Delegados reclamam de trânsito, preços, falta de comunicação e organização da Rio+20
Mauricio Stycer
Do UOL, no Rio
18/06/2012 14h25
É dura a vida de um delegado estrangeiro credenciado para a Rio+20. Alocados em hotéis muito distantes do Riocentro, têm passado horas preciosas do dia dentro de ônibus. Nas ruas, não acham quem fale inglês ou francês. Os preços de tudo assustam.
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As delegações menores reclamam, ainda, que não conseguem acompanhar todas as reuniões já que há muitos encontros agendados de forma simultânea.
O relato de Sufiu Rahman, diretor-geral do Ministério das Relações Exteriores de Bangladesh, dá uma boa ideia da rotina de um delegado da Rio+20. Instalado em um hotel em Copacabana, ele conta: “Acordo às 6h30, tomo café correndo, caminho um quilômetro até outro hotel e entro na fila do ônibus.”
Começa aí o calvário. “Hoje fiquei 50 minutos na fila. E mais duas horas dentro do ônibus até chegar no Riocentro”. Ao descer, encara a rígida segurança da ONU: “A cada dia aumenta”, reclama.
Rahman acompanha diferentes discussões, sobre aspectos institucionais e sobre os meios de implementação, que estão sendo travadas no Riocentro. “São três a quatro reuniões por dia, mais encontros informais no corredor para discutir parágrafos e, às vezes, palavras do documento final”, conta.
Madrugada adentro
Nesta segunda-feira (18), dia em que o Brasil pretende fechar o documento final, o diplomata imagina que sairá de madrugada. “Ontem saí à 0h15. Hoje vai acabar mais tarde”.
“A maior parte do meu tempo passo dentro de um ônibus”, reclama o delegado Riza Yikmaz, da Turquia. Hospedado em um hotel no Flamengo, tem perdido duas horas para ir e um pouco menos para voltar do Riocentro. “Começo às 6h, para dar tempo.”
Yikmaz e o colega Melih Gokgoz não estranharam a comida brasileira. “Mas os preços são muito altos”, reclamam. “Não entendo. Brasil e Turquia parecem ter poder aquisitivo semelhante”, diz Yikmaz.
"Só na mímica"
“Estamos tendo muitas dificuldades com a língua”, suspira Edward Obiaw, delegado de Gana. “Ninguém fala inglês”, diz. “È só na mímica”, completa seu colega Oppen Sasu.
A delegação, relativamente pequena, com cerca de 50 membros, sofre também para acompanhar todos os encontros na Rio+20. “Não dá. Chegamos em horários diferentes e nem sempre conseguimos seguir todos os debates”.
Nadia e Farid, delegados da Argélia (não quiseram dar o sobrenome), também fazem críticas à organização da Conferência. “Estamos em um hotel perto do Riocentro, mas não tem transporte para cá”, diz ela. “A embaixada providenciou um ônibus para a delegação”.
Farid faz uma observação curiosa. “A praça de alimentação é muito maior que a área de conferências. Em alguns encontros, vejo delegados sentados no chão”.
"E há um problema de comunicação séria no Brasil”, reclama Nadia. “Ninguém fala francês e muito pouca gente fala inglês”. Ambos reclamam dos preços para comer no Rio. “Tudo muito caro”.