OPINIÃO
'Feito uma fdp': Marçal conseguiu o feito de tirar Tabata Amaral do sério
Matheus Pichonelli
Colunista convidado
24/09/2024 10h59
Pablo Marçal (PRTB) conseguiu até aqui o maior feito da campanha: tirou Tabata Amaral (PSB) do sério.
Sim. Uma coisa é irritar até ser agredido por José Luiz Datena (PSDB). Quem o conhece desde os tempos de repórter esportivo sabe também das oscilações de humor de quem há anos assiste e narra em looping todo tipo de desgraça da cidade e do país.
Guilherme Boulos (PSOL) também já foi testado. Mais de uma vez teve que contar até dez para não tirar a carteira de trabalho e os dentes do ex-coach quando chamado de vagabundo.
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Até Ricardo Nunes (MDB), todo tímido, já entrou em parafuso e gritou com o oponente.
Mas Tabata, não.
Até ontem ela respondia com a paciência de um monge tibetano todo tipo de provocação do palhaço da campanha. E olha que não foram poucas —até mesmo a morte do pai dela, por suicídio, foi trazida à tona pelo candidato do PRTB.
O pedido de perdão, apresentado por ele semanas depois, soou mais como deboche e armadilha do que um ato de contrição genuíno.
Tabata ignorava ou respondia com peças de campanha afiadas sobre o histórico criminoso do oponente. Sempre, claro, respeitando a norma culta.
A ordem era assim desde o início da campanha: o menino do fundão jogava tarrachinha e bolinhas nas costas dos coleguinhas; ela seguia anotando a lição, levando maçã para os professores e colecionando estrelinhas.
Mas a pancadaria ao fim do debate do Flow Podcast, nesta segunda-feira (23), foi demais para a aluna mais aplicada da sala.
Faltavam só dez segundos para o sinal tocar quando Marçal resolveu rasgar a fantasia de cordeiro e assumir o papel de lobo que promete devorar o prefeito Ricardo Nunes.
Foi repreendido duas vezes pelo mediador, o jornalista Carlos Tramontina. Fez bico, ameaçou gastar o tempo de exposição do trabalho em silêncio, mas no fim esperneou, foi expulso, acendeu a fagulha do barril de pólvora instalado no recinto e a tensão chegou até os assessores.
O resto é história, contada por um marqueteiro com o rosto sangrando e um segurança do ex-coach fugindo em disparada.
Tabata, que vislumbrava uma nota 10 com méritos na fala final, acordou do sonho metamorfoseada em uma pequena Dercy Gonçalves.
"Sabe qual é a merda maior?", vociferou ao fim do encontro. "Eu tava lá feito uma filha da puta falando das minhas propostas, fazendo um debate sério, e eu tenho certeza que só vão falar de soco, não vão comparar as propostas."
Nem os estalos ouvidos minutos antes no estúdio provocaram tanto choque.
No auge da irritação, ela desenhou uma teoria da conspiração: "Colocaram o Pablo Marçal para que a gente não visse as merdas que estão acontecendo em São Paulo".
A teoria não é de todo inverossímil.
Mas a única tese testada e comprovada no momento é a do pombo enxadrista: ele derruba as peças, suja todo o tabuleiro e se vangloria de ter vencido um jogo que nada mais tem a ver com xadrez.
De quebra, leva todo mundo a falar a mesma língua que ele na cena final.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL