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Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Público espera que Galvão valorize papel histórico de Ana Thais ao seu lado

Galvão Bueno entre Júnior e Ana Thais Matos, durante transmissão de Brasil x Suíça na Copa de 2022 - Reprodução/TV Globo
Galvão Bueno entre Júnior e Ana Thais Matos, durante transmissão de Brasil x Suíça na Copa de 2022 Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

29/11/2022 08h01

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Dois jogos do Brasil, duas vitórias, audiência na casa dos 50 pontos. Para a Globo, um melhor início de Copa do Mundo do que esse seria impossível.

Também há motivos de festas na cabine de transmissão da emissora. Esta é a última Copa de Galvão Bueno como narrador. Nesta segunda-feira (28), ele comemorou a 50ª transmissão de partidas da seleção brasileira em Copas.

Já Ana Thais Matos comemorou a segunda partida em que atua como comentarista ao lado de Galvão. A presença de uma mulher neste lugar é um fato histórico. Também deveria ser motivo de alegria, mas não é o que parece.

Parte do público tem a impressão de que o clima entre Galvão e Ana Thais não é dos mais cordiais.

Há muitas reclamações, de espectadores e espectadoras, de que Galvão não está interagindo com Ana Thais. Ela comenta e ele não diz nada. Em poucas ocasiões que reagiu a falas da comentaristas, soou impaciente ou irritado.

No jogo contra a Sérvia, reagiu mal a uma observação dela sobre o goleiro adversário. Nesta segunda (28), quando Ana Thais disse que o Brasil não estava jogando bem no segundo tempo contra a Suíça, Galvão respondeu: "E jogou bem no primeiro?"

As transmissões de partidas da seleção narradas por Galvão, de um modo geral, costumam ser um espetáculo de stand up. Galvão fala sozinho o tempo todo. Orienta os jogadores, critica o treinador, reclama com o juiz. Cria narrativas sobre a história do jogo e, quando chama os comentaristas, espera apenas que eles corroborem o que ele está falando.

É muito raro algum comentarista discordar de Galvão. Casagrande às vezes fazia isso. Aliás, esta a primeira Copa em muito tempo em que Galvão está sem a companhia de Casão e de Arnaldo Cezar Coelho, um grande amigo, que também funcionava como "escada" do narrador.

Na difícil tarefa de ser a primeira mulher a comentar partidas da seleção brasileira na Copa, Ana Thais está tateando o terreno. Tem feito comentários interessantes, que mostram uma visão pessoal do jogo. Mas está comedida. Não está forçando a barra para falar.

Não acho que haja muito espaço, numa partida de Copa do Mundo narrada por Galvão, para conversas com os comentaristas durante o jogo. O espetáculo, como eu disse, é dele apenas.

Mas é tão excepcional esta estreia de Ana Thais que caberia algum gesto de reconhecimento por parte do narrador. Além do papel inédito que ela representa, esta Copa está sendo disputada num país em que as mulheres têm direitos limitados por lei.

Não seria bom para Ana Thais se Galvão fosse condescendente. Mas há espaço, entre a falta de interação e o elogio falso, para uma relação mais cordial, de companheirismo, entre o narrador e a comentarista.

Galvão sairia maior se conseguisse reconhecer o fato extraordinário que está acontecendo ao seu lado.