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Casais de religiões diferentes lutam com a árvore de Natal

Quando um lado do casal cresceu com uma árvore de Natal e o outro não, erguer o símbolo cristão na sala pode até dar briga - Getty Images
Quando um lado do casal cresceu com uma árvore de Natal e o outro não, erguer o símbolo cristão na sala pode até dar briga Imagem: Getty Images

Andy Newman

24/12/2014 06h01

Duas pessoas se conhecem. Elas se apaixonam. Surgem grandes perguntas. Morar juntos? Você quer filhos? Grandes perguntas são respondidas. A vida segue o fluxo.

Então chega dezembro e para alguns casais as coisas se complicam.

"Vamos montar uma árvore?"

Quando uma metade do casal é judia e a outra é gentia – ou melhor, quando uma cresceu com uma árvore de Natal e a outra não –, a questão pode vir carregada de todo tipo de bagagem cultural e emocional.

A árvore de Natal tem sua origem nos ritos pré-cristãos do solstício de inverno – uma comemoração do poder das plantas sempre-verdes, que desafiam a morte. Mas, como símbolo comum do cristianismo, é poderoso.

Com o Hanucá na reta final e o Natal se aproximando, "The New York Times" perguntou a leitores judeus que têm relacionamentos com pessoas de outras religiões sobre sua primeira árvore.

Para alguns, permitir que uma árvore entrasse em seu espaço de estar foi uma rendição à assimilação, provocando culpa. Para outros, foi uma fusão feliz, muitas vezes envolvendo uma árvore e um menorá.

Às vezes cada um dos lados tem de ceder. Quando Simon Silverstein e sua mulher foram morar juntos no Brooklyn, ele era firmemente contra a árvore de Natal. "Eu dizia: 'Não estou habituado a isso, e realmente não quero'", lembrou ele.

Afinal, depois que o casal teve filhos, Silverstein concordou com um ramo de pinheiro em um vaso. Hoje sua árvore é uma escultura de madeira feita por ele, com uma Estrela de Davi no topo. "Nosso acordo parece estar funcionando", disse Silverstein. "Estamos casados há 50 anos."

No caso de Cheshire Frager, foi seu marido cristão que teve de ceder. Como muitos judeus, Frager, que é de Queens, cresceu compartilhando as tradições cristãs de seus amigos. Quando ela se casou com um ítalo-americano há 44 anos, pensou que teria sua própria árvore.

"Imaginem minha tristeza", escreveu, "quando a árvore veio a ser uma pequena oferta da Woolworth's com 60 centímetros de altura que meu marido, um diretor de arte, decorou com balas e outras bobagens."

Depois de "sete amargos anos" de Natais com árvores pequenas, o casal mudou-se de um apartamento para uma casa e Frager conseguiu o que queria: uma verdadeira árvore de 2 metros de altura, com luzes, guirlandas douradas e vinhas.

"Culpada? De jeito nenhum", disse Frager, que trabalha para uma instituição de caridade judaica. "Nós fizemos coisas de Hanukkah para Hanukkah e coisas de Natal para o Natal."

Mas para Eric Ben Reuven, do Queens, a primeira árvore "foi uma coisa difícil". A árvore, ele escreveu, "tinha uma linda decoração e acrescentou um brilho cálido à sala de estar, mas era um pouco difícil vê-la ali". A hoje ex-mulher de Ben Reuven mais tarde se converteu ao judaísmo e acabaram-se as árvores. "Parecia estranho para ela não ter uma árvore em uma casa onde ela morava", escreveu ele.

Um dos acordos mais criativos pode ser encontrado na casa de Michael Patchen, de Greenwich, Connecticut: uma "Árvore Menorá" de 2 metros de altura, com nove galhos-candelabros gigantes, cada qual enrolado com folhagem de pinheiro e decorado com ornamentos.

No Instituto Judaico Outreach, uma organização de Nova York que ajuda famílias inter-religiosas a se conectarem com a comunidade judia, Paul Golin, o diretor-executivo associado, diz que recebe perguntas frequentes sobre o que é amplamente chamado de "dilema de dezembro".

"Infelizmente, todo mundo tem de responder por si mesmo sobre seu nível de conforto", disse ele. "É uma questão do que isso significa e como você o apresenta. Por exemplo, ouvi falar em famílias em que a criança ajuda o pai ou a mãe a comemorar o Natal, então eles consideram isso uma tradição de um lado da família."

O próprio Golin não tem uma árvore de Natal. Sua esposa é japonesa e não é cristã, mas como muitos japoneses ela cresceu com uma árvore e pediu uma. "Ela disse: é uma coisa cultural japonesa. Mas eu disse: não, não é japonesa, é ocidental e é como a cultura se adaptou." Então concordamos em comemorar só Hanucá em nossa casa", disse ele.

"Mas minha mulher sente um certo grau de perda e que está fazendo um sacrifício, e eu lhe digo que aprecio isso. Ela está desistindo de uma parte de sua infância."

Michael Bassman, do Queens, escreveu que embora fique "pouco à vontade com a árvore" acompanha sua família.

"Ela é bonita, cheira bem e é uma parte indispensável do ritual de Natal de minha mulher e, nos últimos 13 anos, de meus filhos", ele escreveu. Bassman ajuda a escolher a árvore, mas não coloca os enfeites.

Depois há o caso de Zachary Assael-Berkowitz Staggers, 28, e sua ex-namorada católica Alison McCarthy. Eles terminaram há alguns meses, mas continuam amigos, por isso quando Alison pediu que Staggers a ajudasse a comprar a árvore ele aceitou.

Na noite marcada, Staggers exagerou no jantar, viu-se incapaz de dirigir e cancelou. Alison ficou arrasada. "Foi como se eu tivesse profanado uma igreja ou dito a um grupo de crianças que Papai Noel não existe", disse Staggers.

Na manhã seguinte, ele foi até uma barraca de venda de pinheiros na rua. Desorientado, pediu que o vendedor lhe recomendasse. "Escolha qualquer uma", respondeu o homem bruscamente.

Staggers encontrou uma árvore que era pequena, mas "parecia bastante pontuda, ou fofa, ou alguma coisa". Ele a levou ao apartamento de Alison, que tinha saído, então a colocou no suporte.

"Gorducha e redonda, ela se inclinava para um lado desajeitada e parcialmente bloqueava a porta do quarto da minha ex", escreveu ele. Enrolada em um cordão de luzes de Natal, a árvore parecia "um homem obeso tentando caber em uma lingerie de mulher".

Mas pelo menos Alison tinha uma árvore, disse Staggers a si mesmo.

Naquela noite, ela lhe enviou uma mensagem: "Obrigada pela árvore", e ele se sentiu redimido. Então viu que ela continuava digitando.
"Pena que não seja uma árvore de Natal", escreveu Alison. "É um arbusto de Hanukkah, e está meio torto."