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O celular que você troca todo ano causa mortes na China, mostra estudo

Mulher com máscara usa o celular em meio a poluição em Harbin, na China Imagem: Reuters

Do UOL, em São Paulo

03/04/2017 04h00

Toda vez que alguém troca de celular, compra um brinquedo ou uma roupa nova, mais pessoas morrem com a poluição do ar na China. É o que afirma um estudo publicado na revista Nature. Pesquisadores dos EUA, Europa e China quantificaram o impacto do mercado global nos problemas de saúde causados por poluentes do ar em todo o mundo.

Segundo a pesquisa, mais de 100 mil chineses morrem todos os anos devido à poluição atmosférica provocada pelas fábricas chinesas de produtos feitos para serem exportados para lugares como EUA e Europa.

Na última década, cidades da China se tornaram extremamente poluídas com a chegada de multinacionais em busca de mão de obra barata --o que possibilita a oferta de produtos com preços baixos a consumidores de todo mundo.

O estudo mostrou que as emissões na China são as que mais causam mortes em todo o mundo, seguidas pela poluição produzida na Índia e em outros países asiáticos. Mas é a demanda por produtos fabricados nesses locais que provoca o maior impacto.

"As pessoas pensam que a poluição do ar é um problema local. Em média, a cada seis meses mudamos nosso telefone. Isso tem um custo de saúde do outro lado do mundo", disse ao jornal inglês Guardian o economista Dabo Guan, professor da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, e autor principal do estudo.

O estudo analisa a poluição do ar por material particulado (conhecido como PM 2,5) gerada mundialmente em 2007 por usinas, fábricas, aviões e transporte marítimo em 13 regiões do globo. Essas partículas finas, que possuem 2,5 milésimos de milímetros, penetram profundamente nos alvéolos dos pulmões e podem chegar à circulação sanguínea, provocando doenças respiratórias e cardiovasculares. Elas são responsáveis por 90% das mortes associadas à poluição atmosférica.

Os pesquisadores se basearam nesses dados de poluição e em modelos de correntes atmosféricas globais para identificar onde a poluição foi emitida e onde ela terminou. Foram analisados dados de 228 países. Para realizarem a correlação com o consumo global de produtos, utilizaram dados do Global Trade Analysis Project.

Pessoas testam celulares em feira de tecnologia em Nova York, nos Estados Unidos Imagem: Jason DeCrow/AP

O consumismo mata mais que a indústria

De acordo com a pesquisa, ocorrem no mundo cerca de 3,5 milhões de mortes prematuras causadas pela contaminação do ar pelas chaminés de fabricantes de brinquedos, roupas e produtos eletrônicos. Atualmente, essas indústrias se concentram em países da Ásia, como China, Índia, Paquistão e Vietnã.

O deslocamento da poluição pela atmosfera mata cerca de 411 mil pessoas (12% do total) em lugares distantes desses centros. Na Europa, morrem 3.100 pessoas pela poluição que vem da China, aponta o estudo. 

Contudo, muito mais pessoas, cerca de 762 mil (22% do total) morrem em lugares que produzem bens que são comprados em shoppings e lojas distantes, de outros países. São 100 mil chineses mortos devido ao consumismo europeu e norte-americano.

"Algumas regiões consomem, enquanto outras produzem e sofrem os efeitos de produção na saúde", disse Guan para o El País. De acordo com a pesquisa, para cada milhão de consumidores só na Europa ocidental há 416 mortes associadas à contaminação por PM 2,5 em outras regiões do mundo. Cada milhão de consumidores nos EUA soma na conta 339 mortes por poluentes no mundo.

Mulher usando máscara passa de bicicleta por chaminés de fábrica em Pequim, na China Imagem: Suzie Wong/Reuters

Poluição na China é problema global

Para os pesquisadores, a poluição na China, que chama a atenção do mundo com pessoas usando máscaras de ar em cidades cobertas por fumaça de fábricas, não é problema só dos chineses, mas de todo o mundo.

"Em nossa economia global, os bens e serviços consumidos em uma região podem envolver a produção de grandes quantidades de poluição do ar - e mortalidade relacionada - em outras regiões", afirma o estudo. Para eles, é necessário conscientização por parte de consumidores e políticas públicas que dividam entre os países os prejuízos da poluição.

"A poupança de consumidores ocorre com perdas de vidas em outros locais. [Os custos] das políticas regionais que regulam a qualidade do ar [com impostos] (...) poderiam ser partilhados com os consumidores de outras regiões", afirmam.

Eles apontam como dificuldades para se alcançar melhorias o fato de indústrias poluidoras migrarem para regiões com regulamentações ambientais mais permissivas, gerando nos países que recebem novas fábricas "tensão entre os esforços para melhorar a qualidade do ar e para atrair investimentos estrangeiros diretos".

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