no cenário político."
Perillo admite que a eleição de Datena pode decidir o futuro tucano. "Qualquer candidato a prefeito que o PSDB tivesse em São Paulo teria influência no futuro do PSDB", disse. "O mesmo vale para os outros partidos, porque São Paulo é a maior cidade do país e provavelmente a única eleição municipal que chama atenção da população no Brasil todo."
Após ter cometido o erro de não ter um candidato a presidente em 2022, estamos recomeçando e vamos ressurgir com mais força ainda.
Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB
"Situação do PSDB é dramática"
Depois de perder três eleições presidenciais para o PT, a crise no partido se agravou quando Aécio Neves perdeu para Dilma Rousseff (PT) em 2014. Ao questionar a vitória da adversária, Aécio descaracterizou o PSDB", diz Eduardo Grin, cientista político da FGV. Quando o bolsonarismo ascendeu, afirma, a sigla perdeu seu lugar na polarização com o PT.
O partido rumou ideologicamente para a direita nos anos seguintes apostando em candidatos sem identificação partidária. Em São Paulo, o primeiro político sem raízes tucanas a disputar pelo PSDB foi João Doria, quem "destruiu o PSDB", diz Grin. O então governador Rodrigo Garcia saiu do DEM para tentar disputar pelo PSDB em 2022, mas perdeu para Tarcísio.
O partido comete o mesmo erro ao indicar Datena, diz o professor. "A situação do PSDB é tão dramática que colocou o pouco dinheiro que tem em um candidato sem identidade com o partido, sem elo com a militância e com histórico de desistir", afirma Grin. "Foi chamado porque tem popularidade e agenda da segurança pública, mas essa agenda o bolsonarismo já levou."
Ele diz que Datena e seu partido não se encaixam na campanha de 2024. "O PSDB não pode ir pro centro porque está ocupado por Boulos e Tabata; na extrema direita, tem o Marçal. Nessa polarização, a chance de o partido minguar agora e em 2026 é muito grande."
A estratégia do partido com Datena é justamente voltar para o centro ideológico. "Datena é a candidatura que representa o equilíbrio, distante dos extremos", diz Perillo. "A campanha está começando. Ainda há muito tempo para a população conhecer quem são os candidatos fakes e quem são os sérios."
Datena nunca ocuparia o espaço de extremismo, de fake news, do radicalismo, da aliança com o crime organizado. O Datena nunca se propôs a ocupar esse espaço.
Marconi Perillo
A clausula de barreira vai crescer de 2% para 2,5% em 2026. Já pensou se o PSDB fica sem fundo eleitoral? Talvez a candidatura do Datena seja o último respiro do PSDB para ter uma vida autônoma.
Eduardo Grin, cientista político