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Lucas Pavanato: direita tem excesso de lideranças, ao contrário da esquerda

Do UOL, em São Paulo

03/11/2024 05h30Atualizada em 03/11/2024 08h17

O vereador eleito Lucas Pavanato (PL), 26, vê como pontual o racha na direita evidenciado na disputa municipal deste ano. Para ele, os nomes que despontam como possíveis opções para 2026 revelam a força desse campo político no país.

Na avaliação do bolsonarista, que foi o candidato a vereador mais votado em São Paulo, com mais de 160 mil votos, e assumirá uma cadeira na Câmara Municipal pela primeira vez, a direita precisa de mais. Nos próximos anos, ele diz esperar o aumento do número de professores de direita em escolas e universidades e acredita que os conservadores precisam se apropriar de pautas sociais.

Na Câmara, ele afirma prever um ambiente de "confusão e atrito". Em entrevista ao UOL no gabinete que herdará do vereador e mentor, Fernando Holiday (PL), Pavanato defende o que chama de "combo contra ideologia de gênero" e diz desejar ver Jair Bolsonaro (PL) como líder da direita em 2026.

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Religião e política

Evangélico, Pavanato afirma que a maior parte do eleitorado dele é composta por cristãos que por muito tempo não se sentiram representados por lideranças políticas.

Falar contra a ideologia de gênero não era comum, você era tratado como radical. Falar contra o aborto também não era. Quem falava que era cristão no ambiente público era demonizado.Lucas Pavanato (PL), vereador eleito

Estado laico é a permissão para que todas as correntes religiosas participem [da política]. É exatamente aquilo que garante a participação de pessoas com pensamentos religiosos, inclusive cristãos. Só que existe uma distorção. As pessoas não querem só a separação entre igreja e Estado, querem a separação entre religião e política. Isso é impossível.

Não tive apoio institucional de nenhuma igreja. Mas meus princípios dialogam com o público das igrejas. Minha forma de comunicar é muito parecida com a desse público.

CPIs e 'combo' contra ideologia de gênero

Pavanato prepara uma reforma no gabinete de Holiday, mas as propostas que planeja apresentar na Casa já estão prontas. Ele quer instaurar uma CPI para investigar ONGs que atendem usuários de drogas e outra para investigar ocupações. Diz ainda que pretende fazer um "combo contra ideologia de gênero", com propostas como proibição de remédios bloqueadores hormonais para transição de gênero e proibição do acesso de mulheres trans a banheiros femininos.

Movimentos de invasão apoiam muitas vezes candidatos de esquerda e usam pessoas que acham que vão conseguir moradia decente através deles como massa de manobra. Quero abrir essa caixa-preta das invasões.

É um absurdo pessoas defenderem e normalizarem você injetar hormônio em criança. O que estão fazendo é envenenando crianças, prejudicando a saúde em nome de uma ideologia.

O banheiro é um ambiente de vulnerabilidade, mulheres e homens estão ali com as partes íntimas expostas. Pessoas mal intencionadas podem usar esse banheiro para violar as mulheres.

Se tiver um terceiro banheiro para uma transsexual usar, sem problema nenhum. Só não concordo que um homem use o mesmo banheiro que a minha irmã, por exemplo.

Relações com a Câmara

Entre os nomes com os quais pretende se aliar estão Rubinho Nunes e Adrilles Jorge, ambos do União Brasil, Sargento Nantes (PP), Kenji Palumbo (Podemos).

A bancada de esquerda é minoritária. A CPI e os projetos contra ideologia de gênero podem avançar se eu conseguir construir um bom diálogo.

Não vou abrir mão do que eu penso para satisfazer anseios de uma esquerda extrema e autoritária. O PSOL talvez seja o partido que eu tenha mais dificuldade de conversar, o segundo é o PT.

Vai ter bastante confusão e atrito. É bom porque é sinal de democracia. As pessoas às vezes demonizam a polarização. No passado, tinha hegemonia de pensamento mais à esquerda. As redes sociais quebraram essa hegemonia porque existem mais representantes da direita puro-sangue.

Direita e esquerda em 2026

Pavanato afirma que vê o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) como opção "qualificada para o futuro", embora o parlamentar não tenha idade mínima para se candidatar à Presidência em 2026. Segundo ele, entre os apoiadores de Bolsonaro, há uma expectativa de que o ex-presidente deixe de ficar inelegível até 2030.

