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Pior ar do mundo: candidatos de SP têm planos vagos; o de Marçal é o menor

Poluição encobre o céu da cidade de São Paulo Imagem: Dario Oliveira/Código 19/Estadão Conteúdo
Caíque Alencar, Wanderley Preite Sobrinho e Manuela Rached Pereira

Do UOL, em São Paulo

12/09/2024 05h30Atualizada em 12/09/2024 10h06

São Paulo virou, nos últimos dias, a cidade com a pior qualidade de ar do mundo, entre as 120 monitoradas pelo site suíço IQAir. Embora a poluição não seja novidade na capital, os candidatos a prefeito dedicam pouca atenção ao assunto em seus planos de governo.

Apesar de algumas boas ideias, as propostas são superficiais, faltam metas e informações sobre a fonte de recursos, por exemplo. Veja o que propõem os principais candidatos e o que dizem especialistas:

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Ricardo Nunes (MDB)

Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) tenta se reeleger Imagem: 3.out.2024-Rafaela Araújo/Folhapress

O plano do prefeito promete continuar a renovação da frota de ônibus com substituição por modelos elétricos. Embora cite uma transição gradual dos veículos, ele não especifica os prazos e investimentos para a mudança. No debate realizado pelo Estadão, o candidato à reeleição disse que conseguiu empréstimos que somam R$ 6 bilhões para investir na renovação da frota.

Planejamento para a reciclagem de lixo tem estratégia contraditória, diz especialista. O candidato do MDB fala em "metas ambiciosas" e redução de emissão de carbono, mas cita também o "aproveitamento" de resíduos sólidos urbanos. "Isso significa incineração, quando você queima o lixo para reduzir o volume e acaba com mais emissão de gases potencialmente tóxicos", diz Pantoja.

O candidato à reeleição cita a criação de "caminhos verdes de arborização". Nunes não diz, porém, onde esses locais seriam viabilizados. Para a porta-voz do Greenpeace, Gabriela Nepomuceno, a medida é insuficiente para configurar política para o meio ambiente. "Não basta criar parques e plantar árvores e criar áreas de proteção ou áreas verdes. Quando a gente fala em políticas de promoção da sustentabilidade ambiental, a gente está falando de políticas que envolvam setores diferentes", disse.

Nepomuceno diz que Nunes elenca instrumentos "interessantes", mas falha ao não definir metas. Para a especialista, um desses instrumentos é o plano de ação climática do município, ligado à promessa de criar a secretaria executiva de Mudanças Climáticas. A falta de detalhamento, no entanto, não permite que ele seja cobrado futuramente caso seja reeleito. "São instrumentos de política socioambiental importantes, que estavam em discussão, inclusive, em âmbito nacional, medidas essenciais. Mas no plano de governo aparecem de forma bastante vagas."

Questionada, a campanha do prefeito não comentou sobre as críticas ao plano. Informou que a cidade é "uma das poucas capitais do mundo com Secretaria de Mudanças Climáticas". Em agendas de campanha, o prefeito menciona a urbanização em áreas de mananciais e a desapropriação de matas privadas. "Vou torná-las matas públicas. Estou desapropriando 11% do território da cidade", afirmou na terça-feira (10) no Grajaú. "Isso representa o tamanho de Paris. Passaremos a ter 26% do território da cidade de mata pública."

Ele também citou a adoção de tecnologia para combater incêndios. "Câmeras que detectam calor. Onde tem início de incêndio, aquela câmera detecta foco de calor e a gente já tem a nossa brigada preparada para ir lá e combater o incêndio", disse.

Nós tínhamos 48% de área de cobertura vegetal na cidade, hoje vamos para 54% (...) São Paulo é um exemplo para o Brasil e o mundo.
Ricardo Nunes, prefeito e candidato à reeleição

Pablo Marçal (PRTB)

Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo Imagem: Gabriel Silva - 22.ago.2024/Estadão Conteúdo

Pablo Marçal dedica cinco itens para o meio ambiente.

