Topo

Brasileiros relatam como é viver um tufão no Japão: sem água, nem luz, mas com internet

Policial observa os estragos feitos pelo tufão em Osaka, no Japão - JIJI PRESS / AFP
Policial observa os estragos feitos pelo tufão em Osaka, no Japão Imagem: JIJI PRESS / AFP

Hilda Handa

Colaboração para o UOL, de Gunma (Japão)

05/09/2018 04h01

O tufão mais potente dos últimos 25 anos do Japão, o Jebi, castigou na última terça-feira (3) a região conhecida como Kansai, no sudeste da ilha principal. O fenômeno afetou inclusive brasileiros que vivem no arquipélago.

Estou no Japão há quase 20 anos, e esta foi a primeira vez que fiquei sem água, nem luz, quase todo o dia

Maria Cristina Hassegawa, 53

Ela é uma das 200 mil pessoas nascidas no Brasil vivendo no Japão --a maioria, trabalhadores nas linhas de produção japonesas.

Devido aos estragos causados pelo tufão nos arredores de Osaka, a fábrica em que Maria Cristina trabalha dispensou os funcionários. A brasileira passou o dia em casa com as duas filhas, precisou sair para comprar água e encontrou muitas lojas fechadas, mesmo aquelas que costumam funcionar 24 horas por dia (há muitas no Japão).

"Demorei para achar e quando voltei estava encharcada. Mas comprei o que precisava, incluindo uma lanterna. Até fiz feijão para o jantar", brincou

Pista do aeroporto internacional de Kansai é parcialmente inundada durante a passagem do tufão Jebi em Osaka - Sayaka Kamohara/Mainichi Newspaper via AP - Sayaka Kamohara/Mainichi Newspaper via AP
Pista do aeroporto internacional de Kansai é parcialmente inundada durante a passagem do tufão Jebi em Osaka
Imagem: Sayaka Kamohara/Mainichi Newspaper via AP

A alguns quilômetros dali, na cidade de Sakai, a tradutora e professora Luzia Tanaka, 62, concentrou os esforços em ajudar os compatriotas. Apesar de estarem há anos no Japão, muitos não dominam o idioma local.

“É muito importante esse contato, para que saibam que não estão sozinhos”, disse Luzia.

Mesmo sem água ou luz, a população seguiu conectada à internet móvel, graças às baterias portáteis.

'Melhor do que terremoto'

No Japão há quase um ano, Daniel Serrano, 30, intercambista na Universidade de Nara, conta que ficou impressionado com a fúria dos ventos. "Nunca havia visto ventania com tanta intensidade". Por recomendação da universidade, que está em período de férias, ele passou o dia em casa.

Para Serrano, "o tufão é um pouco melhor do que terremoto, que não podemos prever e nem tem para onde correr. Hoje fiquei tranquilo, vendo pela janela".

Na província de Gifu, atingida em menor intensidade do que Osaka, o expediente foi encerrado mais cedo.

"Fui trabalhar normalmente hoje. Sairia às 19h, mas fui dispensado às 15h30", diz Evandro Raiz Ribeiro, 56. Ele trabalha na produção de máquinas pesadas, em uma fábrica no meio das montanhas.

Veja também:

O retorno para casa, um trajeto de mais ou menos 20 minutos, foi cheio de obstáculos. "Passei por mais de dez árvores caídas, algumas atravessando a pista toda, ajudei a tirar algumas das ruas. Houve trechos em que tive que passar com o carro pela calçada. Em 29 anos de Japão, esse foi o tufão mais preocupante que passei".

Em grande parte do arquipélago continua chovendo e ventando, mas os ventos perderam força. As chuvas não diminuíram o calor vigoroso deste verão.

Mesmo no meio da noite, as temperaturas ultrapassam os 25 graus e a maioria ainda mantém o ar-condicionado ligado.

Apesar de comuns, os tufões deste ano vieram com força descomunal. 

Tufão Jebi causa destruição no Japão

UOL Notícias