Quando renunciar, Bento 16 vai perder condição de infalibilidade
Da Agência Brasil
14/02/2013 14h23
Quando renunciar, no próximo dia 28, o papa Bento 16, de 85 anos, perderá a condição da infalibilidade, poder do qual se investe o pontífice para decidir questões de fé e moral da Igreja Católica Apostólica Romana e sobre o qual há presunção de não haver erro. Ao deixar o pontificado, Bento 16 perderá a possibilidade de não falhar. O papa só assume a condição de infalibilidade em situações específicas. Bento 16 não fez uso desse dogma.
"A infalibilidade está presente na figura do papa quando ele se dirige aos fieis sobre questões de fé e moral. O papa Bento 16 não usou o dogma. Há mais de 60 anos, os papas não usam esse dogma", ressaltou à Agência Brasil o padre jesuíta Luís Corrêa Lima, professor doutor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Corrêa Lima disse que a infalibilidade foi usada em meados dos séculos 19 e 20. No século 19, o poder foi utilizado para estabelecer o dogma da Imaculada Conceição, que se refere à concepção do Menino Jesus pela Virgem Maria sem a mácula do pecado original. Pelo dogma, Maria foi preservada por Deus desde seu nascimento, por ser cheia da graça divina, e viveu uma vida livre de pecado.
O professor ressaltou ainda que a última vez que houve estabelecimento de um dogma por meio da infalibilidade papal foi sobre a interpretação a respeito da Assunção de Maria, a crença de que a Virgem foi levada em corpo e alma para os céus após sua morte. O papa Pio 12 foi quem definiu esse dogma.
A doutrina da infalibilidade do papa foi estabelecida pelo Concílio Vaticano 1º (1869-1870), durante o pontificado de Pio 12. Para os religiosos, o papa pode errar, mas não quando se dirige aos fieis na condição denominada de ex cathedra – expressão latina que significa “da cadeira ou do trono”. Na prática, o pontífice usa o poder na condição de sucessor de São Pedro, em nome da Igreja.
A renúncia
ENTENDA O PROCESSO SUCESSÓRIO DO PAPA
Quando o chefe da Igreja Católica renuncia a sua função ou morre, seu sucessor é eleito pelos cardeais reunidos em conclave na Capela Sistina, onde ficam isolados do mundo exterior.
Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave que se reunirá para eleger o sucessor do papa Bento 16. Segundo a última lista do Vaticano, há um total de 116 cardeais aptos a votar no conclave.
Para poder votar na escolha do papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.
"Após ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino", disse o papa.