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Medo de lesões em alunos faz colégios dos EUA abandonarem futebol americano

Estudantes do Maplewood Richard High School treinam futebol após fim da equipe de futebol americano - Whitney Curtis/The New York Times
Estudantes do Maplewood Richard High School treinam futebol após fim da equipe de futebol americano Imagem: Whitney Curtis/The New York Times

Ken Belson

Em Maplewood, Missouri (EUA)

30/09/2015 06h00

Estudantes e famílias do colégio Maplewood Richmond Heights aguardam ansiosamente pelo "homecoming", o evento anual que é o ponto alto do calendário escolar de outono há décadas. Mas pela primeira vez, o evento central será o futebol, não o futebol americano. 

A junta de educação de Maplewood, um subúrbio de Saint Louis, desmanchou a equipe de futebol americano do colégio em junho, apesar dela ter chegado à final estadual há cinco anos. Há uma década, essa decisão teria sido considerada radical. Mas hoje, com o aumento das preocupações com a segurança dos jogadores, o futebol e outros esportes estão ganhando popularidade. 

"De modo geral, foi: 'Podemos colocar em campo uma equipe que seja competitiva e segura para os garotos jogarem?'" disse Nelson Mitten, presidente da Junta de Educação da Maplewood Richmond Heights, que disse que as lesões na última temporada incluíram um tornozelo fraturado, um ligamento cruzado anterior rompido e uma lesão séria na cabeça. "Sempre que há algo assim, a junta precisa ser responsável e discutir o que pode ser feito para assegurar que poderemos colocar uma equipe em campo." 

A viabilidade do futebol americano no ensino médio permanece inquestionável na maioria das comunidades nos Estados Unidos. Mas situações como a de Maplewood estão se tornando cada vez mais familiares.

O colégio Ridgefield Memorial, em Nova Jersey, eliminou o programa de futebol americano nesta temporada, porque apenas 13 alunos se candidataram. O colégio Camden Hills Regional, no Maine, anunciou na semana passada que cancelaria os últimos cinco jogos de sua temporada de futebol americano devido às lesões que deixaram a equipe com jogadores mais jovens e menos experientes, que correriam maior risco de se lesionarem. 

"Quero deixar claro para as pessoas que isso não tem nada a ver com vitórias ou derrotas, falta de esforço por parte de nossos garotos, de treinamento ou qualquer coisa que não os números", disse Nick Ithomitis, o diretor do Camden Hills. 

No fim de semana, as preocupações com a segurança dos jogadores se intensificaram quando Evan Murray, o quarterback astro do colégio Warren Regional, em Nova Jersey, desmaiou em campo após uma pancada e morreu logo depois. O médico legista do condado de Morris declarou a morte como sendo acidental e determinou que Murray sofreu rompimento do baço. O baço estava anormalmente grande, o tornando mais suscetível a ferimento, e não havia evidência de trauma na cabeça, disse o médico legista. 

Murray foi o terceiro jogador de futebol americano colegial a morrer nesta temporada por ferimentos sofridos em uma partida. Cinco jogadores morreram no ano passado, segundo o Centro Nacional para Pesquisa de Lesões Esportivas Catastróficas. 

Não há estatísticas precisas sobre quantas escolas encerraram seus programas de futebol americano por preocupações de segurança, mas várias equipes foram desmanchadas à medida que a participação nacional no futebol americano tem diminuído, em meio à crescente preocupação com concussões e outros riscos. 

Apesar da popularidade do futebol americano profissional e universitário, o número de jogadores colegiais caiu para cerca de 1,08 milhão neste ano, um declínio de 2,4% em cinco anos. 

A Pop Warner, a maior organização de futebol americano juvenil, aponta declínios maiores. Ela também foi processada pelo pai de um jogador que cometeu suicídio aos 25 anos, após ter sido diagnosticado com encefalopatia traumática crônica, uma doença cerebral resultante de repetidas pancadas na cabeça. 

O declínio na participação de jovens começa a preocupar a NFL (a liga profissional de futebol americano), já que a saúde da liga a longo prazo pode ser afetada. Ela doou dezenas de milhões de dólares à USA Football, que treina técnicos, preparadores físicos e promove um programa seguro de futebol americano colegial para tranquilizar os pais. 

O comissário da NFL, Roger Goodell, falando em uma conferência em Nova Orleans neste mês, disse que o esporte está "mais seguro do que nunca", por causa da conscientização a respeito das lesões. 

"Eu sofri uma concussão jogando beisebol e não fizeram nada a respeito", acrescentou Goodell. "Estamos mais espertos a respeito dos treinamentos a longo prazo." 

As ligas juvenis e colegiais estão seguindo o exemplo da NFL e reduzindo o contato nos treinamentos, mas a maioria das lesões mais sérias ocorre nas partidas. Os padrões de segurança também variam bastante. Muitas escolas, por exemplo, ainda não exigem que preparadores físicos e equipes de emergência estejam presentes nos jogos. Os técnicos às vezes não conseguem reconhecer os sintomas de concussões e não querem substituir os jogadores. 

"Muitas das proteções aos jogadores –equipamentos, formatos de treinamento, regimes–, que são o padrão no futebol americano profissional e universitário, são desconhecidas no futebol colegial", disse Terry O'Neil, fundador da Treinando como Profissional, um grupo que defende técnicas de futebol americano mais seguras. "Após muitas das excelentes mudanças de regras nos últimos anos, não esperamos nenhuma futura mudança de regra que mude drasticamente o esporte. Mas as partidas sempre serão perigosas." 

Mitten concordou. "Sempre me preocupei com o número de lesões que via nossos alunos sofrerem", ele disse. "Não acho que haja necessidade de eles fazerem isso se esse for o resultado."