Condenada a 14 anos de prisão, mafiosa italiana 'entregou' irmão sem querer
Giovanna Arruda
Colaboração para o UOL
15/07/2024 04h00
Rosalia Messina Denaro, detida desde o início de 2023, recebeu a sentença de 14 anos de prisão na última quinta-feira, 11. Irmã de Matteo Messina Denaro, um dos chefões da máfia italiana Cosa Nostra, Rosalia foi a "responsável" pela prisão de Matteo —ainda que sem querer.
O que aconteceu
Rosalia Messina Denaro, de 69 anos, recebeu uma pena de 14 anos de prisão por um Tribunal de Palermo, na Itália. A condenação por associação mafiosa é resultado da participação de Rosalia nas atividades da Cosa Nostra, grupo mafioso fundado na primeira metade do século 19 no sul italiano.
De acordo com as investigações, Rosalia era responsável por gerenciar as finanças da máfia. Além da parte financeira, Rosalia também seria a encarregada pela transmissão dos "pizzini", pedaços de papel nos quais os integrantes da Cosa Nostra trocavam mensagens e ordens escritas.
A atuação de Rosalia teria permitido que Matteo mantivesse contato com os demais membros enquanto permanecia foragido. Para a promotoria de Palermo, Rosalia seria não só o ponto de referência econômico, como também a pessoa de absoluta confiança de Matteo, gerindo assuntos do dia a dia para o irmão.
Somos perseguidos como canalhas, tratados como se não pertencêssemos à raça humana. Somos uma etnia que buscam erradicar
Trecho de mensagem escrita por Matteo Messina Denaro em um dos "pizzini" encontrados, segundo a AFP
Outra mensagem encontrada pelos policiais mostrava o saldo mensal do caixa da família, administrado por Rosalia, segundo a AFP. Com dinheiro oriundo de atividades ilícitas, a quantia seria usada para pagar despesas diárias, alimentação de detidos e despesas judiciais. "Saldo final novembro de 2011 - 81.970 euro", indicava o bilhete.
Rosalia foi a responsável por "entregar" o irmão à polícia, sem querer. A caçada a Matteo durou mais de três décadas e culminou na prisão do mafioso graças a papéis encontrados na casa da irmã, onde a polícia havia entrado para instalar câmeras e microfones.
Escondidos em uma perna oca de uma das cadeiras, "pizzini" encontrados pela polícia continham informações que ajudaram os agentes a chegar a Matteo. Acredita-se que a ordem de Matteo seria queimar os bilhetes trocados pelos membros da máfia após a leitura, mas Rosalia os manteve guardados.
Diário médico encontrado tinha detalhes sobre os cuidados prestados a um homem com câncer. Segundo a AFP, apesar de ter um nome falso para o paciente descrito nos "pizzini", o conteúdo encontrado na casa de Rosalia deu pistas para que os policiais conseguissem descobrir o paradeiro de Matteo. Os investigadores utilizaram uma base de dados do sistema nacional de saúde para procurar pacientes do sexo masculino com a idade e o histórico médico de acordo com os detalhes descritos nos "pizzini". Matteo foi preso pouco mais de um mês depois, ao sair de uma clínica em Palermo.
Crime em família. As irmãs de Matteo e Rosalia, Anna Patrizia, Giovanna e Bice, também estão envolvidas na Cosa Nostra. O filho de Rosalia está preso e sua filha Lorenza é advogada, tendo sido responsável pela defesa do tio. Rosalia é casada com Filippo Guttadauro, que também cumpre pena por associação mafiosa.
"O último poderoso chefão"
Matteo era considerado um dos mais cruéis membros da Cosa Nostra e tido como último líder da máfia. Ao longo de sua atuação na máfia, foi condenado por envolvimento no assassinato dos juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino em 1992 e em atentados mortais em Roma, Florença e Milão em 1993.
O italiano recebeu diversas sentenças de prisão perpétua. Uma das sentenças foi pelo sequestro e posterior assassinato do filho de 12 anos de uma testemunha no caso Giovanni Falcone.
A máfia inspirou a história da trilogia "O Poderoso Chefão". Na ficção, uma família mafiosa busca estabelecer domínio nos Estados Unidos, liderada por Vito Corleone. De acordo com a AFP, após a prisão de Matteo a polícia encontrou em seus pertences objetos ligados ao filme do diretor Francis Ford Coppola. Um dos achados seria um ímã que representava um chefe da máfia de terno e a frase "O Poderoso Chefão sou eu".
Matteo Messina Denaro morreu em setembro de 2023, vítima de câncer de cólon. Segundo os investigadores, Rosalia era o único membro da família para quem Matteo havia confidenciado seu real estado de saúde. À época da morte de Matteo Messina, o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini declarou: "Ninguém deveria ter suas orações negadas. Mas não posso dizer que sinto muito".