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Sistema escolar é arrasado após terremoto no Nepal

Equipes de resgate e moradores procuram por sobreviventes em frente a uma casa que desabou em Katmandu, no Nepal, nesta terça-feira (12). Um novo terremoto, de magnitude 7,3 sacudiu o Nepal e teve seu epicentro registrado a nordeste de Katmandu, a mesma região que foi a mais afetada pelo sismo do último dia 25. O novo tremor foi seguido de três réplicas, uma delas de magnitude 6,3, informou o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, sigla em inglês) - Prakash Mathema/AFP
Equipes de resgate e moradores procuram por sobreviventes em frente a uma casa que desabou em Katmandu, no Nepal, nesta terça-feira (12). Um novo terremoto, de magnitude 7,3 sacudiu o Nepal e teve seu epicentro registrado a nordeste de Katmandu, a mesma região que foi a mais afetada pelo sismo do último dia 25. O novo tremor foi seguido de três réplicas, uma delas de magnitude 6,3, informou o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, sigla em inglês) Imagem: Prakash Mathema/AFP

Gardiner Harris

Em Chautara (Nepal)

14/05/2015 06h01

As paredes de concreto do colégio daqui se despedaçaram como um espelho, deixando uma treliça de fissuras que cruza toda parede e pilar.

Engenheiros condenaram a escola, a Shree Gyan Mandir Mamuna de ensino médio, temendo que a continuidade dos tremores secundários do terremoto devastador do mês passado pudesse causar o colapso de pelo menos um dos dois pisos da estrutura. Foi o que aconteceu na casa vizinha, onde o segundo andar agora é o primeiro.

Apesar da falta de informação sobre a extensão dos danos por todo o Nepal, as autoridades dizem que milhares de escolas foram destruídas e que dezenas de milhares de salas de aula precisam ser substituídas.

"Quase 1 milhão de crianças que estavam matriculadas na escola antes do terremoto agora podem não ter uma escola para a qual retornarem", disse Tomoo Hozumi, o representante do UNICEF no Nepal. "A interrupção prolongada da educação pode ser devastadora para o desenvolvimento e futuras perspectivas das crianças."

Apesar do governo esperar concluir a construção de 7 mil centros temporários de aprendizado feitos de tendas e bambu nesta semana, as autoridades dizem que não esperam poder substituir todas as escolas danificadas a tempo.

"Apesar dos danos imensos na infraestrutura escolar, nós estamos planejando retomar as aulas a partir de 17 de maio", disse Khagendra Prasad Nepal, um porta-voz do Ministério da Educação. "Esperamos que isso crie um ambiente escolar onde os alunos possam se reunir e compartilhar experiências pessoais em um cenário pós-terremoto. Isso nos ajudará a superar o desastre."

Tremores secundários continuam sacudindo os nepaleses, incluindo um terremoto de 7,3 de magnitude que matou pelo menos 65 pessoas na terça-feira (12).

Aqui em Chautara, as autoridades locais continuam usando o colégio para armazenar e distribuir os suprimentos de ajuda humanitária. Na semana passada, uma fila de pelo menos 150 pessoas serpenteava ao redor do pátio da escola, e o vice-diretor da escola entrava repetidamente em uma sala de aula danificada para buscar sacos gigantes de arroz.

Mas as autoridades dizem que não permitirão o retorno dos cerca de 350 alunos da escola ao prédio quando as aulas forem retomadas no domingo, após a pausa nacional de três semanas devido ao terremoto desastroso de 7,8 de magnitude, que destruiu cerca de 90% das edificações neste distrito pobre nas montanhas e matou mais de 8 mil pessoas por todo o Nepal. Onde as aulas recomeçarão ainda não foi decidido, disseram as autoridades.

"Não podemos decidir o que fazer", disse Krishna Prasad Dangal, o professor de economia da escola. "O governo terá que tomar uma decisão."

Defensores das crianças temem que o terremoto possa reverter décadas de progresso constante na frequência do ensino primário, que era de 95% pouco antes do terremoto, em comparação a 64% em 1990.

As escolas no Nepal já eram terrivelmente inadequadas mesmo antes do terremoto, e o índice de alfabetização do país --de cerca de 66%-- está entre os mais baixos na Ásia. Os professores faltam com frequência e as famílias costumam decidir que o ensino não vale a perda de trabalho no campo, especialmente considerando que muitas fazendas no Nepal ficam em encostas íngremes que exigem cuidados constantes.

O índice de evasão escolar é alto no Nepal, com cerca de 1,2 milhão de crianças com idades entre 5 e 16 anos abandonando a escola ou nunca a frequentando mesmo antes do terremoto, segundo o UNICEF.

A falta elevada de professores é amplamente vista como endêmica nas escolas rurais, e punição física é ministrada rotineiramente.

Com tanto trabalho a ser feito na reconstrução das aldeias e reconstrução das escolas danificadas, os defensores das crianças temem que muitas crianças nunca retornarão à escola.

Mesmo as escolas que ainda estão em pé foram em muitos casos ocupadas por desabrigados, que dificilmente serão removidos na próxima semana, devido à demora para chegada de tendas aos distritos mais seriamente afetados e o início do período das monções em cerca de cinco semanas.

"Serão necessários pelo menos três anos para superar os estragos do terremoto e as aulas voltarem a ser ministradas em estruturas permanentes", disse Khagendra Prasad Nepal, do Ministério da Educação.

O desastre teria sido ainda pior se o terremoto tivesse ocorrido em outro dia que não o sábado, o único dia em que a maioria das escolas e escritórios fecha no Nepal. Cerca de 31 professores, incluindo um da Shree Gyan Mandir Mamuna, e 200 alunos morreram no terremoto por todo o Nepal, segundo Khagendra Prasad Nepal.

Em Chautara, as crianças brincavam no único canto do playground que lhes restou, onde um escorregador enferrujado dava um alívio para a agonia incessante das últimas semanas.

Assistindo as crianças brincando, Gopal Dangal, um representante eleito do distrito, disse que mais que materiais educativos, as crianças de Chautara precisam de formas para brincar, para que possam esquecer as vidas e propriedades perdidas nos repetidos tremores que abalaram a confiança delas no mundo.

"Diga a eles que precisamos de bolas, brinquedos e outras coisas para estas crianças", ele disse. "Apenas diga isso para eles."