Mãe viciada em heroína, pai ausente: o que diz best-seller do vice de Trump
Giovanna Arruda
Colaboração para o UOL
17/07/2024 04h00
J.D. Vance, como é conhecido o senador norte-americano James David Vance, foi anunciado na última segunda-feira como candidato a vice-presidente na chapa de Donald Trump, que concorre novamente à presidência dos Estados Unidos.
Antes de se aliar à Trump nas eleições, Vance ficou conhecido por ter escrito um livro que se tornou um dos mais vendidos na lista do The New York Times e inspirou um filme com duas indicações ao Oscar.
Autobiografia foi número 1 do NY Times
Lançado em 2016, Hillbilly Elegy (traduzido para português como "Era uma vez um sonho"), o livro escrito por Vance reúne "memórias de uma família e cultura em crise". Aclamado por críticos de importantes veículos dos Estados Unidos, como os jornais The Economist e The Wall Street Journal, a obra chegou ao topo da lista de mais vendidos do The New York Times.
À época do lançamento do livro, Vance era um ex-fuzileiro naval e tinha se formado em direito pela Universidade de Yale, uma das mais conceituadas do país. Segundo o NY Times, Vance dizia ter "um bom emprego, um casamento feliz, uma casa confortável e dois cachorros animados". Ainda de acordo com a publicação, o público-alvo e os maiores fãs de Vance seriam os norte-americanos liberais.
História de sofrimento e superação
Em sua autobiografia, Vance conta o impacto da pobreza em sua família. Os avós maternos de Vance representam o movimento feito pela população branca pobre que migrou de uma área rural para cidades e vilas no meio-oeste do país.
Nascido em Middletown, no estado de Ohio, Vance também migrou para buscar uma vida melhor. Seus estudos o levaram à Universidade de Yale, em New Haven, ao Vale do Silício, na Califórnia, até chegar à capital Washington, D.C.
Narrativa de superação. Segundo análise do NY Times, "Era uma vez um sonho" pode ser interpretado como uma tentativa de Vance de ser aceito na elite americana. Ao narrar as dificuldades que passou na infância e na juventude, Vance se aproxima dessa parcela da população ao contar sua ascensão apesar das adversidades.
Vício da mãe e amor dos avós. Vance cresceu vendo sua mãe lutando contra o vício em heroína. Seus avós maternos, em especial a avó apelidada de Mamaw, foram os maiores responsáveis pela superação de Vance, que conseguiu entrar para o Corpo de Fuzileiros Navais e para a Universidade Estadual de Ohio.
Ausência do pai. Segundo o NY Times, o pai de Vance o deixou quando o garoto tinha seis anos. Vance declarou em sua autobiografia que foi "o momento mais triste de sua vida" e que a falta de uma figura paterna foi um dos pontos que mais detestou durante sua infância.
Parte da mensagem desse tipo de autobiografia é humilde e inspiradora: Se eu consigo, diz o autor, qualquer um consegue. Mas essa mensagem é também acompanhada pelo reconhecimento sombrio de que muitas pessoas iguais a Vance não conseguem
The New York Times, sobre o livro "Era uma vez um sonho"
Oportunidades de Vance não fazem parte da vida de todas as pessoas. A crítica social, segundo o NY Times, é uma das análises possíveis do livro de Vance. Enquanto o pobre rapaz de Ohio consegue dar a volta por cima, estudar e sair da realidade pobre e problemática, a maioria das pessoas não consegue se desvencilhar do caos em que estão inseridas. A educação e o cuidado com as crianças seriam os pilares para que mais pessoas consigam prosperar como Vance.
Obra inspirou filme produzido pela Netflix
"Era uma vez um sonho" se tornou filme disponível na plataforma Netflix. Lançado em 2020, o drama tem elenco renomado: Mamaw, a avó de Vance que ganha um protagonismo ainda maior nas telas, é vivida por Glenn Close, que recebeu a indicação de melhor atriz coadjuvante no Oscar de 2021. O filme também recebeu a indicação na categoria de melhor maquiagem e penteado. Já a atriz Amy Adams é responsável por interpretar Beverly "Bev" Vance, mãe de J.D.
Personagem de Vance tem dois atores. Owen Asztalos interpreta Vance na adolescência e Gabriel Basso é a versão adulta de Vance.
Adaptação foi dirigida pelo vencedor do Oscar Ron Howard. O responsável pela direção de "Era uma vez um sonho" dirigiu longas como "O Código da Vinci", "Inferno" e "Uma Mente Brilhante", filme que ganhou quatro Oscar em 2002.
Baseado no best-seller número 1 do New York Times escrito por J.D. Vance e com direção do vencedor do Oscar Ron Howard, "Era uma vez um sonho" retrata uma jornada de sobrevivência e triunfo ao acompanhar a história de uma família ao longo de três gerações
Sinopse do filme que teve origem no livro de Vance
Mudança na postura política de Vance
Vance era um conservador anti-Trump. Nos últimos oito anos, no entanto, uma "reviravolta ideológica" mudou a trajetória política de Vance e o aproximou do republicano Trump. De acordo com o NY Times, Vance explica sua mudança de postura como resultado de um "duplo despertar intelectual", no qual ele teria percebido que Trump não era tão ruim quanto pensava e que os liberais americanos eram, na verdade, muito piores do que ele imaginava.
Em 2016, Vance xingou Trump e o comparou com Hitler. Posts em redes sociais voltaram à tona após o anúncio de Vance como vice de Trump. Em algumas das publicações, o senador chama Trump de "idiota" e insinua que Trump seria "o Hitler da América".
Vance foi de um conservador anti-Trump a um adepto fiel do lema fazer a América grande de novo
NY Times, sobre o republicano J.D. Vance