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Quem era Hassan Nasrallah, chefe do Hezbollah morto por Israel em Beirute

Do UOL, em São Paulo

28/09/2024 06h14

O exército israelense informou neste sábado (28) que matou o líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, durante os ataques realizados ontem no sul de Beirute, no Líbano. A informação foi confirmada no sábado pelo grupo.

O que aconteceu

O anúncio da morte de Hassan Nasrallah foi feito por porta-vozes do Exército de Israel na rede X. "Hassan Nasrallah está morto", escreveu Nadav Shoshani. "Os militares israelenses eliminaram o líder da organização terrorista Hezbollah", postou Avichay Adraee.

Quem era Hassan Nasrallah

O clérigo muçulmano Hassan Nasrallah, 64, lidera o Hezbollah desde 1992. Ele possuía laços estreitos com o Irã, país majoritariamente xiita. Com o apoio do Irã, Nasrallah organizou um grupo para lutar contra a ocupação israelense do Líbano em 1982, durante a guerra civil. O grupo evoluiu para o Hezbollah.

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Nasrallah nasceu em 1960 em um dos bairros pobres no leste de Beirute. Aos 15 anos, ele se tornou membro de um grupo político-militar xiita libanês, conhecido como Movimento Amal, fundado pelo clérigo iraniano Musa al-Sadr.

Em 1975, durante a guerra civil no Líbano, a família Nasrallah deixou Beirute. Eles foram morar em outra cidade libanesa, em uma vila perto da cidade de Tiro. Aos 16 anos, ele se mudou para Najaf, no Iraque, para estudar em um seminário xiita. Ele fazia parte de uma geração de jovens xiitas libaneses cuja perspectiva política foi moldada pela Revolução Islâmica de 1979 no Irã.

Hassan Nasrallah foi expulso do Iraque em 1978. Na época, o então vice-presidente Saddam Hussein, que era sunita, e seus apoiadores queriam enfraquecer os xiitas. Por isso, expulsaram todos os estudantes xiitas libaneses dos seminários do Iraque.

Ao longo dos anos 1980, o chefe do Hezbollah estudou em um seminário no Irã. Naquela ocasião, Abbas Musawi era o mentor de Nasrallah. Em 1992, Musawi foi morto em um ataque israelense, mesmo ano em que Nasrallah foi escolhido como o seu sucessor.

Desde que assumiu o cargo, Nasrallah evitava aparições públicas por medo de ser assassinado. Suas declaração eram, na maioria das vezes, televisionadas. Antes de liderar o grupo, ele costumava passar noites com guerrilheiros da linha de frente que combatiam o Exército de Israel. Em 1997, Muhammad Hadi, filho dele, foi morto em um confronto com forças israelenses.

Nas fotografias era comum vê-lo usando um turbante preto. Na tradição do islamismo xiita, isso significa que o clérigo é descendente do profeta Maomé.

Nasrallah ajudou a fortalecer o Hezbollah

Chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah Imagem: Reprodução/Al Jazeera

Ao longo dos anos, o Hezbollah se tornou uma organização militar e política. Nasrallah assegurou que seu movimento "superou" o número de 100 mil combatentes. Ele desempenhou um papel fundamental no fortalecimento do grupo.

Em 2006, militantes do Hezbollah invadiram Israel, que respondeu com um ataque. A guerra durou durou 33 dias. O conflito deixou mais de 1.200 mortos do lado libanês, a maioria civis, e cerca de 160 do lado israelense, a maioria soldados. Na prática, a guerra aumentou a popularidade de Nasrallah, retratado nos países árabes como uma resistência à Israel.

Em uma entrevista em 2006 ao jornal Washington Post, Nasrallah falou sobre como suas crenças foram forjadas. Ele disse que ao lado dos seus companheiros observavam "o que aconteceu na Palestina, na Cisjordânia, na Faixa de Gaza, no Golã, no Sinai", e isso os ensinou que "não podemos confiar nos estados da Liga Árabe, nem nas Nações Unidas. A única maneira que temos é pegar em armas e lutar contra as forças de ocupação", afirmou.

