| | Ministros Fernando Haddad e Marina Silva durante sessão do Fórum Econômico Mundial 2023 | 17.jan.2023 - Fabrice Coffrini/AFP |
| | | | Brasil acerta ao posicionar clima e ambiente na agenda econômica | | O governo brasileiro demonstra entender agora que a agenda climática é em si uma oportunidade de desenvolvimento econômico ao enviar a ministra do Meio Ambiente e Clima, Marina Silva, ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, juntamente com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. No evento "Brasil: um novo caminho", Marina falou com otimismo sobre a difícil tarefa de reduzir o desmatamento, mas cobrou mais financiamento e ambição climática dos países ricos. "Nosso compromisso é o de que o Brasil possa transitar de uma economia intensiva em carbono para uma economia de baixo carbono", afirmou a ministra, descrevendo o que seria um novo ciclo de prosperidade. "A transição energética, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia são caminhos de investimento que eu tenho a felicidade de poder anunciar aqui com a completa concordância do ministro da Fazenda." Mas para Marina, falta solidariedade internacional. "Os 100 bilhões de dólares que os países ricos tinham comprometido ainda não estão aqui", cobrou a ministra, referindo-se ao montante anual prometido pelos países ricos aos países pobres no contexto da cooperação climática. "Precisamos de recursos para ações de mitigação e também para a adaptação agora." Marina disse que é sempre arriscado fazer anúncios ambiciosos, mas que os planos ambientais do Brasil estão calcados em uma "sinergia" que será, segundo ela, "uma marca do terceiro governo Lula". Ela agradeceu a Haddad a mobilização de R$ 500 milhões, ainda durante o governo de transição, para que os orçamentos dos órgãos ambientais fossem recompostos de imediato e comemorou a decisão de manter os fundos mantidos por doações, como o Fundo Amazônia, fora do teto de gastos. Haddad afirmou que participou de quase todas as reuniões bilaterais que Lula realizou durante a COP27, no Egito, e disse que nesses encontros o presidente teria demonstrado que a questão ambiental foi elevada à condição de uma de suas "obsessões". O ministro disse que haverá um esforço para convencer as grandes corporações a assumir compromissos públicos com uma "agenda civilizatória" de clima. "É possível engajar CEOs, líderes de empresas - e não apenas chefes de estado e de governo - em uma agenda civilizatória, de sustentabilidade, de respeito aos povos originários, igualdade de gênero, combate ao racismo [...]", disse Haddad, destacando que os consumidores estão mais atentos a esses temas. "Como é possível consumir produtos de empresas que não estão comprometidas com essas questões?" A ministra destacou ainda que se os maiores emissores de gases de efeito estufa não fizerem uma forte redução, o esforço brasileiro para salvar a Amazônia será anulado. "A responsabilidade de preservar a floresta amazônica não é nossa apenas. Podemos reduzir o desmatamento na Amazônia a zero, mas se o resto do mundo ainda emite CO2, a Amazônia vai ser destruída da mesma forma." Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Clima PUBLICIDADE | | | | | março.2016 - Campo de painéis solares no entorno de Masdar, cidade próxima a Abu Dhabi | Karim Sahib/AFP |
| | | | Lobo no galinheiro: conferência do clima deste ano será presidida por petroleiro | A próxima Conferência do Clima da ONU, a COP28, começa mal ao indicar um executivo do setor petroleiro como presidente. O evento será realizado nos EAU (Emirados Árabes Unidos), em novembro, e ambientalistas temem que o lobby das empresas de combustíveis fósseis seja ainda mais intenso do que foi na COP27, em novembro passado, no Egito. O Sultão Ahmed Al Jaber é um membro influente do governo dos EAU e tem trânsito entre diplomatas e governos ocidentais. Ele passou por funções de liderança no setor de energia em seu país, é ministro da Indústria e Tecnologia, CEO da Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC) e presidente da Abu Dhabi Future Energy Company, também conhecida como Masdar. Esta é a primeira vez que um petroleiro chefia uma Conferência do Clima da ONU. Algo semelhante ocorreu na COP8 de 2002, em Nova Deli, na Índia, quando o presidente foi T. R. Baalu, um ex-ministro do Petróleo. E em 2012, na COP18 realizada em Doha, no Qatar, o executivo Abdullah bin Hamad Al-Attiyah abandonou seu posto na indústria petroleira para a assumir a presidência do evento. Os Emirados Árabes Unidos têm a quarta maior pegada de carbono per capita do mundo, atrás de Qatar, Bahrein e Kuwait. Ignorando a necessidade de reduzir a produção de combustíveis fósseis para frear a mudança do clima, os EAU planejam que apenas a ADNOC extraia 5 milhões de barris de petróleo e gás todos os anos até 2030, segundo