Boulos pergunta se Nunes abriria sigilo bancário, e prefeito não responde
Do UOL*, em São Paulo
15/10/2024 00h12Atualizada em 15/10/2024 02h01
Guilherme Boulos (PSOL) insistiu ao longo de três blocos na pergunta se Ricardo Nunes (MDB) abriria seu sigilo bancário. O prefeito não respondeu se aceitava a proposta e rebateu que tem "vida limpa". O embate ocorreu durante debate entre candidatos a prefeito de São Paulo que vão disputar o 2º turno, realizado pela TV Bandeirantes nesta segunda-feira (14).
O que aconteceu
Boulos disse que abre seu sigilo bancário e desafiou Nunes a abrir o dele também. Nunes havia dito que o deputado federal não trabalha. "Já que você está falando e colocou questões de trabalho e está dizendo que com você está tudo certo, eu abro agora o meu sigilo bancário da minha conta. Você abre o seu? Te desafio para abrir [o seu sigilo]", questionou Boulos.
A pergunta de Boulos faz referência à investigação sobre corrupção em creches. O candidato do PSOL havia citado o caso no debate. O prefeito teria recebido um cheque em sua conta. Este ano, a Polícia Federal concluiu que a relação de Nunes com o caso é "suspeita" e pediu continuidade de investigação contra prefeito.
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Nunes não respondeu e Boulos insistiu: "Você abre [o sigilo] para São Paulo saber se você de fato é limpo, como está dizendo que é?" O atual prefeito chegou a dizer que o adversário estava desesperado. "Olha, chega a dar o ridículo. Ele está desesperado, 58% de rejeição, não vai ganhar nada, vai perder mais uma."
Boulos destacou que Nunes não respondeu: "Acabou o tempo dele". "Vamos ver se no bloco seguinte ele responde se abre o sigilo. Eu abro o meu, já que você não tem nada a esconder. Abre o seu sigilo, Ricardo. Faça isso. Cuidado, fica calmo, fica tranquilo. Mas abre o seu sigilo.
No terceiro bloco do debate, Boulos voltou à pergunta e Nunes afirmou ter "a vida limpa". "Não sou investigado em nada, tenho uma vida absolutamente limpa, sou empresário. Não tem absolutamente nada de errado na minha vida. Se você quer ser policial, precisa prestar concurso." O UOL registrou Regina Carnovale Nunes, esposa de Nunes, que estava na plateia, gesticulando e dizendo que Nunes deveria aceitar abrir o sigilo.
Boulos sugeriu que, após o debate, ele e Nunes assinassem com advogados a abertura dos sigilos. Nunes desconversou e pediu para "falar da cidade".
Você topa abrir seu sigilo bancário, da sua conta do Santander, das contas de todas as suas empresas. Se topar, a gente já chama o advogado no fim do debate, assina, eu abro o meu, abro o seu amanhã, tá certo isso?
Guilherme Boulos (PSOL), candidato a prefeito de São Paulo
Você quer criar um factoide. Vamos falar da cidade.
Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo e candidato à reeleição
Não quer abrir o sigilo bancário, eu acho que fica claro, quem não deve não teme, quem deve teme.
Guilherme Boulos (PSOL), candidato a prefeito de São Paulo
Investigações da Polícia Federal
A PF concluiu em julho que houve um esquema de desvio de verbas em creches em São Paulo. A informação consta de relatório de julho deste ano. As creches são envolvidas são administradas por organizações sociais.
Segundo a PF, existem suspeitas de lavagem de dinheiro contra Nunes. E recomendou a continuidade das apurações.
A PF identificou um repasse suspeito para a conta de Nunes. A transferência teria sido feita por meio de dois cheques em fevereiro de 2018, quando Nunes era vereador de São Paulo. De acordo com a PF, o pagamento foi feito por uma empresa que é suspeita de emitir notas frias referentes a serviços nunca foram prestados para ONGs que fazem parte do suposto esquema de desvio de verbas.
Um pessoa investigada pela PF afirmou à Folha de S. Paulo que Nunes recebeu repasses de verbas municipais desviadas do ensino infantil. As declarações foram feitas em vídeo por Rosângela Crepaldi, que trabalhava na empresa que fez os cheques para Nunes.
Uma empresa da família de Nunes também recebeu pagamentos de uma associação que administra creches e de uma empresa fornecedora. A Acria repassou recursos para a Nikkey Serviços, empresa de controle de pragas, cujas sócias são a esposa e a filha do prefeito. A mesma empresa que fez os cheques para Nunes também pagou a Nikkey.
Investigações apontam relações entre a associação e Nunes. A presidente da Acria foi funcionária da Nikkey. Outras três pessoas da direção da associação já trabalharam como assessoras de gabinete de Nunes na Câmara Municipal.
O prefeito nega irregularidades.
É suspeita essa relação do então vereador Ricardo Luis Reis Nunes, atual prefeito de São Paulo, com uma das principais empresas atuante do esquema criminoso de desvio de verba pública do município de São Paulo, que movimentou a quantia de R$ 162.965.770,02 no período do afastamento bancário, como também a OSC (Organização da Sociedade Civil) Acria.
Relatório da Polícia Federal de julho de 2024
* Participam desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Bruno Luiz, Fabíola Perez, Laila Nery e Saulo Pereira Guimarães, do UOL, em São Paulo