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Bebida alcoólica em pó gera polêmica antes mesmo de chegar ao mercado nos EUA

Mark Phillips mostra vodca em pó dentro de copo; empresário enfrenta resistência - Nick Cote/The New York Times
Mark Phillips mostra vodca em pó dentro de copo; empresário enfrenta resistência Imagem: Nick Cote/The New York Times

Rachel Abrams

13/04/2015 06h00

Em 2012, Mark Phillips precisava de uma maneira de comercializar sua nova invenção: álcool em pó que pode ser misturado à água. Você pode polvilhá-lo no guacamole, mas aspirá-lo o deixaria bêbado tão rápido que provavelmente não seria uma boa ideia, escreveu Phillips na internet naquela época.

Mas agora Phillips está na mira dos legisladores estaduais e federais que querem proibir o seu produto – que ele diz ter sido inspirado por sua paixão por trilhas e pela falta de vontade de carregar garrafas de bebida morro acima – e essas declarações voltaram para assombrá-lo.

Preocupados com a possibilidade de [o produto] gerar abuso, seis Estados aprovaram leis para simplesmente proibir o álcool em pó, de acordo com a Conferência Nacional dos Legislativos Estaduais. O senador Charles E. Schumer, democrata de Nova York, apresentou um projeto de lei no mês passado para proibir a venda e fabricação do produto em todo o país.

Phillips não é o primeiro a desenvolver uma forma de álcool em pó. Isso já foi produzido na Europa e no Japão e patentes já foram emitidas nos Estados Unidos. A versão de Phillips, desenvolvida por sua empresa, Lipsmark, de Tempe, Arizona, foi aprovada para venda no mês passado pelo Escritório de Impostos e Comércio de Álcool e Tabaco. No entanto, ainda está sujeita à regulação estatal.

Em resposta à crescente oposição, Phillips tem feito uma defesa vigorosa de seu produto, chamado Palcohol, dizendo que ele não é mais perigoso do que a versão líquida vendida nas lojas de bebidas. Ele já não faz mais sugestões para aspirar ou usar no guacamole, que, segundo ele, foram publicadas por engano no site da Palcohol e nunca fizeram parte da estratégia de marketing. Elas foram substituídas por uma ênfase nas vantagens práticas de uma bebida leve e pela necessidade de utilizar o produto de forma responsável.

Para demonstrar como estava errado antes, Phillips disse que ele mesmo aspirou o Palcohol para provar que não era uma forma eficaz ou rápida de ficar bêbado, o que ele disse não ter feito antes de suas primeiras declarações. A experiência foi, em uma só palavra, desagradável.

"Levaria uma hora de dor para ingerir o equivalente a uma dose", disse Phillips em uma entrevista. "E realmente queima." O site do Palcohol agora diz que aspirar é desagradável e não é prático.

A mudança de rumo, contudo, pode não ser suficiente para os legisladores, disse George Fisher, professor de direito na Universidade de Stanford, que estudou a história da regulação do álcool. Desde que o site do Palcohol sugeriu que aspirar o produto era uma forma de ficar bêbado rápido – ainda que fazer isso fosse imprudente –, "os legisladores, imagino, estarão mais inclinados a avaliar o marqueteiro pelas suas palavras originais”, disse ele.

Os opositores do álcool em pó dizem que o produto pode aumentar as chances de abuso e consumo de álcool por menores, uma afirmação contestada por Phillips. Schumer se referiu ao produto como “Kool-aid” [“Ki-Suco”, no Brasil], enquanto outros dizem temer que a forma em pó seja mais fácil de esconder.

Apesar da oposição, Phillips espera ter Palcohol nas prateleiras das lojas até ao meio do ano. Por causa da incerteza regulatória nos Estados Unidos, ele diz que vem buscando formas de fabricar o Palcohol no exterior.

O objetivo é criar cinco versões: rum, vodca e três bebidas misturadas, Cosmopolitan, Lemon Drop e uma versão de margarita chamada Powderita, de acordo com o site da empresa. Cada versão será vendida em pacotes com uma única dose, disse Phillips, que os consumidores poderão misturar com 180 ml de líquido para preparar uma bebida. Cada bebida terá um volume de 10% de álcool, o equivalente a uma taça de vinho.

Em março, o regulador de Maryland, Peter Franchot, anunciou um acordo com grupos do setor do álcool para se absterem voluntariamente de vender ou distribuir álcool em pó. Ele disse que os consumidores poderiam criar bebidas perigosas, misturando vários pacotes de Palcohol em uma única bebida.

"A probabilidade de um abuso generalizado do Palcohol – principalmente entre menores de idade – traz consigo uma possibilidade real de consequências trágicas", disse Franchot em um comunicado, “e é por isso que estou tão satisfeito com a resposta unificada do setor para proteger o público de um produto tão perigoso".

No passado, a FDA (Food and Drug Administration [agência dos EUA que regulamenta alimentos e medicamentos]) opinou sobre alguns produtos alcoólicos, como a bebida Four Loko. Seus fabricantes retiraram a cafeína da bebida depois de receber uma carta de advertência da FDA.

Entretanto, a FDA não se envolveu com o Palcohol. Em um comunicado em seu site, a agência disse que os ingredientes do Palcohol eram os mesmos tipicamente encontrados em muitos alimentos processados e que eles cumprem com as regulações da FDA.

No entanto, os Estados do Alaska, Louisiana, Carolina do Sul, Utah, Vermont e Virgínia tomaram medidas de regulação, de acordo com a conferência dos legisladores estaduais.

Phillips disse duvidar que as proibições estaduais contra o Palcohol serão eficazes para limitar seu uso. "Não há nada de bom na proibição", disse Phillips. "Se ele não for regulado, ficará mais fácil para as crianças obterem o produto, exatamente o contrário do que era a intenção deles.”

Ryan Stanton, um médico de pronto-atendimento e porta-voz do American College of Emergency Physicians, disse que, embora o álcool em pó tenha sido vendido fora dos Estados Unidos, ele não viu provas de que ele tenha causado abuso ou de que fosse mais perigoso do que o álcool comum.

"Acredito que o álcool, não importa de que maneira ele é comercializado, ainda é um grande risco para a saúde e a segurança nos Estados Unidos", disse ele. "Quero ver o que as pessoas farão para tornar isso perigoso. Porque tenho certeza que alguém descobrirá uma forma de torná-lo perigoso.”

Tradutora: Eloise De Vylder