Atos pró-Palestina se espalham por universidades dos EUA; polícia reage
Do UOL, em São Paulo
25/04/2024 13h23Atualizada em 25/04/2024 15h38
Uma onda de protestos de estudantes contra as operações militares de Israel na Faixa de Gaza se intensificou na quarta-feira (24) nos Estados Unidos. Foram registrados atos em campi de todo o país e confrontos entre policiais e universitários.
O que aconteceu
Universidade de Columbia, em Nova York, é o epicentro do movimento pró-Gaza. Desde o último dia 15, barracas ocupam os jardins do campus. Dezenas de estudantes e ex-alunos pedem à direção da universidade, que mantém um programa de intercâmbio com Tel Aviv, o boicote de todas as atividades relacionadas com Israel.
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Estudantes protestam contra ataques de Israel, iniciados em resposta aos atentados do Hamas que deixaram 1.200 mortos em outubro. Desde o início da ofensiva israelense na Faixa de Gaza, mais de 34 mil pessoas morreram no enclave palestino, segundo o Ministério da Saúde local, administrado pelo Hamas. A situação humanitária no território é descrita por organismos internacionais como catastrófica, em meio à escassez de alimentos, água potável e medicamentos.
Intervenção policial e prisões aumentaram a tensão. Em 18 de abril, a presidente da Universidade de Columbia, Minouche Shafik, acionou o Departamento de Polícia de Nova York para intervir no protesto. A tropa de choque prendeu mais de 100 estudantes. Na segunda-feira (22), membros do corpo docente da instituição fizeram uma paralisação em solidariedade aos alunos e criticaram a administração de Columbia. A universidade anunciou que as aulas ocorreriam em um modelo híbrido pelo restante do ano letivo — o último dia de aulas é 29 de abril.
Outras universidades se uniram ao movimento de protesto desde então, em apoio aos estudantes de Columbia. Manifestações ocorreram ontem na USC (Universidade do Sul da Califórnia) e na Universidade do Texas, onde dezenas de policiais, muitos com equipamento de choque e a cavalo, bloquearam o caminho dos manifestantes. Ao menos 34 pessoas foram presas após se recusarem a dispersar.
Parte das universidades envolvidas nos atos fazem parte da Ivy League, as mais prestigiadas dos EUA. Além da Columbia, Brown, Harvard e Yale, onde 47 pessoas foram detidas, aderiram às manifestações. A NYU (Universidade de Nova York), o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e as universidades de Michigan e Berkeley, na Califórnia, se juntaram ao grupo.
Manifestações também se espalharam pelo exterior. Estudantes nos campi do Cairo (Egito), Paris (França) e Sydney (Austrália) se reuniram para expressar apoio aos palestinos e oposição à guerra.
Acusações de antissemitismo e relatos de insegurança
Acusações de antissemitismo e expressões de apoio ao Hamas também permeiam os protestos, dizem universidades. A administração da NYU afirmou ter ouvido "cantos intimidadores e vários incidentes antissemitas" nos protestos em seu campus. Shafik relatou que abusos antissemitas ocorreram também no campus da Columbia. A coalizão de grupos estudantis que organiza os protestos na Columbia rejeitou as acusações de antissemitismo contra os protestos de maneira integral, dizendo que alguns poucos indivíduos tentaram distorcer a causa e se comportaram de maneira inaceitável.
Estudantes judeus relatam insegurança. Jacob Schmeltz, aluno de Columbia, disse à CNN que iria para casa em vez de celebrar a Páscoa judaica no campus, como fez em anos anteriores. "Os estudantes judeus estão fartos e chegamos ao ponto em que nos sentimos mais seguros fora do campus do que dentro dele", disse. "Quando você é um estudante israelense neste campus, você sente que tem um alvo nas costas, você se sente inseguro e não é de admirar que os estudantes de Israel estejam tão hesitantes em vir para cá", disse Milton Zerman, estudante de direito na Universidade da Califórnia, Berkeley.
Reitora de Harvard renunciou no início do ano após reações negativas a declarações suas sobre antissemitismo em audiência no Congresso. "Em Harvard, pedir o genocídio de judeus viola as regras sobre bullying e assédio? Sim ou não?", perguntou a deputada Elise Stefanik a Claudine Gay, que respondeu: "Pode ser, dependendo do contexto". Em seguida, a então reitora complementou que a "retórica antissemita, quando se transforma em conduta que constitui bullying, assédio e intimidação, é uma conduta passível de ação [por parte da universidade], e tomamos medidas".
Netanyahu e Casa Branca comentam
Netanyahu chama protestos de "horríveis". O primeiro-ministro de Israel pediu ação para impedir as manifestações "Turbas antissemitas se apoderaram das principais universidades. Essas manifestações clamam pela destruição de Israel, atacam estudantes judeus, atacam professores judeus, lembram o que acontecia nas universidades alemãs nos anos 1930", acrescentou o premiê. "É algo inadmissível. Tem que ser interrompido."
Biden diz apoiar 'liberdade de expressão' nas universidades. "O presidente acredita que a liberdade de expressão, o debate e a não discriminação nos campi universitários são importantes", afirmou sua porta-voz, Karine Jean-Pierre, em coletiva de imprensa na Casa Branca. "Acreditamos que é importante que as pessoas possam se expressar pacificamente. Mas quando há retórica de ódio, quando há violência, temos que condenar", acrescentou. A fala pode ser vista no vídeo abaixo a partir de 46 minutos.
Como candidato à reeleição, o presidente dos EUA se divide entre apoio a Israel e a indignação de parte do eleitorado de esquerda, especialmente entre os jovens. Historicamente, Washington é o maior aliado de Tel Aviv e seu maior apoiador no atual conflito contra o Hamas. Nesta quarta, ele promulgou um pacote que inclui ajuda para Israel, mas também bilhões de dólares para lidar com a "urgente necessidade de ajuda humanitária", especialmente em Gaza.