Líder da bancada ruralista diz que vai trabalhar por anistia de Bolsonaro
O líder da bancada ruralista no Congresso, deputado Pedro Lupion (PP-PR), defende a aprovação de um projeto de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para que ele possa concorrer às eleições de 2026. Lupion avalia que são grandes as chances de o projeto ser aprovado, e que o presidente Lula "dá motivos todos os dias para a direita voltar ao poder".
"Vamos trabalhar para isso. Eu não sei como os partidos do centrão vão reagir, mas os parlamentares sobre os quais eu tenho influência, vou trabalhar para que ele possa ser aprovado", afirmou em entrevista à coluna.
À frente de uma bancada com 350 deputados (de um total de 513) e 50 senadores (de 81), Lupion disse que só esteve duas vezes em um ano e meio com o ministro Alexandre Padilha, que faz a articulação política do governo. Mas que não vê necessidade de diálogo frequente porque, na sua avaliação, é Arthur Lira (PP-AL), a quem ele chama de "primeiro-ministro", que comanda a pauta do país e o orçamento.
Sobre a polêmica do leilão do arroz importado, que teve a primeira tentativa cancelada pelo governo por motivo de "falcatrua", como definiu Lula, Lupion afirma que insistir no certame só tem uma explicação: "Eu acho que tem algum interesse escuso por trás disso, só pode ser. Não vejo justificativa nenhuma para isso."
A seguir, a entrevista:
Qual a chance de sair uma CPI para apurar o leilão do arroz importado pelo governo Lula?
Existe uma resistência de vários deputados em assinar com o argumento de que o leilão foi cancelado. Acham que a CPI teria perdido o objeto. Eu discordo. O cancelamento do leilão e as demissões que ocorreram apontam que houve algum malfeito e justifica uma CPI. É um período complicado, de recesso, eleições, a gente precisaria de uma articulação política bem grande para ser instalada. Vamos ver.
Mas o senhor enxerga a necessidade de CPI?
A gente precisa descobrir o que ocorreu. Não é a demissão de um secretário do Ministério da Agricultura [refere-se ao ex-deputado Neri Geller, colega de partido de Lupion] que vai cessar o problema. A Conab nem do Ministério da Agricultura é. Não ouvi ainda uma fala do ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário, a quem a Conab é vinculada) sobre isso.
Precisa entender como funciona o esquema, por que a corretagem desse jeito, por que o arroz desse jeito. Já está comprovado pela Conab que não há necessidade da compra do arroz, não há desabastecimento, não há sobrepreço. Nos parece uma intenção estritamente financeira ou política para botar o selo do governo num pacote de arroz. E, o pior de tudo, usando o dinheiro sob a justificativa da calamidade do Rio Grande do Sul para furar o teto em R$ 7 bilhões por um arroz que não é comprado do produtor gaúcho e, muito menos, distribuído exclusivamente para o RS; vai para o Brasil inteiro. Precisa investigar, sim.
Qual sua percepção sobre o motivo de o governo insistir em fazer um segundo leilão?
Eu acho que tem algum interesse escuso por trás disso, só pode ser. Não vejo justificativa nenhuma para isso.
O senhor diz que os dados não indicam sobrepreço ou desabastecimento. O presidente Lula está desinformado pelos seus assessores e ministros?
Acho que não tem nenhum bobo ali.
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Quero receberSe o governo fizer um segundo leilão, como a frente parlamentar do agro reagirá?
Estamos alertando. Dissemos ao ministro [Carlos] Fávaro que não deveria ser feito. Para fazer um novo leilão depois de todo o problema que teve esse, é porque tem um interesse muito grande por trás disso. Não posso enxergar outra coisa. Precisamos entender de onde vem todo esse interesse, qual a sanha para comprar esse arroz. Uma CPI pode investigar se é dinheiro para campanha.
Passado um ano e meio, já é possível avaliar se a Conab ter saído do guarda-chuva da Agricultura foi um erro?
Foi um erro. A gente sempre defendeu que o Ministério da Agricultura deveria ser forte. O Ministério do Desenvolvimento Agrário [a quem a Conab ficou subordinada] só trabalha para o MST.
O ministro da Agricultura é fraco?
O ministério está fraco por esse modelo que o governo criou de centralização de poder. Qualquer que fosse o ministro seria assim. Já tivemos ministros mais fortes. Hoje estamos discutindo corrupção na venda de arroz com tantos problemas que temos no setor.
Quantas vezes o senhor esteve com o ministro Alexandre Padilha, responsável pela articulação política, desde o início do governo?
Duas.
A falta de diálogo do Planalto com a bancada é normal?
É menor a necessidade de diálogo. Quando você vê essa questão orçamentária, mudou completamente a dinâmica. Há alguns anos, o deputado precisava ir toda semana em ministério, no Palácio, pedir pelo amor de Deus para liberar emenda, pagar o prefeito. Hoje não acontece isso. O orçamento é controlado basicamente por Lira. Ele fica bravo comigo, mas eu o chamo de primeiro-ministro, porque ele efetivamente tem sido o cara que comanda toda a pauta e tem conduzido as pautas mais importantes do país. Acaba diminuindo a necessidade de a gente ter proximidade com o Executivo.
