Jornais estrangeiros comparam protestos brasileiros com Turquia e culpam Copa do Mundo
A imprensa internacional deu bastante destaque aos protestos que reuniram milhares de pessoas em várias capitais brasileiras na última segunda-feira (17). O jornal francês “Le Monde” chegou a reservar sua manchete para as manifestações.
Sem dar um motivo único às manifestações, os meios estrangeiros citaram insatisfações com os gastos da Copa do Mundo e lembraram que tudo começou com o aumento do preço da passagem de ônibus em São Paulo.
Além disso, a imprensa internacional, citando ou não manifestantes, comparou o caso brasileiro com o que vem acontecendo na Turquia, onde os protestos começaram contra uma medida do governo de remodelar uma praça em Istambul e se tornaram grandes atos contra o premiê Recep Tayyip Erdogan.
Guardian
Para o jornal britânico "The Guardian", em sua edição online, o Brasil teve uma das maiores noites de protestos "em décadas", quando mais de 100 mil pessoas tomaram as ruas do país para "expressar frustração contra os abusos da polícia, os péssimos serviços públicos e os altos custos da Copa do Mundo."
O "Guardian" lembrou que os protestos coincidem com o começo da Copa das Confederações e chegou a falar com um manifestante de 19 anos, morador da favela da Rocinha, no Rio.
"Estamos aqui porque odiamos o governo. Eles não fazem nada pela gente", disse ao jornal Oscar José Santos.
O jornal inglês também afirmou que as demonstrações de rua estavam sendo comparadas com as manifestações da Turquia e lembrou que, em São Paulo, pessoas foram presas por posse de vinagre, o que o "Guardian" chamou de "Revolução do Vinagre".
New York Times
O "The New York Times" afirmou que as maiores cidades do Brasil viram na noite de segunda-feira (17) "uma exibição notável de força para uma agitação que começou com pequenos protestos contra o aumento das tarifas de ônibus".
Para o jornal americano, a manifestação inicial "evoluiu para um movimento mais amplo com a participação de grupos de indivíduos revoltados com uma série de questões, incluindo o alto custo de vida no país e os luxuosos novos projetos de estádios".
O "New York Times" também comparou os protestos com o que vem ocorrendo na Turquia e disse que no Brasil as manifestações "se intensificaram depois que uma dura repressão policial na semana passada surpreendeu muitos cidadãos".
“A violência veio do governo. Esses atos violentos por parte da polícia provocam medo e, ao mesmo tempo, a necessidade de continuar protestando”, disse Mariana Toledo, 27, estudante de graduação na Universidade de São Paulo, ouvida pelo jornal.
Le Monde
Os protestos pelo Brasil viraram a manchete do jornal "Le Monde", publicado na tarde desta terça (18) na França. Em sua capa, o jornal traz "Agitação social se espalha. O 'Milagre Brasileiro' está em pane."
No principal texto do jornal, o "Le Monde" lembra que as manifestações são as maiores "desde o fim da ditadura, em 1985, e dos protestos contra a corrupção do ex-presidente Fernando Collor, em 1992".
O jornal diz que "há várias reivindicações" entre os manifestantes e destaca a multidão de jovens que tentou invadir o Congresso Nacional, em Brasília.
"Gastar tanto dinheiro para esses eventos esportivos quando temos necessidades para a educação, saúde e habitação, simplesmente não é possível", disse Thiago Ribeiro, 23 anos, estudante de comunicação no Universidade de Brasília, em entrevista ao jornal.
Para o jornal, Dilma é vilã de uma revolta contra "despesas suntuosas da Copa do Mundo de 2014".
El País
O site do jornal espanhol "El País" também traz em sua manchete os protestos brasileiros. Segundo a reportagem principal, os manifestantes "saíram do Facebook e tomaram as ruas do Brasil como não se via desde o fim da ditadura, quando o povo exigia democracia, ou os protestos contra o presidente Fernando Collor".
Segundo o jornal, nas ruas viam-se cartazes de todos os tipos e por todas as causas. "Desde o clássico 'faça amor, não faça guerra' até 'liberdade para Assange' e um em inglês escrito 'não venha ao Mundial'".
Assim como várias outros veículos estrangeiros, o "El País" também lembrou dos protestos turcos e entrevistou um grafiteiro em São Paulo que disse: "os 20 centavos aqui são o parque de Istambul".
Em outro texto, o "El País" afirmou que a tarifa de ônibus, em São Paulo, é a mais cara do mundo e uma das mais ineficientes.
O correspondente Juan Arias, em um terceiro texto, afirmou que o governo está perplexo com os protestos. Para o espanhol, o sonho vivido na noite de segunda pode acabar em "pesadelo pelos gestos de violência de alguns grupos extremistas".
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