Fascismo: o que é, como surgiu e o que defende
O termo "fascismo" voltou a ser usado cotidianamente em discussões na internet e tem sido foco de atenção em meio a medidas e declarações polêmicas feitas por diferentes líderes governamentais ao redor do globo.
Mas o que significa ser fascista? O que este movimento defende? Ainda existem partidos fascistas na Itália, país em que surgiu? E no Brasil, como funciona? Entenda a seguir:
Dúvidas sobre fascismo
O que é fascismo?
É um movimento político ultranacionalista e armamentista surgido na Itália no início do século 20. O fascismo prega um Estado forte e paramilitar, geralmente ligado a uma identidade étnica, com rejeição a outras culturas e vinculado à imagem de um líder.
O termo "fascista" é usado, hoje, de forma pejorativa pelo mundo para designar movimentos de extrema direita que flertem com algumas das ideias promovidas pelo fascismo italiano ou pelo nazismo alemão no século passado.
O que o fascismo defende?
O fascismo defende o conceito de identidade única de um povo — em sua origem, o italiano — por meio de um Estado soberano e militarizado.
Em discursos fascistas, é comum ver a defesa de uma nação única, com rejeição à pluralidade interna ou à influência de culturas estrangeiras.
Quais são os princípios fundamentais do fascismo?
No livro "Fascistas", o sociólogo norte-americano Michael Mann cita cinco características fundamentais a todos os regimes fascistas e seus apoiadores:
- Nacionalismo (patriotismo exacerbado);
- Estatismo (Estado forte, paramentado e soberano);
- Transcendência (misticismo quanto ao discurso e às ações do líder);
- Expurgos (uso da violência, e não da razão pelos apoiadores);
- Paramilitarismo (Exército operante e influente dentro do Estado).
Onde surgiu o fascismo e quem o liderou?
O movimento fascista nasceu na Itália em março de 1919, quando Benito Mussolini fundou o Grupo Italiano de Combatentes (FIC), que viraria o Partido Nacional Fascista (PNF), uma organização paramilitar de cunho nacionalista que unia em especial ex-combatentes da Primeira Guerra Mundial, homens desempregados e jovens.
Em outubro de 1922, o grupo promoveu um golpe de Estado, na chamada Marcha Sobre Roma, colocou Mussolini no poder e instituiu o primeiro Estado oficialmente fascista no mundo.
Quando acabou o fascismo na Itália?
O fascismo passou 23 anos no poder na Itália: do golpe de Estado em 1922 até a morte de Mussolini, em abril de 1945, no final da Segunda Guerra.
Oficialmente, o partido fascista foi banido do país em 1947. Hoje, há grupos políticos no país que se aproximam dos conceitos fascistas, mas sem usar o nome diretamente.
O que é antifascismo e antifascista?
Antifascismo é o movimento que luta contra o fascismo. O primeiro grupo antifascista organizado também surgiu na Itália, em 1921.
O Arditi del Popolo tinha como símbolo um machado rompendo os fasces, a machadinha símbolo do fascismo. Atualmente, há movimentos autodenominados antifascistas em todo o planeta.
O que foi o fascismo no Brasil?
Oficialmente, nunca houve um partido fascista no Brasil. Por aqui, o movimento que mais se aproximou do fascismo no século 20 foi a Ação Integralista Brasileira (AIB), criada por Plínio Salgado em 1932.
O grupo tinha uniforme próprio, exaltava símbolos nacionais e usava o grito "Anauê", em tupi, com o braço direito levantado e a mão estendida.
Quais são as consequências do fascismo?
Quando chega ao poder, o fascismo cria Estados paramilitares e ditatoriais que cerceiam a liberdade dos cidadãos e pregam perseguição às chamadas minorias.
"O fascismo faz o Estado para a chamada maioria. Mas essa maioria não é numérica, é a elite branca. As chamadas minorias são perseguidas e muitas vezes excluídas ou caladas no ciclo social", afirma a antropóloga Adriana Dias, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Qual a diferença entre nazismo e fascismo?
Ambos são ideologias de direita, paramilitares e ultranacionalistas. Porém, de acordo com a antropóloga Dias, há duas diferenças básicas entre nazismo e fascismo.
Ela explica que o nazismo já nasce como movimento eugenista e antissemita, características que não estão na base do fascismo. Na Itália, por exemplo, a perseguição a judeus só ocorre após a aliança com a Alemanha na Segunda Guerra Mundial.
O nazismo é mais organizado. "Os nazistas sempre foram muito hábeis em registrar o que fizeram. Havia uma compulsão em registrar tudo, com uma máquina burocrática bem estruturada. Já o fascismo é mais desorganizado, orgânico", comenta a pesquisadora da Unicamp.
Fascismo e comunismo são a mesma coisa?
Não. Fascismo é um movimento político ligado à direita, enquanto comunismo está no espectro oposto, à esquerda. Comunismo é o estágio final de um processo revolucionário, em que a propriedade dos meios de produção é transferida aos trabalhadores.
Em sua essência, o comunismo prega a abolição do Estado e o fim das classes sociais, sem discurso ultranacionalista. Já o fascismo defende um Estado forte e a manutenção da estratificação social.
O que diferencia o fascismo, nazismo e stalinismo?
Além de fascismo e nazismo serem de direita, são ideologias políticas, enquanto stalinismo, à esquerda, refere-se ao período em que Josef Stalin comandou a União Soviética, entre 1924 e 1953. Stalin sucedeu Lenin e desrespeitou conceitos originais da formação da URSS. Durante o stalinismo, houve aumento da burocratização do serviço público e do autoritarismo de Estado, a partir de 1927.
A pesquisadora Dias explica que, diferentemente de fascismo e nazismo, o stalinismo não pretendia promover mortes. "Houve genocídios por meio da fome, mas como erro do Estado burocrático. Não era o objetivo do Estado de Stalin matar camponeses, enquanto o nazismo já nasce com este desejo de matar. Não é que [o período] foi bom. Não foi, mas é diferente."
O que é fascismo social?
O conceito, cunhado pelo pesquisador português Boaventura de Sousa Santos, aborda o fascismo desenvolvido no meio social sem que haja sua imposição por meio do Estado.
Fala, basicamente, da estruturação de relações sociais fascistas em meio a um Estado democrático.
O que significa a bandeira de origem ucraniana usada em protestos?
A bandeira rubro-negra tem origem ancestral na Ucrânia, mas hoje é usada por grupos de extrema direita. Segundo a embaixada da Ucrânia no Brasil, as cores simbolizam "nossa terra e o sangue de nossos heróis", enquanto o tridente, brasão oficial do Estado desde 988, simboliza a Santíssima Trindade.
Atualmente, no entanto, esta bandeira é um dos símbolos do partido ultranacionalista e de extrema direita Pravy Sektor e faz referência a soldados ucranianos que lutaram ao lado da Alemanha nazista contra os Aliados na Segunda Guerra.