Mas a falta de diálogo gera derrotas para o governo...
Não há uma gestão centralizada de governo para fazer com que as pautas sejam convergentes com o momento em que a gente vive dentro do Congresso. O ministro Fernando Haddad mandar uma MP sem falar com ninguém, eu não consigo entender que eles possam achar que isso é normal. Ninguém nem sequer foi avisado. Eu disse para o Haddad que parecia que queriam colocar um bode na sala. Jogar uma bomba para tentar recolher algum estilhaço. Não tem justificativa para fazer política desse jeito.
Na conversa que o senhor teve com Haddad, ele deu alguma sinalização de que vai tentar novamente?
O presidente Lula garantiu ao presidente da CNI que o assunto PIS/Cofins de exportação estava fora da pauta. Eu não acredito. Vejo sinais obscuros de que pode vir um projeto de lei, pode vir alguma coisa. Não sei se desse assunto, de outros temas. Existe uma justificativa de combater sonegação, somos a favor de combater, mas simplesmente dar mais uma facada em quem gera emprego no país não tem nenhuma condição.
A MP acabou abalando o ministro, se especulou até na saída dele do governo. A bancada defende a troca do Haddad?
Nunca propusemos a saída de ministro nenhum. Não cabe à frente dizer quem tem que ser ministro. Sou um deputado de oposição, um deputado de direita, não apoio esse governo, nunca apoiei nenhum governo do PT e não é agora que vou apoiar. Mas, como presidente da frente, tenho um grupo diverso e não posso falar algo a favor ou contra alguém sem consultar a minha base.
O presidente da CNA falou em desgoverno e que não conversaria com Lula. O diálogo está interrompido?
O presidente João Martins é um senhor extremamente respeitado em todas as esferas, conduz a maior entidade do país, não é muito de ter rompantes de falar. O contexto foi um pouco diverso, ele queria se referir ao debate sobre PIS/Cofins. E não tem que conversar mesmo. Não tem margem para negociação nesse assunto. A deputada Gleisi [Hoffmann, presidente do PT] foi fazer tuíte, a turma se aproveita. Mas é óbvio que o presidente da maior entidade representativa do país tem que ter o mínimo de diálogo com o Executivo. Apesar de não termos muitos motivos para agrado.
O senhor concorda com a opinião dele de que o governo Lula é um "desgoverno"?
Total. É um desgoverno no sentido em que não é possível que o presidente da República e o ministro da Economia não se conversem, que não tenha um tipo de articulação mínima dentro do governo de um ajudar o outro e tentar negociar pautas. É um monte de gente batendo cabeça.
A FPA tem um candidato à presidência da Câmara no próximo biênio (o mandato de Lira se encerra em fevereiro de 2025)?
Não. Vamos apoiar quem tiver os compromissos conosco da mesma maneira como fizemos com Lira. Não votamos em bloco nesse tema, mas vamos recomendar o voto naquele que fechar compromisso conosco na nossa agenda, mas não adianta ficar bonzinho só agora, tem que ter o mínimo de coerência nesses períodos todos junto conosco.
Tem acordo com o Lira para votar no candidato dele?
Não.
Pode vir a ter?
Pode. Com Lira temos uma parceria excepcional. Tudo o que combinou, ele cumpriu. Não há exigência de apoiar o candidato dele, mas imagino que quando ele anunciar o nome, ele vai fazer o candidato dele negociar conosco.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é o candidato da direita em 2026?
Admiro, gosto, é um nome excepcional, mas acho que o [ex-]presidente Jair Bolsonaro deveria ter condições de disputar a eleição. Discordo da inelegibilidade dele.
Tem algum caminho para ele conseguir disputar?
Depende do Judiciário, não de nós.
Um projeto de anistia pode ser votado pelo Congresso...
Eu apoio totalmente.
Teria votos para aprovar?
Bastante.
Bastante a ponto de ser aprovado?
Vamos trabalhar para isso. Eu não sei como os partidos do centrão vão reagir, mas os parlamentares sobre os quais eu tenho influência, vou trabalhar para que ele possa ser aprovado.
Quem vai apresentar o projeto?
Não sei.
Neste segundo semestre?
Não sei. A eleição é só em 2026. Acho que é justo ele ter condições de disputar as eleições. Se Bolsonaro não for candidato, acho que é justo o governador Tarcísio, o governador Ronaldo Caiado [Goiás], o Ratinho Jr [Paraná], a Tereza Cristina [senadora]. Nenhum deles vai enfrentar o outro. Será tudo uma grande composição.
O senhor vê espaço para a direita voltar ao poder em 2026 mesmo derrotada pela esquerda em 2024?
Sem dúvida. O governo tem dado motivos todos os dias para a direita voltar ao poder.
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