Uma parte do eleitor de direita ficou desconfortável em apoiar o [Ricardo] Nunes (MDB) e optou por apoiar Pablo Marçal (PRTB). Isso significa que a direita está rachada? Não, 90% dos eleitores que votaram em Marçal esperam que Bolsonaro volte à Presidência. A direita teve um atrito, mas foi uma questão pontual.

Tarcísio faz uma boa gestão. Errou algumas vezes o tom nesta eleição, quando falou que, num segundo turno [entre Boulos e Marçal], um bom caminho seria anular o voto. Prejudica um pouco a imagem com a direita.

A direita tem excesso de lideranças, ao contrário da esquerda. Isso aponta para um futuro em que a direita tende a ter mais força. Tentam criar uma narrativa de que a direita é dividida. A gente tem líderes demais, a esquerda não tem. Quando não existir mais Lula, quem vai ser o líder da esquerda?

[Guilherme] Boulos (PSOL) está condenado ao Legislativo pelo resto da vida. Haddad é um nome que, como prefeito de São Paulo, teve a imagem desgastada. São inviáveis para o Executivo e mais fáceis de enfrentar numa disputa do que Lula.

Lula é um líder forte, não tem como negar, mas tem muito desgaste na Presidência. É possível vencê-lo desde que a direita consiga se organizar em torno de uma liderança certa, que eu desejo que seja Bolsonaro.

'Mais estratégia política e pautas sociais'

O vereador eleito diz que a direita deveria aprender com a esquerda a "estratégia política e presença em espaços de ensino" e se debruçar sobre pautas sociais, como o combate à desigualdade social. Ele afirma que apresentará um projeto de educação financeira e empreendedorismo nas escolas, assim como prometeu Marçal na campanha.

A esquerda entendeu que precisava ocupar zonas que influenciam a sociedade. Colocaram jovens nas universidades, nas escolas. A direita começa a se conscientizar disso. Nos próximos 20, 30 anos, quero que tenhamos aumentado o número de professores de direita.

A direita precisa aprender a dialogar melhor nas pautas sociais. A esquerda monopolizou o discurso de que é antirracista, de que é contrária à violência contra os LGBTs. Sou contra o discurso identitário. Não gera benefício, pelo contrário, só gera para quem se elege.

Não sou contra o Bolsa Família, acho até importante. Bolsonaro ampliou, mas o programa tem que ter porta de saída. Ter mais pessoas dependentes dele não deveria ser comemorado.

'Ironia tem limite'

Com 1,3 milhão de seguidores no Instagram, Pavanato diz que pretende levar a "transparência" das redes sociais para a Câmara Municipal. Já a ironia que costuma adotar em algumas publicações quer deixar para as redes. Afirma ainda que as emendas municipais devem ser distribuídas e forma "técnica".

Tem uma certa liturgia no ambiente legislativo. A ironia tem um limite, que na rede social é maior. Não dá para agir tão livremente quanto em uma rede social.

Como meus votos foram pulverizados, quero pegar todas as regiões da cidade, entender as principais demandas e fazer destinação técnica.

Do MBL para a Câmara

O início de Pavanato na política ocorreu antes mesmo de 2016 — quando participou de manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O bolsonarista conta que ajudou a mãe a fazer campanha para um vereador em Sorocaba e que gostava de assistir ao horário eleitoral.

De militante do MBL (Movimento Brasil Livre), começou a estagiar no gabinete de Holiday, administrando as redes sociais do vereador. Depois, passou a assessor parlamentar e a chefe de gabinete. Em 2022, se lançou candidato a deputado estadual e obteve 36.258 votos, mas não foi eleito. Neste ano, decidiu concorrer a vereador.

Nas manifestações de 2013, eu era contra o aumento das passagens, e a galera, contra a direita. Não era a minha forma de pensar. Mas em 2016, aí sim, eu estava ao lado de lideranças que pensavam como eu.

Na época do MBL, eu ganhava um salarinho pequeno por mês, e organizava [manifestações] em todo o país. Quando Lula estava para ser preso, ajudei a organizar as manifestações pela prisão dele. Esse foi o meu começo.

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