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Enviado especial dos EUA ao Quirguistão pede investigação internacional sobre onda de violência

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

18/06/2010 09h00

Violência aumentou no Quirguistão após queda do presidente; entenda a crise

Em abril, depois de elevar preços de energia, o presidente Kurmanbek Bakiev foi pressionado por manifestações até abandonar o poder. Assumiu interinamente a ministra de Relações Exteriores, Roza Otunbaieva, que convocou eleições para dali a seis meses. Um referendo sobre a nova constituição está previsto para o dia 27 de junho, que, se aprovado, dá mais poder ao Parlamento. O objetivo é evitar a concentração de poder em única pessoa ou família. Há suspeitas de que a família de Bakiev, alijada do poder, esteja por trás da violência para desestabilizar o governo em exercício.

O secretário-assistente de Estado americano Robert Blake pediu, em viagem ao Quirguistão nesta sexta-feira (18), pediu uma investigação internacional sobre a onda de violência no pais. "Os Estados Unidos estão muito preocupados com a violência no Quirguistão", disse o secretário-assistente.

Blake pediu também que o governo provisório do país contenha os grupos responsáveis pelos ataques.

A violência no Quirguistão pode ter afetado 1 milhão de pessoas, segundo cálculo divulgado hoje organismos humanitários da ONU, que já estão planejando suas operações de ajuda com base nesse número de vítimas.

O representante da Organização Mundial da Saúde (OMS), Giuseppe Annunziata, assinalou que a instituição está elaborando seus planos futuros de assistência sanitária em função dessa estimativa.

"São números de planejamento. Estamos nos preparando para o que possa ocorrer nas próximas semanas", ressaltou.

A porta-voz do Unicef, Christiane Berthiaume, coincidiu em que aproximadamente 1 milhão de pessoas necessitarão de ajuda no Quirguistão.

Esse número incluirá os deslocados internos, os refugiados no Uzbequistão e as comunidades locais que estão acolhendo as vítimas da violência.

Por enquanto, os números calculam ao menos 300 mil deslocados dentro do Quirguistão e outros 100 mil refugiados que já conseguiram atravessar a fronteira com o Uzbequistão, embora esses dados só contabilizem adultos e não crianças.

Berthiaume acrescentou que 90% dos refugiados no Uzbequistão são idosos, mulheres e crianças "em mau estado físico" e que estão particularmente abalados por terem sido testemunhas ou vítimas diretas dos terríveis atos de violência.

De outra parte, Giuseppe Annunziata se referiu aos supostos casos de violação de mulheres desde que explodiu o conflito étnico há uma semana, uma denúncia feita pela Cruz Vermelha Internacional.

"Uma de nossas preocupações principais é atender as necessidades das mulheres vítimas de violência sexual", precisou o coordenador da OMS para situações de crise.

"Temos reportes ainda sem confirmação de diferentes fontes que apontam dezenas de violações entre mulheres refugiadas no Uzbequistão", acrescentou.

Por enquanto, a OMS não está em condições de confirmar o número de feridos, indicou.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), o único organismo com equipes na área de conflito ao sul do Quirguistão, sustentou que nos últimos três dias a situação poderia ser descrita como de "calma inquietante", embora ontem à noite tenham sido registrados novos incidentes violentos em Osh.

Muitos feridos permanecem escondidos por medo de saírem e serem atacados. Outros se esconderam em mesquitas, fazendas e prédios públicos.

Nos últimos dias, integrantes da Cruz Vermelha estiveram em três campos de refugiados no Uzbequistão, o maior já está com 65 mil pessoas.