anúncio do final do ano passado, quando o país entrou para o grupo lobista de exploradores de gás GECF. Em Londres, no mês passado, a diplomacia dos emires se esforçou para bloquear as negociações da Organização Marítima Internacional para reduzir as emissões da navegação. De todos os países ricos em petróleo do Golfo, os EAU são os mais bem colocados quando se trata da transição de energia renovável, mas ela ainda representa pouco no seu mix energético. Até 2030, os Emirados planejam ter 20 GW de capacidade solar instalada - a capacidade atual é de 6,6 GW. A energia renovável é estratégica porque permitirá ao país reduzir o consumo doméstico, ampliando as exportações. Al Jaber tem se engajado no tema, mas também defende publicamente investimentos anuais em combustíveis fósseis da ordem de R$ 3 trilhões ($600 bilhões) até 2030: "Não podemos simplesmente desligar os sistemas de energia de hoje", justificou durante a ADIPEC (Exposição e Conferência Internacional do Petróleo de Abu Dhabi), há dois anos. "A Agência Internacional de Energia tem sido muito clara ao afirmar que não há mais espaço atmosférico para qualquer novo petróleo, gás ou carvão", afirma Christiana Figueres, chefe climática da ONU entre 2010-2016. "A COP28 não só deve se alinhar com esta realidade, mas de fato acelerar a descarbonização global. Não há outro caminho a seguir." "Estando tão profundamente integrados na indústria dos combustíveis fósseis, os anfitriões da COP28 terão de ser capazes de demonstrar como será a sua liderança pós-fóssil, compatível com Paris. A ciência é clara, a AIE é cristalina", disse a diplomata francesa Laurence Tubiana, líder na criação do Acordo de Paris. "A COP28 deve acelerar a fase global de eliminação dos combustíveis fósseis - não podemos ter outra COP onde os interesses dos combustíveis fósseis possam sacrificar nossos futuros para obter mais alguns anos de lucro.", disse a ativista climática ugandense Vanessa Nakate. | | | Lideranças e indígenas durante posse da nova presidente na Funai, Joenia Wapichana | Funai/Divulgação |
| | | | E o que mais você precisa saber | LIMPA A fiscalização ambiental e o fomento à ciência estão agora com os ambientalistas. A deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR) é a primeira indígena a presidir a Funai e tem a missão de reparar a polêmica gestão do policial federal Marcelo Xavier. No Ibama, o deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), líder da Frente Parlamentar Ambientalista, substitui Eduardo Bim, o "psicopata". Ricardo Galvão, demitido do INPE por revelar a escala do desmatamento sob Bolsonaro, é a nova chefia do CNPq, enquanto Mercedes Bustamante, membro do Painel da ONU sobre Mudança Climática, comanda a CAPES. A presidência definitiva do ICMBio, órgão responsável por Unidades de Conservação, será escolhida a partir de uma lista tríplice. ENERGIA SUJA A ativista sueca Greta Thunberg se encontra hoje com o chefe da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, no fórum de Davos, ao lado das ativistas Vanessa Nakate, Helena Gualinda e Luisa Neubauer. Na terça (17), Thunberg foi detida na Alemanha durante um protesto contra a expansão de uma mina de carvão da empresa RWE. O carvão é a forma mais poluente e ineficiente de gerar eletricidade, e a empresa que fará a exploração da mina responde a um processo por ser uma das maiores causadoras isoladas da mudança do clima, respondendo sozinha por cerca de 0,5% das emissões históricas globais dos gases que aqueceram o planeta até aqui. A companhia é o maior poluidor individual da Europa atualmente. ACABOU O AMOR O episódio marca o fim da lua-de-mel entre ambientalistas e o governo alemão eleito em 2022. O país vinha buscando protagonismo na diplomacia climática, com Annalena Baerbock, do Partido Verde, chefiando as Relações Exteriores, e Jennifer Morgan, ex-líder do Greenpeace, como enviada especial de Clima. Diante da crise energética, exacerbada pela guerra na Rússia, Berlim tem optado por mais combustíveis fósseis caros e poluentes, ignorando sua responsabilidade histórica pela crise climática já em curso - o país é o maior poluidor europeu e um dos maiores culpados pela mudança do clima. VOCÊ CONHECE? Frear o desmatamento na Amazônia depende do combate às facções do crime organizado internacional, como PCC e o Comando Vermelho. É o que afirma Aiala Colares, um dos principais pesquisadores do país sobre redes criminosas que atuam na maior floresta tropical do mundo. Quilombola e militante do Movimento Negro, ele ressalta, em entrevista à Folha, a necessidade de integrar o combate ao crime ambiental a uma agenda geral de segurança pública. Colares é geógrafo, pós-doutor pela Universidade Federal do Pernambuco e professor da Universidade do Estado do Pará. | | | |
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