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Preso de Guantánamo é problema que nada tem a ver conosco, diz Amorim sobre recusa do Brasil

Daniel Milazzo*

Especial para o UOL Notícias<br>No Rio de Janeiro

03/12/2010 11h03

Vazamento de documentos sigilosos da diplomacia dos EUA pelo WikiLeaks

  • AP

O ministro de Relações Exteriores Celso Amorim disse nesta sexta-feira (3) que o Brasil recusou o pedido de receber prisioneiros de Guantánamo, localizada em Cuba e administrada pelos EUA, porque o país não achou adequado receber os presos. "Houve sondagens efetivas, mas o Brasil não achou adequado que devesse recebê-los por várias razões. Algumas pessoas eram suspeitas de terrorismo. O mais normal seria, se elas são inocentes, que encontrassemo seu caminho de volta. Não havia razão para a gente importar um problema que não tinha nada a ver conosco", afirmou o chanceler nesta sexta-feira (3), no Rio de Janeiro

A informação do pedido foi publicada em matéria do jornal "Folha de São Paulo", que teve acesso a mensagens diplomáticas obtidas pelo site WikiLeaks, na edição desta sexta-feira. "Não tem nada de 'top secret'. Tem coisas que, ou a gente já sabia ou são interpretações subjetivas de agentes diplomáticos", disse Amorim, que se reuniu com o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes para assinar a reforma do Palácio do Itamaraty.

Segundo telegrama confidencial de 24 de maio de 2005, o então embaixador dos EUA em Brasília, John Danilovich, relata que "o governo do Brasil ainda sustenta que não pode aceitar imigrantes de Guantánamo porque seria ilegal designar como refugiado alguém que não está ainda em solo brasileiro".

Em 30 de outubro de 2009, um telegrama relatou novamente a investida dos EUA.

Ao checar com funcionários do Itamaraty como estava a demanda, a diplomacia norte-americana relatou que "não houve reação positiva do governo brasileiro".

A prisão usada pelos EUA em Cuba recebeu centenas de pessoas capturadas pelos norte-americanos depois dos atentados do 11 de Setembro de 2001. Passado algum tempo, verificou-se que alguns dos detidos não eram de fato relacionados aos ataques. Só que devolvê-los aos seus países acabou ficando inviável, pois não havia segurança de que estariam a salvo em suas localidades de origem.

Vários países passaram então a ser contatados pelos EUA para que recebessem esses ex-presos na condição de refugiados. Essa foi a condição na qual o governo brasileiro recebeu os apelos da diplomacia norte-americana.

Golpe em Honduras

Amorim também comentou o telegrama em que o embaixador dos EUA em Tegucigalpa, Hugo Llorens, afirma que "não há dúvidas" de que a Corte Suprema e o Congresso Nacional atuaram "ilegalmente" e "inconstitucionalmente" ao derrubar Manuel Zelaya e colocar Roberto Micheletti na Presidência de Honduras.

"Há declarações do embaixador americano em Honduras afirmando que foi um golpe às democracias nas Américas. Isso é muito interessante porque nós fomos muito criticados, inclusive por vocês [a imprensa], afirmou o chanceler referindo-se à posição da imprensa a respeito da participação do governo brasileiro na crise hondurenha e ajuda ao presidente deposto Manuel Zelaya.

Comentando declarações que correram no meio diplomático qualificando o Brasil como antiamericanista, o chanceler respondeu: "Faz muito tempo que é assim. Não tem nada a ver com o governo Lula, a não ser em momentos que o Itamaraty foi especialmente compreensivo em relação a pressões estrangeiras".

* Com informações da Folha de S.Paulo