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Iluminação de LED poupa energia, mas irrita moradores em Nova York

19.mar.2015 - A moradora Jolanta Benal enfrenta em sua cama o brilho intenso <br>da nova luz de LED instalada em sua rua, em Nova York - Andrew Renneisen/NYT
19.mar.2015 - A moradora Jolanta Benal enfrenta em sua cama o brilho intenso <br>da nova luz de LED instalada em sua rua, em Nova York Imagem: Andrew Renneisen/NYT

Matt A. V. Chaban

Em Nova York

25/03/2015 06h00

O futuro é brilhante nas ruas de Nova York. Para Jolanta Benal e seus vizinhos no bairro de Windsor Terrace, no Brooklyn, brilhante demais.

"Sinto-me em um shopping center no espaço exterior", disse Benal, sentada em sua casa em Horace Court na semana passada. A luz de fora invadia a sala, contornando as cortinas de veludo com que ela substituiu as transparentes. "Não quero parecer melodramática, mas isto é realmente horrível", disse ela.

Para alguns moradores, a nova iluminação faz parecer que há uma equipe de construção ou de cinema trabalhando lá fora a noite inteira. Outros comparam as luzes a um pátio de prisão, ou brincam sobre abduções por alienígenas.

Mas as luzes na rua são as mesmas de sempre, a não ser por uma pequena alteração, parte da campanha da prefeitura para tornar Nova York mais verde.

"A cada dia que passa há mais delas", disse Benal. "Não há um lugar para a gente se esconder."

Realmente não há como escapar: em dois anos, todas as 250 mil lâmpadas de rua da cidade serão substituídas. O halo laranja das lâmpadas de vapor de sódio terá desaparecido da noite urbana, eclipsado pela intensidade lavada dos diodos emissores de luz [LED na sigla em inglês], que economizam energia.

Os novos LEDs podem ser ambientalmente sensatos, mas também são opticamente duros.

"As antigas luzes deixavam todo mundo feio", disse Christopher Stoddard, arquiteto que mora na esquina de Fuller Place. "Mas estas são tão frias e azuis, que lá fora parece 'A Noite dos Mortos Vivos'."

"Todos somos a favor de economizar energia", disse sua mulher, Aida Stoddard, também arquiteta. "Mas a cidade pode fazer melhor que isso."

A poucos quarteirões dali, Rose Gallitelli colou sacos de lixo pretos nas janelas de seu quarto, para conseguir dormir. "São do tipo reforçado", explicou.

A mudança começou em outubro de 2013, perto do final da administração de Michael Bloomberg. Tendo substituído as lâmpadas incandescentes por espirais fluorescentes compactas em muitos prédios da Prefeitura, as autoridades quiseram efetuar uma transformação semelhante nas ruas.

Depois de testar as LEDs em rodovias e nos parques desde 2011, o Departamento de Transportes fez as primeiras instalações em bairros no mês passado, levando centenas de novas lâmpadas para as áreas de Kensington e Windsor Terrace, no sul do Brooklyn.

"Com a cidade reduzindo sua pegada total de carbono em 30% até 2030, em nossa agência esta é uma das maiores contribuições que podemos dar", disse a primeira vice-comissária do departamento, Lori Ardito. "Estamos sempre procurando melhorias e inovações que possamos fazer nas ruas, sejam ciclovias ou novos parquímetros, e a nova iluminação de rua faz parte disso."

A cidade está gastando US$ 75 milhões nas novas luzes, embutidas em equipamentos tipo "cabeça de cobra" compatíveis com LEDs, afixadas aos postes de iluminação existentes. Anualmente, elas vão economizar US$ 6 milhões em energia e US$ 8 milhões em manutenção, porque duram até 20 anos, duas a quatro vezes mais que a maioria das lâmpadas de vapor de sódio.

"Na medida em que você pode tornar as operações da cidade mais sustentáveis, simplesmente paga muitos dividendos", disse Margaret Newman, líder dos LEDs no governo Bloomberg.

Mas ela disse que, se a cidade tivesse feito um pouco mais de promoção da nova iluminação, especialmente no Brooklyn, de mentalidade ecológica, ela teria sido mais facilmente aprovada.

Jim Knowles, um antigo morador que tomava uma cerveja no Rhythm & Booze, não via a vantagem. "Eles acham que estamos loucos?", indagou. "Eles têm sorte de que não começaram em Park Slope." As luzes eram fortíssimas não apenas diante de seu bar favorito, mas também de sua casa na Rua 18.

Este não é um problema só de Nova York.

Cidades como Davis, na Califórnia, e Seattle também lutaram com as novas LEDs, mas outras, como Filadélfia e a notoriamente escura Detroit, as adotaram.

Os problemas com as LEDs dificilmente são inventados, segundo especialistas em iluminação.

"As pessoas têm o direito de se queixar do que chamamos de 'invasão luminosa'", disse Paul Marantz, um designer de iluminação que trabalhou em marcos como a boate Studio 54, a estação Grand Central e o Tributo em Luz anual no World Trade Center. "Apesar de a luz amarela das lâmpadas de sódio não refletir direito as cores, havia nelas um calor que falta nas novas luzes. E por causa da maneira como as LEDs são desenhadas a luz é muito mais dirigida, com mais reflexo."

Mas a iluminação tem seus fãs, como a balconista que servia as bebidas de Knowles. "As pessoas ainda são assediadas por aqui", disse Paula Burke, em um forte sotaque inglês. "Agora me sinto muito mais segura quando vou pegar o trem."

"Para que você precisa olhar diretamente para as luzes?", acrescentou ela.

Alguns disseram que as pessoas devem se acostumar com o brilho branco, já que é muito semelhante à luz que emana das telas de celulares e computadores.

Nos relativos descampados do Central Park, que recebeu LEDs em 2012, a iluminação mostrou-se bastante popular. "Embora fosse um pouco chocante no início, eu imediatamente fiquei à vontade", descreveu em um e-mail Tony Ruiz, um treinador do Central Park Track Club. "Definitivamente elas tornam o parque mais seguro à noite. Talvez até afaste os gambás das pistas de corrida."

De fato, as luzes poderão ajudar a combater o crime. Newman indicou uma pesquisa em Los Angeles que demonstrou que quando a iluminação de vapor de sódio foi substituída o reconhecimento facial das câmeras de vigilância melhorou.

Enquanto imagina uma solução para o longo prazo, como telas ou filtros, a Prefeitura tem enviado trabalhadores para ajustar o ângulo das LEDs para impedir que a luz penetre nas residências. É um problema que também afetava as antigas lâmpadas, disse Ardito, do Departamento de Transportes.

Talvez seja apenas a novidade das luzes que esteja causando comoção, como a introdução dos cartões de metrô ou das telas de vídeo nos táxis. Mas Brad Lander, o vereador cujo distrito inclui Windsor Terrace e Kensington, disse que o bairro estava cego.

"No Departamento de Transporte, acho que eles viram isso apenas como trocar algumas lâmpadas", disse ele. "Já é bastante difícil dormir em Nova York do jeito que está."