Nunes e Boulos trocam acusações, atacam Enel e ensaiam abraço em 1º debate
Do UOL, em São Paulo*
15/10/2024 00h25Atualizada em 15/10/2024 03h59
O primeiro debate do segundo turno entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) na noite desta segunda (14) foi marcado pelo apagão na cidade e por alfinetadas entre os adversários, que chegaram a ensaiar um abraço.
O que aconteceu
Boulos cobrou Nunes de ações da prefeitura durante apagão, e prefeito afirmou que trabalhou dia e noite. Ambos defenderam a saída da Enel, que em último boletim disse que 340 mil imóveis seguem sem luz na capital. A falta de energia elétrica atinge a cidade desde a sexta-feira (11).
Lula e Bolsonaro foram citados por candidatos em troca de acusações sobre responsabilidade pela falta de luz. O emedebista disse que cabe ao governo federal encerrar o contrato com a Enel. Já o psolista afirmou que quem deve ser cobrado é o presidente da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Sandoval Feitosa, indicado pelo ex-presidente.
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Debate teve modelo de banco de tempo e trânsito livre dos candidatos pelo estúdio. Isso permitiu que concorrentes se confrontassem frente a frente e, em alguns momentos, chegassem a se tocar. O primeiro confronto do segundo turno durou uma hora e meia e foi promovido pela Band.
Boulos desafiou Nunes a abrir sigilo bancário ao citar investigações da máfia das creches. O emedebista afirmou que tem uma "vida limpa", mas não respondeu ao questionamento do rival.
Os candidatos discutiram ainda sobre filas na saúde, insegurança, mobilidade e propostas para lidar com o problema da população em situação de rua. Nunes e Boulos responderam a perguntas de jornalistas da Band — mesmo nesses momentos, eles trocaram alfinetadas. Os adversários também acenaram aos eleitores de Pablo Marçal (PRTB) com propostas para motoristas e entregadores de aplicativo, além de empreendedores e taxistas.
Nunes abraçou Boulos em troca de acusações. Enquanto o emedebista falava, o psolista se aproximou do adversário, que se desconcentrou e olhou para o lado. "Você tá bem?", disse o prefeito, ao abraçar o deputado. "Eu tô bem, e você, tudo firme?", respondeu Boulos. "Você não vai me intimidar", afirmou Nunes. "Jamais", rebateu o adversário. "Vim da periferia do Parque Santo Antônio, não tenho medo de nada, só de Deus", disse o emedebista.
Fora das câmeras, a equipe de Nunes reclamou da aproximação de Boulos, dizendo que o adversário burlou as regras. A reportagem do UOL registrou que todos os seguranças que estavam nos bastidores foram para o estúdio nesse momento. Antes de começar o debate, os candidatos se cumprimentaram — atitude que não ocorreu nos encontros do primeiro turno.
Boulos agradeceu o apoio de Tabata Amaral (PSB) no segundo turno, já Marçal que conquistou 28,14% não foi citado pelos candidatos. De acordo com o Datafolha divulgado na quinta (10), 84% dos eleitores do ex-coach declararam voto em Nunes.
O que os candidatos disseram
É inaceitável o que essa empresa Enel tem feito com a cidade de São Paulo. É inaceitável que o governo federal não tenha feito nada desde novembro do ano passado.
Ricardo Nunes
Não adianta dizer que o problema é do vento, que o problema é do Lula, que o problema é de não sei quem. Assuma as responsabilidades.
Guilherme Boulos
As pesquisas fizeram mal pro Guilherme Boulos. Como ele tá muito longe de mim, eu tô muito na frente, a rejeição dele mais de 50%, entrou no modo desespero.
Nunes
Nunes mostra que um prefeito pode ser fraco e ao mesmo tempo arrogante. Olha o tamanho da arrogância, porque está na frente de uma pesquisa sobe em cima do salto e acha que já ganhou.
