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Polícia faz inspeção em residência de cônsul saudita em busca de pistas de jornalista desaparecido

Polícia turca se posiciona em frente à casa do cônsul saudita em Istambul - Emrah Gurel/AP
Polícia turca se posiciona em frente à casa do cônsul saudita em Istambul Imagem: Emrah Gurel/AP

Do UOL, em São Paulo

17/10/2018 12h19

A polícia turca começou a fazer buscas nesta quarta-feira (17) na residência do cônsul saudita em Istambul para investigar o desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi, segundo um correspondente da AFP.

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As buscas, realizadas por cerca de dez policiais, acontece dois dias depois de uma revista semelhante conduzida na segunda-feira no consulado saudita em Istambul.

Segundo o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Çavusoglu, a inspeção não foi feita na terça, como previsto anteriormente, porque a família do cônsul estava na residência. A equipe policial turca, que tinha revistado o consulado na última segunda-feira, esperou ontem à noite durante horas em frente à residência consular, mas teve que adiar a investigação.

Çavusoglu fez essas declarações pouco depois de se reunir durante 35 minutos com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, no aeroporto de Ancara, momentos depois de pompeo ter se encontrado com o presidente da Turquia, Recep  Tayyip  Erdogan.

"No encontro, Pompeo informou a Erdogan sobre suas reuniões em Riad (a capital da Arábia Saudita). Disse que passou a mensagem de Trump, no sentido de querer que tudo seja esclarecido", disse o ministro turco.

Çavusoglu confirmou também que o cônsul saudita, Mohammed Otaibi, deixou a Turquia na noite de terça para voltar a Riad.

"O cônsul pode ir a seu país quando quiser. A Turquia não o expulsou. Depende totalmente dele quando retornar", ressaltou o chefe da diplomacia turca, embora tenha reconhecido que houve certas tensões durante a investigação no consulado.

1.fev.2015 - Foto de 2015 mostra o jornalista saudita Jamal Khashoggi - Hasan Jamali/Arquivo AP - Hasan Jamali/Arquivo AP
Jornalista saudita Jamal Khashoggi está desaparecido desde 2 de outubro
Imagem: Hasan Jamali/Arquivo AP

O cônsul "teve uma atitude pouco séria que suscitou reações. Por exemplo, abria os armários e dizia: 'olhem (Khashoggi) não está aqui', como se quisesse nos fazer passar por ridículos", detalhou o ministro.

A respeito das especulações de que Khashoggi foi assassinado no consulado, Çavusoglu se negou a comentar os rumores surgidos na imprensa.

"Esperamos o final da investigação. Escreveram muitas coisas. Nós temos nossas informações, de fontes de inteligência, e uma equipe de 15 pessoas", disse o ministro turco.

Çavusoglu se referiu assim a um dos pontos centrais da investigação, sobre uma delegação saudita que chegou a Istambul em dois aviões particulares e vários voos de carreira no dia em que Khashoggi desapareceu, e voltou a Riad naquela mesma noite.

Segundo dados policiais vazados à imprensa turca, nesta equipe viajava um médico legista militar da Arábia Saudita.

O jornal americano "The New York Times", que na segunda-feira afirmou que Riad planeja reconhecer que Khashoggi morreu sob sua custódia em um interrogatório que saiu do controle, afirmou que cinco desses supostos 15 envolvidos são próximos ao príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman.

Assassinato em sete minutos

Em mais uma publicação que aponta para o envolvimento das autoridades sauditas no desaparecimento de Khashoggi, o jornal turco Yeni Safak afirma que teve acesso a gravações de áudio e informa que Khashoggi foi torturado durante um interrogatório e que os agentes sauditas cortaram seus dedos, antes de "decapitar" a vítima.

Segundo o jornal, o cônsul saudita afirma em uma das gravações: "Façam isto lá fora. Você vão me arranjar problemas". Um homem não identificado então responde: "Se você quiser continuar vivo quando voltar à Arábia Saudita, fica quieto".

O portal digital Middle East Eye afirma, com base em uma fonte que teve acesso à gravação de áudio dos últimos momentos do jornalista, que o assassinato demorou sete minutos e que um médico legista, que integrava a equipe de 15 sauditas enviados por Riad a Istambul, começou a cortar o corpo de Khashoggi quando ele ainda estava vivo.

Um dia depois do desaparecimento de Khashoggi, colaborador do Washington Post e crítico do príncipe herdeiro saudita Mohamed Bin Salman, fontes do governo turco afirmaram que ele foi assassinado por uma equipe de 15 agentes enviados por Riad.

Membros do entorno do príncipe

Um dos homens identificados pelas autoridades turcas como agente enviado a Istambul faz parte do entorno de Bin Salman, afirmou na terça-feira o jornal New York Times.

De acordo com o NYT, que publicou várias fotos, Maher Abdulaziz Mutreb acompanhou o príncipe em sua viagem aos Estados Unidos em março, assim como a Madri e Paris um mês depois.

O New York Times menciona mais três suspeitos vinculados, por testemunhas e outras fontes, aos serviços de segurança do príncipe.

Um quinto homem, um legista identificado como Salah Al Tubaigy, ocupou cargos de alta responsabilidade no ministério saudita do Interior e na área médica, completou o jornal, ao afirmar que "uma personalidade deste nível só pode ser comandada por uma autoridade saudita de alta patente".

O NYT afirma ainda ter confirmado que "ao menos nove dos 15 (suspeitos) trabalharam para os serviços sauditas de segurança, o exército ou outros ministérios".

"Uma explicação completa e definitiva"

A imprensa americana informou na segunda-feira que a Arábia Saudita cogitava reconhecer a morte do jornalista durante um interrogatório no consulado.

De acordo com a CNN, Riad preparava um relatório com a explicação de que a operação foi realizada "sem autorização nem transparência" e que "as pessoas envolvidas seriam consideradas responsáveis".

(COM AFP E EFE)