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No Japão, está liberado o cochilo no restaurante, na praça e até no trabalho

Ko Sasaki/The New York Times
Imagem: Ko Sasaki/The New York Times

Bryant Rousseau

18/12/2016 05h00

Na maioria dos países, dormir no trabalho não é apenas reprovado, como pode provocar sua demissão.

Mas no Japão, cochilar no escritório é comum e culturalmente aceito. E, na verdade, é visto com frequência como um sinal sutil de diligência: você deve estar trabalhando até a exaustão.

A palavra para isso é "inemuri". É traduzida com frequência como "dormindo no serviço", mas a dra. Brigitte Steger, uma professora sênior de estudos japoneses da Faculdade Downing, em Cambridge, que escreveu um livro sobre o assunto, disse que uma tradução mais precisa seria "dormindo estando presente".

Segundo ela, isso captura a forma como o Japão aborda o tempo, um lugar onde é visto como sendo possível fazer múltiplas coisas simultaneamente, mesmo que em menor intensidade. Assim, você pode obter crédito por estar presente na tediosa reunião trimestral de vendas ao mesmo tempo em que sonha com férias na praia.

Inemuri é mais predominante entre funcionários veteranos em profissões de colarinho branco, disse Steger. Novos funcionários tendem a querer permanecer acordados o dia todo e serem vistos como cheios de energia, e os trabalhadores nas linhas de montagem simplesmente não podem cochilar.

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Imagem: Ko Sasaki/The New York Times


Ambos os sexos praticam o inemuri, mas as mulheres provavelmente serão criticadas por isso, especialmente se cochilarem em uma posição considerada imprópria, disse Steger.

O inemuri é praticado no Japão há pelo menos 1.000 anos e não se restringe ao local de trabalho. As pessoas podem cochilar em lojas de departamento, cafés, restaurantes e até mesmo em um lugar confortável em uma movimentada calçada da cidade.

Dormir em público é especialmente predominante nos trens, independente de quão lotados; eles com frequência acabam se transformando em quartos; Ajuda o fato de o Japão apresentar uma taxa de criminalidade muito baixa.

"É muito improvável, se você estiver dormindo em um trem, que alguém tente roubá-lo", disse Theodore C. Bestor, um professor de antropologia social da Universidade de Harvard.

Dormir em situações sociais pode até mesmo melhorar sua reputação. Steger lembrou de um jantar em grupo em um restaurante, onde um convidado de uma colega dormiu à mesa. Os outros convidados o cumprimentaram por seu "comportamento cavalheiresco", o de ter optado por permanecer presente e dormir, em vez de se desculpar e sair.

Um motivo para dormir em público poder ser tão comum no Japão pode ser devido às pessoas dormirem muito pouco em casa. Um estudo do governo de 2015 apontou que 39,5% dos adultos japoneses dormem menos de seis horas por noite.

Uma regra não escrita do inemuri é dormir de forma compacta, sem "violar as normas espaciais", disse Bestor. "Se você se estender sob a mesa na sala de conferência do escritório, ocupar vários espaços em um trem, ou deitar em um banco de parque", ele disse, isso provocaria reprovação por ser socialmente disruptivo.

Steger apontou que olhos fechados podem não sempre significar desligamento. Uma pessoa pode fechá-los para construir uma esfera de privacidade em uma sociedade na qual há pouco disso.

Isso é em parte o motivo para Steger poder imaginar o inemuri minguar no Japão. Atualmente, smartphones podem transportar as pessoas para suas próprias zonas privadas com seus olhos bem abertos.