Boulos
Apagão dominou primeiro bloco
Em meio aos ataques, Nunes e Boulos tiveram um ponto em comum no debate: defenderam a saída da concessionária da capital paulista. "É inaceitável o que essa empresa tem feito com a cidade de São Paulo", disse o candidato à reeleição. "Vou tirar a Enel, porque pra tirar a Enel de São Paulo precisa ter um prefeito com pulso", afirmou o psolista.
Boulos usou termos como "cara de pau", "mentiroso" e "vacilante" para se referir a Nunes ao criticá-lo pela atuação diante do apagão. O candidato do PSOL falou que ficou sem energia de sexta à noite até domingo em sua casa, no Campo Limpo.
Ricardo, você gosta de mentir e não fica nem vermelho. Não sei se é a maquiagem que você passou antes do debate. Você assumiu que a responsabilidade de poda é de responsabilidade da prefeitura. Você que está assistindo, está se sentindo satisfeito?
Boulos
Nós diminuímos o tempo de espera. Mais de 70 horas, aconteceu na sexta, hoje é segunda e tem 109 árvores que ainda estão atrapalhando o trânsito, porque a Enel não vai lá desligar [a energia]. Você veio aqui para defender a Enel, eu lamento. Eu quero a Enel fora daqui.
Nunes
Candidatos trocaram farpas sobre experiência pública. "A experiência pesa. Por isso que eu estou bem na pesquisa e você não está", disse Nunes. "Essa experiência sua, cheia de suspeita de corrupção, incompetência, essa eu quero longe de mim", respondeu Boulos.
Rachadinha X máfia das creches
Investigações que foram usadas por adversários no primeiro turno voltaram à tona. Enquanto era pressionado a falar do apagão, Nunes questionou Boulos sobre a suposta rachadinha de André Janones (Avante-MG). O psolista, por sua vez, citou a investigação da Polícia Federal sobre a máfia das creches.
Nunes afirmou ter uma "vida limpa" e Boulos disse que a prática da rachadinha é crime. A plateia, formada por assessores e integrantes dos partidos, se manifestou e foi repreendida pelo mediador.
Você abre seu sigilo bancário pra gente ficar claro, podemos fazer esse trato aqui hoje no debate? Não é questão de polícia. É abrir, é questão de transparência com a população.
Boulos
Se você quer ser policial, você precisa prestar um curso, porque pra prefeito você não vai ser não.
Nunes
Vices na reta das acusações
Os vices coronel Mello Araújo (PL), de Nunes, e Marta Suplicy (PT), de Boulos, também apareceram nas trocas de acusações. O candidato à reeleição associou Marta à criação de taxas quando ela foi prefeita da cidade. Ao final do debate, a assessoria do emedebista disse que o candidato se referia ao ministro Fernando Haddad (PT), cuja a gestão na cidade de 2013 a 2016 foi atacada por Nunes ao longo do confronto.
Você sabe que tem pessoas ligadas a você que têm apelido voltado à questão de impostos e taxas. Eu eliminei taxa, reduzi impostos, aumentei o orçamento, gerei emprego e renda. Por que vocês são a favor de aumentar impostos?
Ricardo Nunes
Boulos relembrou declaração de Mello Araújo sobre a atuação da polícia nas periferias e nos Jardins. Em entrevista ao UOL quando assumiu comando da Rota, ele disse que a abordagem policial precisava ser diferente. "O policial tem que se adaptar àquele meio que ele está naquele momento", afirmou à época.
Agora, queria saber da história dos familiares das oito pessoas que o coronel Mello responde por homicídio quando estava na Rota. Mas você não respondeu à pergunta: você defende que a polícia trate diferente o morador da periferia dos jardins, como ele disse, ou você discorda do seu vice?
Guilherme Boulos
Debate UOL com Folha e RedeTV!
Na quinta-feira (17), UOL, Folha e RedeTV! realizarão o segundo debate entre os candidatos. O encontro está marcado para às 10h20 e será transmitido nos canais do UOL.
Segundo Datafolha, Nunes tem 55% das intenções de voto contra 33% de Boulos. O segundo turno está marcado para ocorrer no próximo dia 27.
Participam desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Bruno Luiz, Fabíola Perez, Laila Nery e Saulo Pereira Guimarães, do UOL, em São Paulo