Apoio do Irã também fortaleceu o grupo. O Hezbollah, não por acaso, nasce três anos depois da formação da República Islâmica do Irã, que passa a incentivar as comunidades xiitas fora do Irã para que pudessem exportar o ideal da república islâmica para outros territórios.

Financiamento de armas e treinamentos. Segundo o Departamento de Estado dos EUA, o Irã fornece ao Hezbollah "a maior parte" do seu financiamento, bem como treinamento, armas e explosivos. Teerã também envia "ajuda política, diplomática, monetária e organizacional", denuncia Washington.

Além do poderio bélico e do prestígio político, o grupo está à frente de uma série de serviços aos libaneses. O grupo proporciona uma grande rede assistencialista no país, como escolas mais baratas, hospitais e serviços públicos de um modo geral.

O braço militar do Hezbollah é considerado uma organização terrorista por muitos países ocidentais. Entre eles, os EUA, a União Europeia, o Reino Unido e o Canadá. Para o professor Murilo Meihy, a classificação é usada de forma política.

"O termo 'terrorista' para uma determinada entidade muitas vezes está relacionada a posição geopolítica que essa entidade executa em uma determinada área de influência. Então, em razão do alinhamento do Hezbollah com alguns Estados nacionais no Oriente Médio que são considerados rivais dos interesses das potências ocidentais, como é o caso do Irã e da Síria, por exemplo, em muitos casos ele vai ser chamado de terrorista", explica.

Ameaça de nova guerra

Escalada militar ameaça mergulhar o Oriente Médio em uma nova guerra. Diante disso, os Estados Unidos e a França, apoiados por vários países ocidentais e árabes, fazem um apelo por um cessar-fogo de 21 dias. No entanto, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, garantiu na quinta-feira (26) que seu exército continuará o combate contra o Hezbollah "com toda a força necessária". O ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, reforçou que a ofensiva terá seguimento "até a vitória".

Netanyahu discursou nesta sexta-feira (27) na Assembleia Geral da ONU, que teve início na terça-feira (24) em Nova York. Vaiado no início, Netanyahu fez críticas ao Irã, a quem chamou de "maldição", e falou sobre uma "reconciliação histórica" entre árabes e judeus.

Premiê disse que foi à ONU para 'falar a verdade' sobre Israel. Ele declarou que não pretendia comparecer neste ano porque seu país "está lutando por sua vida", mas precisava "esclarecer as coisas" após ouvir mentiras e calúnias. "Israel busca a paz, Israel anseia pela paz, Israel fez a paz e fará a paz novamente", afirmou Netanyahu. "Mas temos inimigos selvagens que buscam nos aniquilar".

O primeiro-ministro afirmou que o objetivo na guerra Israel contra o Hamas é derrotar o grupo extremista. "Essa guerra pode terminar agora. Tudo o que precisa acontecer é o Hamas se render, abaixar suas armas e devolver os reféns. Mas se eles não fizerem isso, nós vamos lutar até alcançar a vitória. A vitória total. Não há substituição para isso", afirmou o premiê.

Netanyahu acusou o Irã de ter bombardeado Israel diretamente pela primeira vez, com mísseis lançados do território iraniano. O premiê garantiu que está preparado para uma guerra contra o país. "Se vocês atacarem a gente, nós te atacaremos", afirmou.

Bombardeiros de Israel ao Líbano completaram uma semana nesta sexta (27), com mais de 700 mortes. O premiê israelense também afirmou que não está em guerra com o Líbano. "Não estamos em guerra com vocês, estamos em guerra com o Hezbollah". Netanyahu afirmou que o grupo xiita "sequestrou o Líbano". Ele também reafirmou que Israel tem o direito de atacar o Hezbollah.

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