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Em ato inédito, NRA pede regulamentação de mecanismo que automatiza armas nos EUA

Ethan Miller/Getty Images/AFP
Imagem: Ethan Miller/Getty Images/AFP

Do UOL, em São Paulo

05/10/2017 17h06

A Organização Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), que defende os direitos de posse e venda armas nos EUA, disse nesta quinta-feira 5) que o mecanismo que transforma fuzis em armas automáticas, peça de venda livre que permitiu ao atirador de Las Vegas matar 59 pessoas e ferir mais de 500, deveria ter "regulamentações adicionais".

O mecanismo, denominado "bump stock" em inglês, substitui a culatra e a extensão de apoio de um fuzil, e utiliza o tranco provocado por cada disparo para gerar uma sequência, fazendo com que a arma se torne automática, como uma metralhadora. Estas peças são compradas livremente nos Estados Unidos, inclusive em lojas online, por menos de US$ 100. O atirador, Stephen Paddock, utilizou estes dispositivos para transformar fuzis em metralhadoras no massacre e com isso abriu-se um debate sobre o livre acesso a estes mecanismos.

Legisladores republicanos também admitiram estar dispostos a discutir uma proibição. A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee, também disse que a presidência estava "aberta" a discutir o aspecto, mas ressaltou que a prioridade do presidente Donald Trump era "unir o país" e não liderar esse debate.

Em nota, a NRA disse que o Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF) deve avaliar imediatamente se os "bump stocks" e automatizadores estão de acordo com as leis federais.

A organização, que tem influência sobre vários membros do Congresso, rejeitou a proposta inicial dos legisladores que pressionaram pelo aumento do controle de armas no país. A NRA disse que "proibir armas aos americanos que respeitam a lei com base no ato criminoso de um louco não fará nada para evitar futuros ataques".

O próprio presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, admitiu nesta quinta-feira que não fazia ideia do que eram os "bump stock" e para que serviam até saber os detalhes do massacre de domingo à noite em Las Vegas. "Obviamente é algo que devemos analisar", disse Ryan. 

Em meio à comoção provocada pelo massacre em Las Vegas, legisladores do partido Republicano - tradicionalmente avessos a qualquer tipo de controle de armas - timidamente começaram a admitir que a disseminação dos "bump stock" mudou o caráter da discussão.

"Estou em meio a conversações concretas com cinco ou seis dos meus colegas republicanos" sobre o veto ao "bump stock", disse o legislador democrata David Cicilline. "Ninguém deveria possuir estes mecanismos que transformam um fuzil semiautomático em uma arma equivalente a uma metralhadora", acrescentou.

O republicano Robert Goodlatte, presidente da Comissão de Assuntos Jurídicos da Câmara de Representantes, também admitiu que "vamos analisar isto".

No Senado, pelo menos dois legisladores republicanos - John Cornyn e John Tune - também emitiram sinais de que estavam abertos a esta discussão. Dois legisladores do partido Democrata - a senadora Dianne Feinstein e a representante Nancy Pelosi - já apresentaram respectivos projetos de lei que proíbem a comercialização dos "bump stock".

Medo por restrições ao comércio 

Em Las Vegas, os vendedores de armas temem agora que a adoção de restrições afete os negócios. A venda de fuzis, inclusive aqueles de alto poder de fogo, é permitida nos Estados Unidos, embora as armas automáticas tenham sido proibidas em 1980. O uso dos "bump stock" permitiu burlar esta proibição.

Art Netherton, proprietário da loja de armas Briarhawk e um dos poucos empresários do ramo que aceitou falar com a imprensa, disse à AFP que se sentia "horrorizado" pelo massacre, mas condenou a ideia de adotar leis que limitem o comércio de armas.

"Há centenas de leis nos livros. Se não me engano, o assassinato é ilegal, as drogas são ilegais, o homicídio com um automóvel é ilegal. Estamos cheios de leis, não precisamos de mais", afirmou.

Segundo ele, os "bump stock" são difíceis de usar. "É preciso muita prática para conseguir atirar porque é questão de ritmo. Não o temos na nossa loja, nunca o vendemos", destacou. (Com agências internacionais)