Duas de suas propostas podem melhorar a qualidade do ar, mas também não se aprofunda. Ele menciona os mananciais no item "Limpeza do Tietê e mananciais", mas dedica o tópico apenas à limpeza do rio. Ele também promete "reutilização e reciclagem de recursos".

Para Pantoja, as propostas de Marçal "são muito superficiais". "São divagações e orientações gerais, algumas levianas", afirma. "Por que a limpeza do Tietê é atribuição do governo do Estado."

Procurada, a assessoria do candidato não respondeu até a publicação da reportagem.

Guilherme Boulos (PSOL)

Guilherme Boulos (PSOL), candidato a prefeito de São Paulo Imagem: Bruno Luiz/UOL

Uma das promessas de Boulos é reduzir a poluição emitida por veículos. Seu programa promete renovar a frota de carros da prefeitura e 50% dos ônibus da cidade, que passariam a ser híbridos ou totalmente elétricos. Hoje, dos 13 mil ônibus da cidade, 179 são elétricos, segundo a SPTrans.

A medida pode melhorar a qualidade do ar, diz Igor Pantoja, da Rede Nossa São Paulo. "Carros, ônibus e caminhões são alguns dos principais emissores dos gases de efeito estufa", diz ele.

Boulos também prevê construir parques lineares, parques tradicionais e corredores verdes. "Significa aumentar a cobertura vegetal em áreas públicas, plantar árvores em praças e principalmente nas ruas, avenidas e marginais porque hoje as árvores estão concentradas em poucos bairros", diz Pantoja, segundo quem os parques lineares, mesmo com vegetação rasteira, "ajudam no sequestro de carbono".

Boulos promete ainda "universalizar a coleta seletiva" de lixo. O programa quer aumentar a parceria com cooperativas e catadores, criar centros de triagem para separar material reciclável e estimular a compostagem de resíduo orgânico. A reciclagem reduz o envio de lixo aos aterros sanitários. "A compostagem do material orgânico reduz a emissão de metano pelos aterros. O restante, é reciclado", explica o especialista.

Indiretamente, a recuperação de mananciais também pode melhorar a qualidade do ar. Sem entrar em detalhes, o programa fala em "readequação ambiental dos assentamentos". Ele fala das milhares de casas construídas perto de represas, onde antes eram árvores. "Mas esse é um programa que já existe", diz Pantoja. "Boulos poderia informar sobre isso e dizer que deseja dar continuidade."

O programa de psolista para o meio ambiente, com apenas cinco parágrafos, é superficial. "Não tem detalhamento", diz o especialista. "De onde vêm os recursos? Quais as parcerias que podem ser feitas? Nada disso é mencionado."

O programa deveria estar conjugado a outros temas: relacionar o meio ambiente com a saúde, desenvolvimento econômico. Tem muita coisa que não está no plano.
Igor Pantoja, da Rede Nossa São Paulo

Procurada, a assessoria de Boulos afirma que as 119 propostas são "diretrizes". Afirma que os grupos de trabalho "elaboraram relatórios mais detalhados, que vão ajudar a balizar a construção das metas e potenciais parcerias".

Sobre a falta de detalhes no plantio de árvores, a campanha informou alguns números. A ideia é "criar 200 km de corredores verdes", como da cidade colombiana de Medellin, cuja medida "reduziu em 2°C a temperatura da cidade". "Também pretendemos plantar 6,9 milhões de árvores (...) e manter um banco de dados sobre a saúde de cada uma", diz.

O candidato preferiu não se comprometer com o número de readequações de assentamentos em área de manancial. "A ideia é estudar caso a caso, até porque as informações a esse respeito estão desatualizadas."

Tabata Amaral (PSB)

Tabata Amaral (PSB), candidata à Prefeitura de São Paulo Imagem: Renato Pizzutto/Band

A candidata quer implementar um sistema de fiscalização ambiental. O foco da medida, diz o plano, é proteger áreas verdes produtoras de água, em parceria com o Estado, "com o aprimoramento do uso de tecnologias e ações imediatas para impedir desmatamentos, novas invasões e loteamentos irregulares".

