Como morte de prefeito decapitado explica atuação de cartéis no México
Em pouco mais de uma semana, três agentes públicos foram assassinados em Chilpancingo, capital de Guerrero, no sudoeste do México. Entre eles está o prefeito recém-eleito, Alejandro Arcos, decapitado pelos criminosos no domingo (6).
O que aconteceu
A imprensa mexicana levanta a possibilidade de Arcos ter sido morto por integrantes de um dos cartéis que atuam na cidade. Segundo a empresa de segurança internacional AC Consultores, três grupos criminosos estão presentes em Chilpancingo: Cartel del Sur, Los Tlacos e Los Ardillos.
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O líder do Ardillos, Celso Ortega Jiménez, foi flagrado em uma reunião com a então prefeita Norma Otilia Hernández, no ano passado. O episódio levou à expulsão dela do partido Morena em setembro deste ano. O secretário de segurança de Chilpancingo, Omar García Harfuch, disse que Arcos estava a caminho de uma reunião em Petaquillas, cidade dominada por facções ligadas ao cartel que se reuniu com a ex-prefeita.
"O México se constitui como uma das rotas mais importantes para o comércio ilícito do mundo", ressalta ao UOL Tomaz Oliveira Paoliello, professor e pesquisador sobre segurança da PUC-SP. "Isso não significa que vá produzir violência. Outros lugares que têm presença do crime organizado não são tão violentos. A violência está relacionada com a presença de grupos em disputa", acrescentou.
No plano nacional, Sinaloa e CJNG (Jalisco Nova Geração), os dois principais cartéis do México, disputam áreas estratégicas para o tráfico de drogas. A violência no país vizinho está concentrada em: rotas para o transporte de drogas, fronteiras, portos de entrada dos componentes chineses do fentanil - droga sintética - e regiões agroindustriais submetidas à extorsão.
O sociólogo José Vicente Tavares, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), cita um acordo de paz como uma medida a curto prazo para combater a violência relacionada aos cartéis. "Um acordo em nome da redução da violência letal. Tivemos a experiência da militarização da segurança, que não deu resultado. Acho que a nova presidente deve ir por esse caminho", destaca.
Guerrero é a 12º entidade federativa mexicana com a maior taxa de vítimas de crimes por cada 100 mil habitantes, segundo pesquisa do Inegi (Instituto Nacional de Estatística e Geografia). Foram registrados 15.602 delitos em 2023, uma queda de 11,3% em relação a 2022 (17.580).
Plano de segurança
Claudia Sheinbaum, presidente recém-empossada do México, apresentou na terça-feira (8) um plano de segurança para acabar com a espiral de violência no país, que mata 30 mil por ano. "A guerra contra o tráfico de drogas não vai voltar", disse a governante de esquerda, referindo-se à ofensiva iniciada em 2006 com participação militar e apoio dos Estados Unidos.
Sheinbaum manterá em linhas gerais a estratégia de seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador. Ele defendia o combate à criminalidade desde suas raízes com investimento social.
O professor Tomaz Paoliello ressalta a importância do investimento na área social, mas sugere medidas mais efetivas a curto prazo. "Para redução da violência, negociação de tréguas e divisão de espaços entre facções criminais no curtíssimo prazo", exemplifica.
No pronunciamento, a nova presidente defendeu priorizar os estados mais perigosos: Guanajuato, Baja California, Chihuahua, Guerrero, Jalisco e Sinaloa, além de atacar o que chamou de "crimes de alto impacto", como a extorsão.
Tem que separar o combate ao crime organizado do combate à violência. Inclusive, o combate ao crime organizado, via de regra, produz mais violência quando há confronto armado com forças policiais.
Professor Tomaz Oliveira Paoliello
*Com informações da AFP