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Migrantes são encontrados mortos em barco de madeira superlotado, na Líbia

Equipes do MSF resgatam migrantes em barco à deriva no Mediterrâneo - Candida Lobes/MSF
Equipes do MSF resgatam migrantes em barco à deriva no Mediterrâneo Imagem: Candida Lobes/MSF

Colaboração para o UOL

18/11/2021 12h52

A equipe do Médicos Sem Fronteiras (MSF) encontrou, na terça-feira (16), dez pessoas mortas dentro de um barco de madeira superlotado na costa da Líbia, no Mar Mediterrâneo. O alerta sobre o barco à deriva foi dado pela iniciativa Alarm Phone e pela Seabird.

Segundo relatos dos sobreviventes às equipes de resgate, as vítimas morreram sufocadas após passarem 13 horas amontoadas no estreito convés inferior, onde havia um forte cheiro de combustível.

Em uma complicada operação, a menos de 30 milhas náuticas da costa da Líbia, a equipe do MSF a bordo do navio de busca e resgate Geo Barents chegou ao barco que transportava mais de 100 refugiados que buscavam entrar na Europa. O resgate foi realizado depois de longas horas, resultando no salvamento de 186 pessoas.

De acordo com informações do MSF, 99 pessoas foram levadas em segurança a bordo do Geo Barents, todas apresentando sinais de estresse agudo e trauma.

"Levamos quase duas horas para recuperar os corpos e trazê-los a bordo, para que possam ter um enterro digno quando chegarem em terra", disse Fulvia Conte, vice-líder da equipe de busca e resgate do MSF em Geo Barents. "Foi horrível e revoltante ao mesmo tempo. Esta é outra tragédia no mar que poderia ter sido evitada."

Um dos sobreviventes afirmou não ter entendido o que havia acontecido com seus companheiros de viagem antes das equipes do MSF aparecerem e o ajudarem a entrar no bote salva-vidas.

"Deixe-me ver os corpos", pediu o migrante à equipe de resgate. "Estes são meus irmãos. Viemos do mesmo lugar, passamos pela Líbia juntos. Eu preciso dizer a suas famílias que eles estão mortos. Por favor, deixe-me vê-los."

Responsabilidade europeia

O Alarm Phone, grupo de voluntários dedicado ao resgate de refugiados no Mediterrâneo, acusou as autoridades europeias de ignorar o pedido de socorro: "Tínhamos dado o alarme, várias horas antes, mas ninguém atendeu. Estamos cansados de continuar anunciando mortes que poderiam ser evitadas".

Caroline Willemen, coordenadora do projeto de MSF no Geo Barents, também responsabilizou os países europeus por sua omissão diante da situação de emergência. "Estamos mais uma vez testemunhando a falta de vontade da Europa em fornecer a ajuda e esforços de resgate no Mediterrâneo central".

Em menos de 24 horas, Geo Barents realizou três resgates nas zonas de busca e resgate de Malta e Líbia, trazendo 186 pessoas em segurança a bordo, incluindo os sobreviventes do barco onde dez morreram. Os resgatados eram da Guiné, Nigéria, Costa do Marfim, Somália e Síria. Entre eles havia várias crianças, a mais jovem com apenas 10 meses de idade.

Com a atenção dos governos europeus à crise humanitária na fronteira da Polônia com a Bielo-Rússia, o Geo Barents, com cerca de 200 refugiados e dez cadáveres, deve encontrar urgentemente um local seguro para desembarcar.

Estima-se que 1.225 pessoas morreram ou desapareceram durante a tentativa de cruzar o Mediterrâneo central até agora, neste ano. Desde 2014, 22.825 pessoas desapareceram ou morreram nessa rota.