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Gaza: qual o papel dos ingleses na origem do conflito entre judeus e árabes

Especial para o UOL

11/10/2023 11h40Atualizada em 11/10/2023 17h30

O conflito entre os diferentes povos árabes e os judeus é relativamente recente. Até o final do século 19, eles viviam como "primos" (o que supõe, claro, conflitos ocasionais), não só no Oriente Médio, mas também na Espanha ocupada pelos árabes até o fim do século 15.

Os problemas vieram com a crise dos grandes impérios (russo, turco-otomano e austro-húngaro), depois da 1ª Guerra Mundial (1914-1918) que redesenhou o mapa do Oriente Médio.

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Os ingleses receberam um mandato da Liga das Nações para ocupar por 30 anos os atuais Iraque, Jordânia e Palestina. A França ficou com o que hoje são a Síria e o Líbano.

O problema é que a Grã-Bretanha prometeu a mesma coisa para os dois lados na tentativa de conquistar apoio na 1ª Guerra: aos árabes, um grande Estado independente, o que suporia a inclusão da Palestina, e aos judeus, um "lar nacional" na Palestina.

As duas comunidades passaram então a disputar espaço na Palestina sob mandato britânico.

Isso permitiu o avanço de inúmeros movimentos nacionalistas, sendo os principais:

- o nacionalismo árabe, que defendia a criação de um grande estado árabe independente dos turcos;
- o movimento sionista, que defendia a volta à Palestina dos judeus --dispersos por todo o mundo desde a destruição de seu Estado independente, no início da era cristã.
Entre os judeus, a maioria vivendo na Europa Oriental e na América do Norte, o sionismo era bastante minoritário. As correntes políticas mais fortes eram as compostas por:

- socialistas, defensores da integração dos judeus à luta dos trabalhadores contra o capital
- liberais, favoráveis à integração da população judaica em cada país
- religiosos ortodoxos

Mas os sionistas traziam jovens pioneiros da Europa Oriental para cultivar terras compradas dos árabes por milionários judeus.

Os nacionalistas árabes lançavam ataques armados contra as novas comunidades judaicas.

Os britânicos ficavam no meio do caminho, ora limitando a imigração judaica, ora restringindo os ataques dos militantes árabes.

E então veio o Holocausto, quando mais de seis milhões de judeus foram massacrados pelos nazifascistas na Europa, ao lado de milhões de russos, poloneses, homossexuais e dissidentes políticos.

No final da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), com a Europa arrasada, o sionismo tornou-se rapidamente majoritário entre os judeus sobreviventes, que contavam com a simpatia da opinião pública mundial devido ao Holocausto.

Com a retirada das tropas britânicas da Palestina marcada para 1947, eles conseguiram costurar o apoio dos dois grandes vencedores do conflito, União Soviética e Estados Unidos, à divisão do território.

A Assembleia Geral da ONU, então presidida pelo ex-chanceler brasileiro Oswaldo Aranha, votou pela partilha da Palestina em dois Estados —um árabe e outro judeu.

Em maio de 1948, o futuro primeiro-ministro David Ben Gurion anunciou a criação do Estado de Israel.

O mundo árabe não aceitou a partilha e, nos dias seguintes, sete Estados árabes declararam guerra a Israel, que foi invadido por cinco exércitos.

Os israelenses venceram a guerra e expulsaram muitos palestinos do que deveria ser seu Estado.

Desde então, houve três grandes guerras na região. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupou a Faixa de Gaza, o deserto do Sinai (Egito), as colinas do Golan (Síria), as fazendas de Shebaa (Líbano), Jerusalém Oriental e a Cisjordânia (Jordânia).

Em 1979, Israel assinou a paz com o Egito e devolveu o Sinai.

Desde então o mundo árabe não conseguiu mais unir-se contra o Estado judeu. Sucessivos governos israelenses incentivaram a criação de colônias judaicas nos territórios ocupados, principalmente na Cisjordânia.

A resistência palestina optou então pela luta armada, lançando mão por vezes do terrorismo —com ataques a alvos civis dentro e fora de Israel.

No fim dos anos 90, as negociações entre israelenses e palestinos evoluíram, com extrema dificuldade, até um ponto que parecia mais perto da paz, mas o acordo foi desfeito.

De lá para cá, a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que defendia um acordo com Israel, perdeu espaço nos territórios ocupados para o movimento fundamentalista islâmico Hamas, que tem apoio do Irã e da Síria e rejeita a paz com o Estado judeu. E o cenário político israelense deslocou-se para a direita, com as forças pacifistas perdendo espaço.

Para entender em mais detalhes, acesso o artigo publicado originalmente em Pesquisa Escolar - História, de UOL Educação.

* Jayme Brener é jornalista, sociólogo, diretor do Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil (OJDHB) e autor de "Os Cinco Dedos de Tikal - Comunistas, Judeus, Putas e Índios às Vésperas da Segunda Guerra" (Ex-Libris) e "Um Homem, Um Rabino", autobiografia de Henry Sobel.

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