Policiais à paisana ajudam a capturar assediadores sexuais no metrô de NY
Espalhando-se pela plataforma da estação de metrô City Hall [prefeitura] em Manhattan, os policiais à paisana se misturaram aos passageiros da manhã. Enquanto se preparavam para embarcar em um trem no sentido norte, observavam atentamente, seus olhos correndo de um passageiro para outro.
A equipe de sete policiais procurava homens que usam os espaços lotados do metrô para se aproximar de mulheres. Alguns tocam furtivamente as passageiras, enquanto outros se esfregam nas que visaram.
Na Union Square, o detetive Marquis Cross viu um homem que reconheceu de uma detenção anterior por ofensa sexual, parado de modo suspeito perto de uma passageira. Quando a mulher saiu do trem, Cross correu atrás dela e lhe perguntou se havia sentido algo incomum. Ela respondeu que não, mas que o homem realmente parecia próximo demais.
Os policiais, todos pertencentes ao bureau de Trânsito, estavam trabalhando na linha da Lexington Avenue, uma das mais lotadas em um sistema superlotado. A proximidade forçosa dos passageiros oferece uma cobertura fácil para os homens que atacam mulheres, segundo a polícia.
Os agressores geralmente saem de um vagão e voltam a ele pouco antes de as portas se fecharem, de modo que têm de se espremer contra outros viajantes, disse Cross. "Eles procuram um grupo ou uma pessoa determinada na qual querem se encostar", explicou.
Os crimes sexuais oportunistas a bordo do metrô não são novidade e, para muitas mulheres, já são corriqueiros. Algumas foram agarradas ou observadas por um homem que se masturbava, muitas outras ouviram histórias de amigas que sentiram toques desconfortáveis, mas não tinham certeza se deviam dizer algo.
Mas as câmeras de celulares e as redes sociais deram às mulheres uma ferramenta para revidar e fornecem à polícia uma maneira de identificar alguns infratores. No ano passado, em um esforço para encorajar mais vítimas a dar queixa, a polícia começou a treinar mais policiais femininas para trabalhar nesses casos.
Hoje a polícia emite uma série de alertas sobre tais crimes usando fotos tiradas pelas vítimas para tentar identificar os suspeitos. Uma postagem recente no Twitter mostrava a foto de um suspeito de apertar as nádegas de uma mulher de 27 anos em um trem nº 7 em Queens este mês. Dois dias antes, a polícia tinha publicado a foto de um homem que se exibiu para mulheres em dois trens na Grand Central Station.
As denúncias de crimes no metrô aumentaram 19% no ano passado, para 738 contra 620 em 2014. Muitos desses crimes foram atos de bolinação e obscenidade em público, as ofensas mais comuns ligadas ao tipo de desvio sexual que Cross e seus colegas procuravam naquela manhã na linha da Lexington Avenue.
Joseph Fox, o chefe do bureau de Trânsito do Departamento de Polícia, disse acreditar que o aumento nos casos relatados de crimes sexuais é consequência de mais mulheres se apresentarem. Ele espera que o número de denúncias continue crescendo com a divulgação do problema pela polícia.
"Muitos homens não sabem que essa questão existe, mas muitas mulheres sim", disse Fox em uma entrevista. "É um crime que passa amplamente sem denúncias."
Anúncios no metrô há muito advertem as passageiras sobre má conduta sexual, e as redes sociais e a cultura pop ampliaram a atenção para isso. O fenômeno foi uma das tramas do seriado "Master of None", da Netflix, quando o personagem de Aziz Ansari confronta um agressor no metrô.
A polícia fez cerca de 400 detenções no ano passado por ofensas sexuais no metrô, quase 75% das quais quando um policial avistou o episódio ou a vítima procurou um policial próximo que localizou o suspeito. As vítimas muitas vezes ficam envergonhadas, confusas ou estão correndo para o trabalho, por isso podem não parar para denunciar a um funcionário da companhia ou ir a uma delegacia, disse Fox.
Uma das duas policiais na patrulha recente, a tenente Angela Morris tornou-se bem informada sobre crimes sexuais nos dois anos e meio em que trabalha nesses casos. As vítimas frequentemente choram e expressam choque e humilhação, e muitas vezes parecem mais à vontade em falar com ela do que com seus colegas homens, disse Morris.
"Ela tem mais liberdade para me contar tudo o que sentiu que aconteceu", disse Morris, acrescentando que já levou mulheres cuja roupa ficou danificada para comprar uma nova.
Os relatos mais comuns em 2015 foram de bolinação (340 casos) e obscenidade em público (223), infrações consideradas menos graves. Houve 130 episódios de abuso sexual, que podem ser avaliados como um crime menor ou mais grave. Os estupros, que são considerados crimes graves, são raros no metrô, segundo Fox. Um caso foi relatado no ano passado e cinco no ano anterior.
Em 2014, a Autoridade de Transporte Metropolitano criou um site para queixas de ofensas sexuais, onde as passageiras podem postar uma foto ou fazer uma denúncia anônima. A agência recebeu mais de 500 reclamações até agora e as envia à polícia, segundo oficiais.
Em setembro, Tiffany D. Jackson, 33, uma escritora de ficção que vive em Crown Heights, no Brooklyn, disse que um homem a seguiu até um trem nº 3 no Brooklyn, se exibiu e se masturbou olhando para ela. Ela contou ao operador do trem e deu queixa em uma delegacia. Mas foi só depois que ela postou uma foto do homem no Instagram e a foto circulou na rede que ele foi preso.
Na estação do Brooklyn onde Jackson relatou o caso, o operador do trem a orientou a subir uma escada até uma cabine da estação para ser ajudada. Mas ela não encontrou a cabine e então viu o agressor parado perto dela.
Jackson contou que pulou a catraca, desceu correndo até a plataforma e saltou no primeiro trem para Manhattan. Na Times Square, foi a uma delegacia, onde os policiais anotaram suas informações e uma descrição da foto que estava em seu telefone. Mas Jackson disse que sentiu que não a levaram muito a sério. Depois que postou a foto no Instagram e sua história se espalhou, Fox lhe mandou um e-mail dizendo que sentia muito que ela tivesse sido vítima no metrô e que ele levava esses casos a sério.
"O que é perturbador é que, se eu não tivesse publicado a foto, ele não teria sido apanhado", disse ela. "Nada teria acontecido."
Como parte do treinamento para oficiais de trânsito que tratam de crimes sexuais, um grupo antiassédio chamado Hollaback está dando orientações. A vice-diretora do grupo, Debjani Roy, disse que os policiais não deveriam menosprezar os temores das vítimas.
"É importante criar empatia e compreender que é uma experiência muito traumática", disse ela.
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