A menos de uma semana do segundo turno, o conturbado episódio da prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) aumentou ainda mais o nível de tensão e de estresse que marca o processo eleitoral neste ano. A preocupação é grande no mundo jurídico. Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) avaliam que, para além das narrativas que as campanhas produzirão com base no episódio, a radicalização em nada contribuiu para a segurança do processo e deve motivar novas reações extremadas, especialmente entre eleitores de Jair Bolsonaro (PL). Jefferson fez disparos de fuzil contra policiais federais e chegou a lançar uma granada. Duas pessoas ficaram feridas. De acordo com a PF, os agentes cumpriam um mandado de prisão contra o ex-deputado expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. Antes de serem informados sobre os agentes feridos, parlamentares ligados a Bolsonaro no Congresso e até estrategistas da campanha do presidente comemoravam, reservadamente, a resistência de Jefferson por acreditar que ele dominaria a agenda eleitoral nesta semana com um assunto caro ao bolsonarismo: a suposta defesa da liberdade. O caso, porém, saiu de controle, na explicação de um desses parlamentares, e o PT soube usar as redes sociais para culpar Bolsonaro pela desobediência e o ataque aos agentes. Segundo um ministro do STF, os bolsonaristas esticaram por demais a corda na disputa contra as instituições e nos ataques ao Judiciário. Retroceder agora na reta final tornou-se praticamente impossível, diz ele. A instauração de um clima de exceção no país na semana decisiva pode alimentar teses e ideias que coloquem em dúvida a realização da eleição no domingo (30) e, posteriormente, questionem seus resultados. Conforme o Agregador de Pesquisas do UOL, a definição do cenário nacional tem boas chances de ocorrer por margem apertada de votos, sempre um fator que ajuda no desenvolvimento de teorias conspiratórias. Até nos bastidores das campanhas de Lula (PT) e de Bolsonaro há esse consenso: a forma como Jefferson reagiu à ordem de prisão pode motivar atos de desobediência e de agressão nesta reta final da eleição, antes da votação e depois do resultado. O episódio da prisão também aumenta a importância do debate da TV Globo, previsto para a sexta-feira (28). Somente um clima de muita cordialidade entre Lula e Bolsonaro poderia ajudar a distensionar o ambiente político no país, mas quase ninguém envolvido na preparação dos candidatos acredita que será possível isso acontecer. Nada gruda. A reação criminosa de Jefferson irá testar ainda o poder antiaderente de Bolsonaro, que tenta se afastar do aliado por temer um efeito negativo do episódio no seu eleitorado. Por ora, a estimativa é de que o presidente não deverá perder votos por causa do ex-deputado do PTB, mas terá mais dificuldades para conquistar quem ainda está indeciso. Do lado petista, Lula insistirá em mostrar as ligações de Jefferson com Bolsonaro, lembrando que o PTB vem atuando como linha auxiliar do presidente desde o início da campanha, inclusive com a ajuda de Padre Kelmon, o candidato do partido no primeiro turno. Neste segundo turno, no entanto, a campanha petista não obteve o efeito que esperava em tentar desgastar Bolsonaro com a confusão provocada por seus apoiadores em Aparecida do Norte e com o caso das meninas venezuelanas. A aposta em vincular Bolsonaro à violência de Jefferson, apesar de parecer mais segura, também não é garantida. As muitas pesquisas eleitorais a serem divulgadas nesta semana poderão responder a principal questão colocada nesta segunda-feira para as duas campanhas: a prisão de Jefferson pode ter decidido a eleição? **** NA NEWSLETTER PRA COMEÇAR O DIA A newsletter Pra Começar o Dia é um boletim diário, de segunda a sexta-feira, que te deixa bem informado sobre os fatos mais relevantes do momento, além de adiantar as principais agendas do dia. Para se cadastrar e receber a newsletter diária, clique aqui. PUBLICIDADE | | |