Após quatro temporadas no horário nobre da TV aberta, "Sob Pressão" torna-se, a partir desta quinta-feira (02), um original Globoplay. Isso significa que a estreia da quinta temporada se dará na plataforma de streaming (dois episódios semanais ao longo de seis semanas) e somente no futuro, ainda não determinado, encontrará lugar na grade da televisão. A nova forma de distribuir o conteúdo será um bom teste para "Sob Pressão". Até hoje, a série se consagrou como um entretenimento de alta qualidade com enorme poder de mobilização social e esclarecimento sobre questões médicas e de saúde pública. Será que vai continuar impactando a realidade num ambiente, o streaming, ainda não acessível a todas as camadas da população? Uma migração semelhante ocorreu com "Segunda Chamada". Após uma primeira temporada na TV, a série ganhou uma segunda e última temporada no Globoplay. Conversei com Lucas Paraizo, autor principal de "Sob Pressão", sobre a nova temporada. Abaixo, os principais trechos da entrevista:
É a última temporada? Eu nunca falo que é a última. Já falei três vezes e as três vezes que falei não foram. Decidi que não falo mais. A gente tem história para muitas temporadas. Lembro do Jorge Furtado, criador da série, dizer que havia assunto para 28 temporadas. Jorge me rogou uma praga (risos): "Você vai envelhecer fazendo essa série". Com muito prazer, respondi para ele. Queria falar sobre o impacto causado pela série na realidade. Vocês buscam este impacto? E o percebem? A gente é hoje, na quinta temporada, muito mais consciente do que era na primeira sobre o impacto que teria no público. Hoje, a gente triplica a atenção sobre qualquer assunto que pensamos em colocar em pauta porque sabemos da repercussão. Procuramos ser responsáveis e evitar julgamentos primários, superficiais. É importante sempre apresentar os dois lados de toda situação. Algum exemplo nesta nova temporada? Há alguns assuntos que sempre repercutimos em "Sob Pressão" e não tenho nenhum problema em retornar a ele sob novas perspectivas. A doação de órgãos no primeiro episódio da nova temporada. Desde o terceiro episódio da primeira temporada, toco nesse assunto. Logo depois deste episódio, recebemos um e-mail da Doe Órgãos, a entidade reguladora no Brasil, dizendo que o número de consultas sobre o assunto saltou de 300 para 8 mil. Aquilo foi uma ficha muito grande que caiu para a gente. A gente sempre tenta fazer um entretenimento consciente, que de alguma maneira tenta provocar alguma mudança de perspectiva. Não ouso dizer que a gente transforma, mas a gente tenta, pelo menos, fazer isso. Esta nova temporada vai explorar o tema da saúde mental dos médicos. Por que vocês resolveram tratar deste assunto? Após o especial Plantão Covid, a gente entendeu que os médicos estão exaustos. Que os médicos também são pacientes. Isso virou a premissa desta temporada. Todos os personagens principais vão apresentar algum sintoma. A Vera (Drica Moraes), que assume a direção do hospital, vai abusar do álcool, porque não dá conta. O Décio (Bruno Garcia) se vê diante de um dilema pessoal: cuido do meu trabalho ou cuido de mim? O Evandro (Julio Andrade) reencontra o pai, que não via há 20 anos, e enfrenta o dilema de perdoá-lo ou não. A Carolina (Marjorie Estiano) enfrenta um problema de saúde físico (um nódulo no seio). Charles (Pablo Sanábio) sofre um acidente grave. E Lívia (Barbara Reis) enfrenta o drama do desemprego do marido. A temporada já foi escrita sabendo que iria se destinar originalmente ao streaming. O que mudou no processo dos roteiristas? A mudança de tela provocou uma mudança. Vimos que a série precisava de uma chacoalhada. Como faz isso? A gente deu uma amaciada na quarta temporada. Não quis competir com a realidade, que estava muito difícil. Foi uma temporada um pouco mais doce, esperançosa. Quando a gente vira um original Globoplay, a gente precisa lidar com uma audiência diferente, que eu não conheço ainda. É a primeira vez que faço isso. A minha aposta é em múltiplas histórias desses personagens. Além de Evandro e Carolina, todos os outros médicos terão boas histórias, vivem dramas. Dramas que ultrapassam apenas um episódio. É um público diferente... Quando estamos numa quinta temporada, a gente já conhece o nosso IP, nossa propriedade intelectual. A comunicação com o público no "Sob Pressão" é muito plena. É só abrir o Twitter. Eles falam com a gente. E a gente ouve. É um termômetro importante. PUBLICIDADE | | |