Como estou dirigindo? Dispositivo de rastreamento conta para a seguradora
Pare? Ou corra? Estas são normalmente as vozes que competem na cabeça dos motoristas quando eles se aproximam de um farol amarelo.
Grant Thomas, de Chattanooga, Tennessee, ouve outro som nessa situação: um bip recriminador que vem da parte de baixo do painel de seu Honda Civic 1998.
O ruído vem de um dispositivo fornecido pela sua seguradora, a Progressive, que bipa quando detecta uma freagem brusca. Quanto mais o dispositivo bipa, mais a Progressive o considera um motorista propenso a acidentes, e este é um dos dados que o dispositivo envia para a companhia para ajudar a calcular o valor do seguro dele.
Desde os primeiros dias do automóvel, os atuários ansiavam por uma forma de calcular a prestação dos seguros com base nos hábitos de direção diários dos consumidores. Mas eles tinham de recorrer a estatísticas baseadas em grupos, como idade, sexo e estado civil, para ajudar a determinar o risco de uma pessoa atrás de um volante.
Isso começou a mudar nos últimos anos, à medida que companhias de seguros como a Progressive começaram a promover dispositivos telemáticos, ou de rastreamento, que dizem a elas o quanto, quando e com que velocidade seus clientes dirigem. Os clientes que instalarem os dispositivos podem obter até 30% de desconto.
Mas as seguradoras estão apenas começando. Os dispositivos de rastreamento para veículos estão se tornando menores e mais baratos, o que incentivará as seguradoras a empurrá-los ainda mais para os clientes. Algumas empresas estão testando aplicativos para smartphones que podem rastrear o comportamento do condutor, o que poderia reduzir ainda mais os obstáculos para que as pessoas os utilizem.
Mudanças ainda maiores são esperadas nos tipos de dados coletados e como eles são analisados. Algumas empresas estão começando a examinar os dados de localização do veículo, por exemplo, o que pode oferecer informações preciosas sobre a frequência com que alguém dirige e acelera nas rodovias, ambos dados úteis para determinar o risco.
Existem alguns obstáculos no caminho dos dispositivos de rastreamento de veículos. Muitas pessoas já empalideceram com a ideia de deixar uma seguradora acompanhar cada movimento de seus carros. Os defensores dos consumidores temem que as seguradoras utilizem os dados sobre direção de formas inescrutáveis para estabelecer os valores dos seguros. Eles também temem que as seguradoras usem os dados para penalizar os consumidores que trabalham em turnos noturnos, por exemplo, ou em bairros de baixa renda.
“A telemática é uma grande promessa, mas também representa riscos”, diz Birny Birnbaum, diretor-executivo do Centro para a Justiça Econômica, um grupo sem fins lucrativos que atua como defensor dos interesses econômicos dos consumidores minoritários e de baixa renda. "Neste momento, a balança pende para o lado dos riscos."
Ainda assim, até os céticos admitem que o rastreamento oferece benefícios potenciais, permitindo a adoção de um conceito chamado “seguro baseado no uso”. A tecnologia pode ser usada para recompensar os bons motoristas com prestações mais baixas, obrigando os motoristas mais perigosos a pagarem mais. Isso pode ajudar a tornar as estradas mais seguras, dando aos motoristas um feedback constante sobre o seu comportamento – como aqueles bipes durante as freagens bruscas.
Em teoria, se as seguradoras decidirem que os dados de rastreamento superam outros métodos para determinar o risco de um motorista, isso poderia reduzir a dependência de fatores como análise de crédito e escolaridade, amplamente criticados. Ao permitir que as companhias de seguros cobrem mais dos motoristas que dirigem mais, o rastreamento oferece aos motoristas um incentivo para usar menos o carro, reduzindo os congestionamentos nas estradas e o impacto ambiental.
"Acredito que o seguro com base no uso, por ser mais justo e prático, será a forma dominante de seguro de veículos nos EUA e em todo o mundo", disse Robin Harbage, diretor da Towers Watson, empresa que ajuda as companhias de seguros a administrarem seus programas de rastreamento.
Pouco mais de 20 seguradoras norte-americanas oferecem programas de seguro baseados no uso, disse Harbage. O programa Snapshot da Progressive é de longe o mais popular, representando quase 15% dos negócios da empresa e gerando cerca de US$ 2,6 bilhões em prêmios de seguro no ano passado.
O dispositivo retangular, do tamanho da palma da mão, do Snapshot tem uma conexão sem fio que transmite dados para a Progressive automaticamente. Ele registra a hora do dia em que o carro é dirigido, os quilômetros percorridos e freagens bruscas, que a empresa define como reduções bruscas de velocidade de mais de 11 quilômetros por hora.
Dave Pratt, gerente-geral de seguros baseados no uso da Progressive, espera que no ano que vem a empresa possa começar a usar smartphones para acompanhar os clientes do Snapshot, o que diminuirá o custo do programa para a empresa.
O rastreamento da localização e o uso de aplicativos de telemática nos smartphones pelas seguradoras, contudo, deve apenas aumentar as preocupações que muitos motoristas já têm com relação à privacidade. Cerca de um terço dos clientes da Progressive dizem que não têm interesse no programa Snapshot por motivos de privacidade e é por isso que o programa continua sendo opcional, diz Pratt.
Uma start-up de seguro de veículos, a Metromile, concentra-se apenas no quanto – e não em como – alguém dirige. Dan Preston, executivo-chefe da Metromile, citou estudos que afirmavam que a maior parte do risco dos motoristas está associada ao número de quilômetros rodados, e não ao comportamento.
Os clientes da Metromile pagam uma taxa básica que varia de acordo com fatores demográficos e tipo de veículo. A empresa usa dispositivos telemáticos para controlar a quilometragem, cobrando até 6 centavos ou mais por milha rodada (1,6 quilômetro).
Seus motoristas gostam da simplicidade com que o valor é calculado. Se eles dirigem mais, pagam mais.
"Acho que, no geral, a nossa mensagem tem sido: temos uma taxa clara por quilometragem que é transparente para o usuário, assim ele sabe como jogar”, diz Preston.
Harbage, da Towers Watson, diz que a maioria dos clientes, especialmente os mais jovens, não se incomodam com a ideia de ser rastreados pelas seguradoras, desde que tenham algum benefício com isso.
"Em termos de gerações, isso só vai se popularizar, uma vez que as pessoas que usaram aplicativos baseados em localização durante anos enxergarem isso como uma extensão dos mesmos”, disse ele.
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