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Meu governo vai deter o Boko Haram, diz presidente eleito da Nigéria

Muhammadu Buhari*

Em Abuja (Nigéria)

15/04/2015 06h00

Meu governo o derrotará, então fornecerá a educação que ele despreza.

Quando o Boko Haram atacou uma escola na cidade de Chibok, no nordeste da Nigéria, sequestrando mais de 200 meninas, na noite de 14 de abril de 2014, a população do meu país ficou horrorizada. Por todo o mundo, milhões de pessoas se juntaram na pergunta: como foi possível esse grupo terrorista agir com tamanha impunidade? Foi preciso quase duas semanas para que o governo ao menos comentasse sobre o crime.

Essa falta de reação foi sintomática para o governo do presidente Goodluck Jonathan ter perdido a eleição no mês passado –a primeira vez que um presidente do país perdeu seu cargo por meio do voto na história de nosso país. O governo esteve por tempo demais no poder sem governar, tão focado em seus próprios interesses e emaranhado na corrupção a ponto de o dever de reagir à angústia sofrida por seus cidadãos se tornar estranho para ele.

Meu governo, que tomará posse em 29 de maio, agirá de modo diferente –de fato, esse foi o motivo para ter sido eleito. Isso deve começar com honestidade sobre se a meninas de Chibok podem ser resgatadas. Atualmente, o paradeiro delas permanece desconhecido. Nós não sabemos em que estado se encontram a saúde e o bem-estar delas, ou se ainda estão juntas ou vivas. Por mais que eu gostaria, não posso prometer que nós as encontraremos; fazê-lo seria oferecer esperança infundada, apenas para aumentar o pesar se, posteriormente, descobrirmos que não poderemos atender a expectativa. Mas digo a todo pai, familiar e amigo das crianças que meu governo fará tudo ao seu alcance para devolvê-las aos seus lares.

O que posso prometer, com absoluta certeza, é quem desde o primeiro dia do meu governo, o Boko Haram conhecerá a força de nossa vontade coletiva e o compromisso de livrar este país do terror, assim como trazer de volta a paz e a normalidade a todas as áreas afetadas, Até agora, a Nigéria deixava a desejar em sua resposta à ameaça: com nossos vizinhos lutando arduamente para empurrar os terroristas para o sul e para fora de seus países, enquanto nossas Forças Armadas não eram suficientemente apoiadas ou equipadas para avançar para o norte. Em consequência, a falta de determinação do governo de saída se transformou em um facilitador acidental do grupo, permitindo que operasse com impunidade em território nigeriano.

Esse é o motivo para a derrota do Boko Haram começar e terminar na Nigéria. Isso não quer dizer que aliados não possam nos ajudar. Meu governo apreciará a retomada de um acordo de treinamento militar com os Estados Unidos, que foi suspenso durante o governo anterior.

Nós temos, é claro, que realizar uma melhor coordenação com as campanhas militares de nossos aliados africanos, como Chade e Níger, que participam da luta contra o Boko Haram. Mas, no final, a resposta a essa ameaça deve vir de dentro da Nigéria.

Nós temos que começar empregando mais tropas na linha de frente e longe das áreas civis na região sul e central da Nigéria, onde por tempo demais foram usadas por governos sucessivos para reprimir a dissensão. Nós temos que trabalhar de modo mais estreito com nossos vizinhos na coordenação de nossos esforços militares, para que a ofensiva de um Exército não resulte nas terras de seu país serem libertadas do Boko Haram, apenas para empurrá-lo para o outro lado da fronteira, para território de seus vizinhos.

Mas, à medida que nossas forças armadas subjugarem o Boko Haram, como ocorrerá, nós temos que estar prontos para nos concentrarmos no que mais deve ser feito para combater os terroristas. Nós temos que tratar das causas que levam os jovens a se juntarem ao Boko Haram.

Há muitos motivos para jovens vulneráveis se juntarem a grupos militantes, mas entre eles estão a pobreza e a ignorância. De fato, o Boko Haram –cuja tradução aproximada seria "a Educação Ocidental É Pecaminosa"– explora a crença perversa de que as oportunidades que a educação proporciona são pecaminosas. Se você está com fome e é jovem, e à procura de respostas para o motivo de sua vida ser tão difícil, o fundamentalismo pode ser atraente. Nós sabemos que isso é fato porque ex-membros do Boko Haram reconheceram: eles oferecem a jovens impressionáveis dinheiro e a promessa de comida, enquanto os mentores do grupo torcem a mente deles com fanatismo.

Logo, devemos estar prontos para oferecer às partes de nosso país afetadas por esse grupo uma alternativa. Promover a educação será uma resposta direta ao apelo do Boko Haram. Em particular, nós devemos educar mais meninas, assegurando que cresçam empoderadas por meio da educação para serem cidadãs plenas da Nigéria e tirarem a si mesmas da pobreza. De fato, nós devemos às meninas de Chibok fornecer a melhor educação possível para seus pares por todo o país.

O Boko Haram se alimenta do desespero. Ele se alimenta da falta de esperança de que as coisas podem melhorar. Ao atacarem um local de ensino e ao sequestrarem mais de 200 estudantes, ele busca atacar o próprio local onde a esperança no futuro é nutrida, assim como a promessa de uma Nigéria melhor. É nossa intenção é mostrar ao Boko Haram que não terá sucesso.

Meu governo primeiro buscará derrotá-lo militarmente e depois assegurar que forneceremos a mesma educação que ele despreza, para ajudar nosso povo a ajudar a si mesmo. O Boko Haram logo descobrirá que, como disse Nelson Mandela, "a educação é a arma mais poderosa que alguém pode usar para mudar o mundo".

*Muhammadu Buhari é o presidente eleito da Nigéria.

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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