Por que Brasil é o 1º a discursar na Assembleia Geral da ONU? Há 3 teorias
Todos os anos, a/o presidente brasileira/o dá início à Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Em seguida, entra o presidente americano. Sim, o Brasil sempre fala antes dos outros países, incluindo o anfitrião do encontro.
É mais uma tradição do que uma regra escrita, então não há registros formais das razões. Mas três teorias explicam esse nosso 'privilégio'.
1. O Brasil se voluntariou nos primeiros encontros
Durante os primeiros anos da ONU, criada em 1945, nenhum país queria ser o primeiro a falar na assembleia. O Brasil, então, se voluntariava, tendo sido o primeiro orador em 1949, 1950 e 1951.
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A organização decidiu, finalmente, oficializar o país como aquele que abriria o debate geral a partir de 1955 —etapa em que os países apresentam seus discursos.
"Ao longo do tempo, certos costumes emergiram durante o debate geral, incluindo a ordem dos primeiros a falar", diz a organização em sua página oficial.
Desde 1955, a ordem de abertura tem sido: o secretário-geral da ONU, seguindo pelo presidente da Assembleia Geral, sucedido pelos representantes do Brasil e Estados Unidos — o país-sede.
Os demais países falam de acordo com a ordem estabelecida por um algoritmo que leva em consideração o nível de representação do orador, pedido de fala, entre outros.
As únicas vezes em que o Brasil não abriu as oratórias foram nas sessões de 1983 e 1984, quando o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan falou primeiro.
O privilégio brasileiro permitiu que em 2011, durante a 66ª assembleia, a ex-presidente Dilma Rousseff fosse a primeira mulher na história a proferir o discurso de abertura. Na época, ela condenou a espionagem americana revelada por Edward Snowden.
2. Oswaldo Aranha e sua importância
Outra explicação para o privilégio dado ao Brasil é o reconhecimento ao brasileiro Oswaldo Aranha pela sua atuação em 1947, na segunda assembleia.
Aranha presidiu a Primeira Sessão Especial da Assembleia, reunião histórica na qual se começou a encaminhar a criação do Estado de Israel.
O papel do brasileiro ao apoiar a solução de dois Estados e garantir que a votação não fosse adiada rendeu elogios de diversos países e entidades sionistas, que chegaram a cogitá-lo como candidato ao Nobel da Paz.
3. Prêmio de 'consolação'
Para o professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Matias Spektor, a regra é uma espécie de prêmio de consolação pelo Brasil não fazer parte do Conselho de Segurança.
"Isso foi uma troca feita na época da criação da ONU, quando foi criado o Conselho de Segurança, com seus cinco membros permanentes. Houve uma discussão sobre se o Brasil seria um membro. Mas [Winston] Churchill e o [Josef] Stalin vetaram a proposta. Como forma de reconhecer a ascendência do Brasil na América Latina, na época, optou-se então por criar essa regra", afirma.