Novo Datafolha traz uma boa e uma péssima notícia para Pablo Marçal

A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (5) trouxe uma boa e uma péssima notícia para o candidato Pablo Marçal.

A boa: o candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo atravessou a primeira semana de bombardeios da propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio, da qual seu partido não tem espaço, sem perder ponto. Pelo contrário, oscilou de 21% para 22% das intenções de voto.

A péssima é que desde o último levantamento, a rejeição a ele só aumenta, o que pode ser definitivo para a migração de apoios para o prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Como? Vamos lá.

Em 7 de agosto, ainda no início da campanha, 30% das pessoas diziam ao Datafolha que não votariam no empresário goiano de jeito nenhum. Duas semanas depois o índice alcançou 34%. Hoje é de 38%.

Embora semelhante ao de Guilherme Boulos (PSOL), que soma 37% de rejeição (pouco superior ao do início da campanha, quando cravava 35%), o número é suficientemente preocupante porque dá aos concorrentes à direita o discurso de que é preciso abandonar Marçal agora para evitar a eleição de Boulos.

O para-raio natural desse movimento é Nunes. Oficialmente apoiado por Jair Bolsonaro (PL) e pelo governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi ele quem mais colheu os melhores frutos desde o início da propaganda eleitoral.

O candidato à reeleição oscilou três pontos para cima e agora tem 22% das intenções de voto. (A margem de erro, vale lembrar, é de 3 pontos percentuais). A rejeição foi de 24% para 21%.

Sinal de que está conseguindo responder de maneira razoável às investidas de Marçal.

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O índice garante ao prefeito vantagem em um eventual segundo turno tanto contra Boulos (49% a 37%) quanto contra Marçal (53% a 31%).

Sem tempo de TV e rádio, o ex-coach seguiu em exposição graças à sua participação no debate da TV Gazeta e nas sabatinas promovidas pelo Roda Viva, da TV Cultura, e pelo UOL em parceria com a Folha de S.Paulo.

Mas à medida que o público o conhece, aumentam também as desconfianças.

Pudera: na TV Gazeta ele abusou das provocações, fez caras e bocas enquanto rivais falavam e quase foi agredido por José Luiz Datena (PSDB) — sim, ele é ainda candidato, mas cada vez menos. Soma hoje só 7% das preferências.

Como mostrou a newsletter Radar das Eleições, do UOL, eleitores indecisos rejeitaram a postura agressiva de Marçal, com palavrões e zombaria, ao longo do embate de domingo (1º).

No dia seguinte, na TV Cultura, o empresário desfilou arrogância para deslegitimar o trabalho dos jornalistas que estavam ali para entrevistá-lo. Ganhou mais rejeição.

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Na sabatina UOL/Folha, ele até tentou baixar a bola e falar de propostas. Mas deixou mais evidente que está vendendo sonhos e terrenos na Lua.

Após a maratona, o candidato do PRTB anunciou uma pausa para uma série de agendas internacionais. Isso no meio da disputa municipal. Parece estranho, e é.

Marçal pretende visitar populistas de direita em um giro pela América. A primeira parada é na El Salvador de Nayib Bukele, e a meta é tirar fotos com Donald Trump e Javier Milei.

Dessa maneira, ele fica livre da pressão de subir no palanque na avenida Paulista com Jair Bolsonaro, no dia 7 de setembro, e discursar contra Alexandre de Moraes.

A ausência evitaria, além de uma investida do ministro do STF, o reforço a um palanque para quem, no fim das contas, ameaça mas não larga a mão do atual prefeito.

(A resposta agressiva a Tarcísio após o governador anunciar apoio a Nunes, dizendo que ele jogou sua carreira política no lixo, é um sinal de que o mal-estar escalou.)

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A viagem é a chance de fazer uma revisão de rota após a divulgação do Datafolha.

Se conseguir reunir imagens ao lado das estrelas pop do extremismo, poderá voltar ao Brasil com um troféu: o argumento de que, não importa o que o bolsonarismo diga, é ele — e não Nunes — quem tem a chancela para fincar a bandeira do movimento global em São Paulo.

É uma forma de fidelizar o eleitor radicalizado que não engole Nunes. Mas pode assustar de vez os que não querem transformar São Paulo em uma trincheira da guerra ideológica - alguns, ao que parece, preferem resolver o problema das ruas esburacadas e das enchentes. São chamados de eleitores moderados.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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