Tabata propõe criar novos parques em regiões periféricas. A proposta visa "a proteção das áreas verdes e produtoras de água, a ampliação das áreas de lazer para a população e de refúgio para a fauna silvestre".

Candidata também quer implementar "Política Municipal de Energia Limpa e Solar". O plano prevê a implantação de energia solar em prédios públicos e habitações sociais, além de "promover o incentivo a outras fontes de energia limpa, especialmente as provenientes de resíduos sólidos".

Ela pretende ainda montar grupo para prevenir eventos climáticos e incêndios. O chamado "Grupamento Climático" seria implementado na Controladoria Geral do Município, com estrutura e treinamento especial "para o trabalho em ocorrências de deslizamento, desmoronamento, enchentes, incêndios e calor extremo".

As propostas de Tabata dialogam com as diversas raízes do problema da poluição urbana, diz Fernando Túlio, diretor do Instituto ZeroCem e professor de Arquitetura e Desenho Urbano da ETH Zurique. "A candidata aponta a necessidade de ampliação e qualificação do transporte público e da mobilidade ativa, a ampliação da infraestrutura verde, a geração de energia renovável e a gestão de resíduos sólidos."

Seu plano, porém, não "quantifica tais propostas, o que seria desejável". "Por exemplo: quantos quilômetros de corredores de ônibus seriam construídos? Quantos quilómetros de ciclovias? Para isso ela poderia se basear em planos municipais que já existem, mas muitas vezes ficam apenas no papel", complementa Túlio.

Campanha de Tabata diz que plano de governo serve para nortear gestão. Procurada pelo UOL, a equipe da candidata afirmou que metas mais concretas serão construídas no início do mandato, caso ela se eleja. Tabata também disse que o plano dela é entregar 200 quilômetros de ciclovias e conectar a malha já existente. Quando aos corredores de ônibus, o compromisso é "entregar o que a gestão Nunes não entregou" — segundo o plano de metas da prefeitura, foram concluídos 6,8 quilômetros dos 40 prometidos pelo prefeito.

Candidata do PSB diz não haver "solução mágica" para a qualidade do ar. Para mitigar os efeitos da poluição no curto prazo, a equipe de Tabata afirma que vai atuar com campanhas de conscientização, orientações sobre o uso de máscaras e umidificadores a depender da qualidade do ar e reforço nos serviços de atendimento à saúde respiratória. A campanha diz que também vai fortalecer GCM ambiental para ser "implacável" contra queimadas.

José Luiz Datena (PSDB)

José Luiz Datena, candidato à Prefeitura de São Paulo Imagem: Mariana Pekin/UOL

Candidato do PSDB promete a ampliação do transporte sobre trilhos para melhorar a qualidade do ar. Datena diz que vai tirar do papel o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) do centro e planeja incentivos à eficiência energética e ao uso de energias renováveis, como a solar, em prédios públicos, além de ampliar o uso do biogás gerado em aterros para a produção de energia elétrica.

Datena quer triplicar a reciclagem de lixo e implantar ecopontos em cada distrito. A proposta para o manejo de resíduos sólidos, de maneira genérica, inclui o apoio a catadores de lixo, campanhas de conscientização da população e a ampliação de usinas de compostagem.

Arborização e drenagem proposta por Datena têm foco na periferia da cidade. O tucano afirma que pretende plantar árvores nativas e criar novos parques lineares ao longo de rios e córregos e jardins de chuva para aumentar a permeabilidade do solo. Ele também defende a ampliação do programa Córrego Limpo para implantar, em parceria com a Sabesp, barreiras para conter resíduos sólidos em leitos de rios.

Para Pantoja, as propostas são boas, mas faltam detalhes de como serão colocadas em prática. "Parece que ele parou de escrever na primeira página." Para o especialista, o plano se assemelha mais a uma "carta de apresentação".

A campanha de Datena não se manifestou até o fechamento desta reportagem. O UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa do candidato do PSDB, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto para manifestação.

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