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Em busca de nome mais "sexy", República Tcheca considera mudança

Reprodução/Condê Nast Traveler
Imagem: Reprodução/Condê Nast Traveler

Dan Bilefsky

16/04/2016 06h01

Os tchecos, puxados e empurrados entre o Ocidente e o Oriente ao longo dos séculos, há muito sofrem uma crise de identidade.

Não ajuda o fato de muitos estrangeiros confundirem consistentemente seu país orgulhoso, a República Tcheca, com sua antecessora, a Tchecoslováquia, ou sua prima mais pobre, a Eslováquia.

Ou o fato de, em 2013, alguns analistas terem descrito erroneamente os suspeitos pelo atentado a bomba contra a Maratona de Boston como provenientes da República Tcheca, a confundindo com a Tchetchênia, uma região indócil da Rússia a mais de 3.000 quilômetros de distância, e alarmando os diplomatas tchecos, que emitiram um esclarecimento.

Assim, os líderes tchecos propuseram um novo nome na esperança de dar ao local de nascimento de Milan Kundera, Franz Kafka e Martina Navratilova um maior reconhecimento no cenário global: Tchéquia.

Apesar de o novo nome não necessariamente resolver a confusão potencial com a Tchetchênia (pode até mesmo causar mais confusão, como disseram alguns críticos), os defensores esperam que Tchéquia possa ser pronunciado em inglês mais facilmente do que República Tcheca.

Variantes que foram descartadas incluíam "Tcheclands", "Boêmia" e, simplesmente, "Tcheca". (A Pilsner Urquell, a famosa fabricante de cervejas, usa "Produzida na Tcheca" em suas latas.)

"Não é bom quando um país não tem símbolos claramente definidos, ou não consegue dizer claramente qual é o seu nome", disse na terça-feira o ministro das Relações Exteriores do país, Lubomir Zaoralek, ao apresentar sua proposta. "Seria bom deixar as coisas claras de uma vez por todas. Devemos isso a nós mesmos e ao mundo."

Na última quinta-feira (15), as autoridades tchecas disseram que adicionariam o nome ao banco de dados das Nações Unidas de nomes geográficos, que registra os nomes dos países nas seis línguas oficiais da organização.

Zaoralek esperava ver Tchéquia nos uniformes dos atletas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em agosto, mas ficou chateado ao saber que os uniformes estampados com "República Tcheca" já estavam prontos.

O ministro encontrou um aliado no presidente Milos Zeman, que referiu-se ao seu país como Tchéquia em uma viagem de 2013 a Israel, dizendo que era mais curto, "melhor" e menos "frio" do que República Tcheca.

Os defensores do novo nome produziram um site, "Go Czechia" (Vá à Tchéquia). Ele nota que o nome já era usado desde 1634 e é derivado do latim.

"Tchéquia pode soar estranho para algumas pessoas ao ouvirem pela primeira vez, mas o mesmo acontece com numerosos nomes geográficos derivados de línguas estrangeiras que são normalmente usados em inglês", diz o site, citando, entre outros exemplos, Idaho, Massachusetts e Zimbábue.

A República Tcheca não é o único país a contar com a palavra "República" na linguagem comum. Ela é acompanhada pela República Centro-Africana, República Dominicana e República Democrática do Congo, para citar alguns.

Mas há algo distintamente tcheco na autoanálise. A Tchecoslováquia foi criada apenas em 1918, a partir das cinzas do Império Austro-Húngaro. O país teve seu território tomado por Hitler em 1938 e invadido pelos soviéticos em 1968. Em 1989, sua população acabou com décadas de governo comunista na Revolução de Veludo. Mas em 1993, se dividiu de forma amistosa nos Estados separados tcheco e eslovaco.

Os tchecos começaram a se referir ao novo país como "Tcheco" (Cesko), mas não havia um acordo universal sobre como traduzi-lo para o inglês. Tchéquia (Czequia) é a tradução correta, segundo o ministro das Relações Exteriores. Vaclav Havel, o escritor que se tornou presidente, que era contrário à divisão do país, odiava o nome "Cesko", que, dizem assessores, o lembrava do desmembramento da Tchecoslováquia. Havel dizia que o nome fazia com que se sentisse como se "lesmas estivessem se arrastando" sobre ele.

Petrit Selimi, o ministro das Relações Exteriores de Kosovo, que ajudou a liderar a mudança de imagem do país após declarar independência da Sérvia em 2008, notou o potencial de mudança, dizendo que Tchéquia é mas fácil de lembrar e pronunciar, além de que funcionaria igualmente bem em uma camisa de futebol, durante uma reunião diplomática ou em uma postagem no Facebook.

Entretanto, outros estão menos convencidos.

David Cerny, um escultor tcheco que satiriza a identidade europeia, retratando a Eslováquia como uma linguiça húngara e Bulgária como um toalete turco, chamou o novo nome de equivocado e "idiota". Ele disse que a mudança de nome é uma distração cínica de problemas mais urgentes, como a corrupção e o extremismo de direita.

"Todo esse exercício de mudança de nome representa dar importância a algo menor", ele disse. "O verdadeiro problema atualmente é o que está acontecendo com o país, não o seu nome."

Ele também acrescentou que o nome Tchéquia não é nem sexy e nem rock and roll.

Karel Schwarzenberg, um ex-ministro das Relações Exteriores, sugeriu simplesmente o uso do nome Boêmia, que era usado desde os tempos medievais.

"Por que estamos evitando o nome histórico Boêmia, que por séculos serviu como nome de nosso país?" ele foi citado como tendo dito segundo o site de notícias tcheco "Aktualne". "Por que temos que fazer isso artificialmente e inventar nomes como Tchéquia?"

Mas os críticos respondem que Boêmia refere-se apenas à região histórica no oeste. "Acho que o nome Tcheclands seria mais justo", disse Ondrej Hysek, presidente do Moravianos, um partido político que promove a identidade moraviana.

O ministro das Finanças, Andrej Babis, eslovaco de nascimento, disse ao "Aktualne" que não acha que o novo nome vai pegar.

"As pessoas ao redor do mundo estão acostumadas a dizer República Tcheca ou Tchecoslováquia, e mudar isso para Tchéquia será difícil", ele disse, acrescentando: "Nem mesmo eu consigo fazer isso sair da minha boca."