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Com jogo duplo de Bolsonaro, Curitiba vira termômetro da direita para 2026

Katna Baran

Colaboração para o UOL, em Curitiba

14/10/2024 05h30Atualizada em 14/10/2024 13h25

A campanha de segundo turno em Curitiba vem esquentando o debate político nacional, principalmente pela posição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que declarou torcida à jornalista estreante nas urnas Cristina Graeml (PMB). O PL, porém, formalmente compõe a chapa do rival, o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD).

O que aconteceu

A postura de Bolsonaro arrancou críticas de um de seus principais aliados, o pastor Silas Malafaia. Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo na terça-feira (8), ele afirmou que o "jogo duplo" sinaliza que o ex-presidente não é confiável em seus apoios.

Em entrevista ao UOL, na terça, Cristina disse que Bolsonaro foi quem insistiu na aliança ainda na pré-campanha "A chapa do PSD tem o PL de vice, o que não significa um acordo do PL nacional. O que foi divulgado, pelo menos aqui, foi um acordo local. Acho que o que aconteceu é que o presidente Bolsonaro ficou muito insatisfeito de ter ficado de fora dessa decisão", afirmou.

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Ela aproveitou para citar que o candidato a vice de Pimentel, Paulo Martins, é vinculado ao grupo do governador Ratinho Jr. (PSD). O governador, diz, "não é próximo de Bolsonaro", pois está em "franca campanha para ser presidenciável" em 2026.

O senador Flávio Bolsonaro disse que Graeml é "mais de direita" que o opositor. A declaração ocorreu em entrevista ao colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, nesta quarta-feira (9).

As falas dão o tom da campanha municipal, que pode ser decisiva para o futuro político do governador. O partido dele, liderado pelo ex-ministro Gilberto Kassab, foi o que mais elegeu prefeitos no primeiro turno e ameaça o PL como grande legenda da direita nacional.

Depois de uma virada galopante sobre políticos tradicionais, Graeml tem buscado corpo para o segundo turno, para além dos cinco minutos de propaganda eleitoral. De um partido nanico, sem coligações, ela exalta não usar dinheiro do fundo partidário, e até agora soma pouco mais de 4% da verba eleitoral do seu concorrente.

A jornalista tem dito que quer um auxílio maior do candidato derrotado em São Paulo Pablo Marçal (PRTB), a quem é comparada pela posição de "direita raiz" e "antissistema". No semana do primeiro turno, ele gravou um vídeo com Cristina. Não é descartado ainda o apoio do senador Sergio Moro (União) e de sua esposa, Rosângela, candidata a vice-prefeita ao lado de Ney Leprevost (União), quarto colocado na eleição.

Do outro lado, Pimentel somou o PP à campanha. A candidata do partido, Maria Victoria, filha do ex-ministro Ricardo Barros, ficou na sexta posição na disputa. Terceiro colocado, Luciano Ducci (PSB), da coligação com o PT, assumiu neutralidade no segundo turno.

Graeml tem divulgado um formulário convocando voluntários, seja para pedir votos ou contribuir com doações e serviços. Na cidade, já é possível ver novos comitês de campanha do PMB. Nas redes, os ataques, já comuns no primeiro turno, concentraram o alvo em Pimentel, citado como representante da "dinastia" política de Curitiba. O lema adotado para o segundo turno é "Curitiba direita e sem donos".

Se o dinheiro é um limitador, o engajamento dos apoiadores se mantém. Acompanha o fenômeno Marçal em São Paulo, como têm observado os próprios políticos tradicionais locais. Enquanto a jornalista tem 649 mil seguidores no Instagram, gerando milhares de compartilhamentos, Pimentel tem 70 mil.

Entre aliados de Pimentel, há quem defenda um novo rumo, buscando eleitores de esquerda. Acreditam que o campo de direita e extrema direita, especialmente os bolsonaristas fiéis, dificilmente deve abandonar Graeml e pode até migrar o voto para ela. Com a volta do X, antigo Twitter, onde ela tem 571 mil seguidores, o temor é de alcance ainda maior.

Um dos políticos apontou que as campanhas tradicionais, como a de Pimentel, ainda não aprenderam a usar as redes sociais como os novos nomes da direita. A popularidade nesse meio ajudou a eleger ao menos cinco vereadores em Curitiba nesta eleição.

Algumas mudanças já são sentidas, como no slogan de Pimentel. No primeiro turno, ele usava "Tá preparado" e, agora, "Curitiba unida e para frente". As redes também incorporaram cores mais vibrantes e passaram a criticar diretamente a suposta falta de propostas de Cristina direcionadas às mulheres e temas como bem-estar animal.

O termômetro deve ser melhor sentido a partir desta segunda-feira (14), quando sai o resultado da primeira pesquisa de segundo turno. Consultas internas de candidatos já apontam para uma disputa ainda mais acirrada do que no primeiro turno.

Nos bastidores, a estratégia é de ataque mútuo. O diretório municipal do Cidadania acusa Cristina de falsidade ideológica eleitoral por omitir da declaração de bens a participação em uma empresa com capital social de R$ 60 mil, em Cachoeira Paulista (SP). Nesta quinta-feira (10), o juiz Irineu Stein Júnior encaminhou o caso ao juiz Eleitoral de Garantias. Procurada, a assessoria de Graeml não respondeu os questionamentos.

De outro lado, a Justiça Eleitoral pediu explicação e encaminhou ao Ministério Público a denúncia de coação de funcionários da prefeitura no primeiro turno, em prol de Pimentel. O caso foi revelado pelo Metrópoles com a divulgação de gravações de servidores comissionados sendo supostamente forçados a doar para a campanha por meio da compra de ingressos para um jantar promovido pelo PSD.

Em resposta, o superintendente gravado foi demitido. Pimentel afirmou que ele agiu por conta própria e que não havia nenhuma instrução da campanha.

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