Vargas Llosa ganha Nobel de literatura após fracasso na política
O peruano Mario Vargas Llosa entrou para a história mundial da Literatura nesta quinta-feira (7), ao ser anunciado como vencedor do prêmio Nobel de 2010 – uma condecoração que chega exatamente 20 anos depois de Llosa perder uma eleição presidencial e encerrar sua carreira na política tradicional.
Hoje, o intelectual liberal largamente premiado como escritor se dedica a escrever e lecionar. Mas o destino poderia ter sido outro se sua vida como líder político não tivesse sido interrompida por uma candidatura meteórica do engenheiro nipo-peruano Alberto Fujimori.
Quando estudante, Vargas Llosa se aproximou do marxismo e acompanhou com entusiasmo a Revolução Cubana de 1959. Mas logo viria a denunciar os abusos do regime liderado por Fidel Castro, e a desilusão com a esquerda daquele momento empurrou o intelectual peruano para o campo ideológico de direita no qual atua até hoje.
O grande momento dessa guinada aconteceu no final da década de 80, momento de derrocada da União Soviética e do muro de Berlim. No Peru, o presidente Alan Garcia, em seu primeiro mandato, tentou estatizar os bancos, e um grupo liderado por Mario Vargas Llosa (batizado “Movimento Liberdade”) marcou posição contra essa iniciativa. Depois disso, em 1990, Vargas Llosa ganhou espaço para se transformar em candidato a presidente, à frente da coligação Frente Democrata, ou “Fredemo”.
De acordo com o cientista político Charles D. Kenney, Vargas Llosa levantou a bandeira da defesa do livre mercado e ganhou apoio da direita peruana. Com os demais partidos tradicionais enfraquecidos, nenhuma outra liderança tinha o mesmo apelo naquele momento.
“Em meio a essa situação de crise generalizada e extinção do sistema de partidos apareceu Fujimori, o qual, com o apoio secreto do presidente Alan Garcia, apareceu do nada, se colocou no centro e se converteu no candidato dos eleitores indecisos”, escreve Kenney.
O resultado é que a eleição foi empurrada para o segundo turno, e Fujimori acabou recebendo 62% dos votos, contra 37% para Vargas Llosa – que assumiu a derrota, retornou para Londres (Reino Unido) e passou a dedicar toda sua atenção para a literatura.
No livro autobiográfico “O Peixe na Água”, lançado três anos depois, ele conta: “as circunstâncias [me] colocaram em uma situação de líder em um momento crítico da vida de meu país".
“Nesse fundo obscuro onde se tramam as motivações mais secretas de nossos atos, a tentação da aventura me empurrou, mais do que qualquer altruísmo, para a política profissional”, acrescenta o autor.
Atualmente Vargas Llosa colabora o jornal espanhol "El País" e a revista mexicana "Letras Libres", entre outras publicações. O autor já publicou dezenas de livros, com traduções para mais de 30 idiomas, e participa de atividades acadêmicas em universidades da Espanha, do Reino Unido, a Alemanha e dos EUA, entre outras.
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