A Copa do Mundo é um evento transmitido ao vivo na televisão aberta brasileira desde 1970. Quem tenta entender como as transmissões ocorreram nestes 52 anos sempre esbarra em duas questões principais: a presença constante da Globo e as duras batalhas pela aquisição dos direitos de exibição por parte dos concorrentes. Como mostrou muito bem o especialista Allan Simon num longo e didático vídeo, a presença ou ausência de muitas emissoras na Copa está ligada, com maior frequência, a aspectos econômicos. Também houve golpes baixos ao longo destas cinco décadas, mas o fator econômico quase sempre foi o determinante. São várias as Copas que a Globo transmitiu com exclusividade na TV aberta. Nas últimas duas décadas, isso ocorreu em 2002, 2006, 2018 e agora, em 2002. Em 2010 e 2014, a Globo sublicenciou os seus direitos para a Band. Em quase todas estas Copas, nas últimas duas décadas, o Grupo Globo sofreu concorrência na TV por assinatura. O canal do grupo, o SporTV, disputou com BandSports, ESPN e/ou FOX a audiência dos espectadores que buscavam alternativa à TV aberta. Em 2022, pela primeira vez em muito tempo, a Globo reina sozinha na TV aberta e na TV por assinatura. A ausência de concorrência só não é total por que o principal grupo de comunicação do país não adquiriu com exclusividade os direitos de transmissão por streaming. Ainda assim, como mostrou o repórter Marcel Rizzo, a Fifa não conseguiu convencer nenhum gigante do streaming (HBO, Grupo Disney, para o Star+, Grupo Paramount, Amazon, Apple, entre outros) a adquirir esses direitos. Todas entenderam que a concorrência seria ingrata com a Globo, que não apenas é dona exclusiva dos direitos nas TVs aberta e por assinatura, mas pode exibir, sem cobrar adicional, os jogos em streaming também. A solução encontrada pela Fifa e a LiveMode, empresa encarregada em comercializar os direitos, foi oferecer a Casimiro Miguel, hoje o principal streamer brasileiro, a possibilidade de transmitir 22 partidas pela internet. Não se tem notícias de algum valor de compra desse pacote. O acordo está sendo um teste para a Fifa. Uma das questões em avaliação é entender se o público habituado a ver os jogos nas TVs vai optar por um canal com delay — o atraso, às vezes, é de quase um minuto, entre as diferentes transmissões. Os números preliminares, verificados durante os jogos, são muito positivos. Eles mostram que na partida do Brasil com a Suíça, Casimiro fez a maior transmissão online de futebol do Brasil e uma das lives mais assistidas simultaneamente da história recente do YouTube. Foram 4,85 milhões de espectadores simultâneos no serviço do Google, mais 331 mil pessoas na Twitch. Monopólio é ruim, sempre. Estes resultados deixam claro que existe espaço no mercado de transmissão para concorrentes à Globo. Isso não é novidade alguma, diga-se. A Band, na TV aberta, sempre que transmitiu a Copa do Mundo, conseguiu bons números de audiência. O mesmo sempre aconteceu na TV por assinatura. Mal comparando, Casimiro é a Band de 2022. Mas limitada ao público que opta por ver futebol pela internet. PUBLICIDADE | | |