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Reconstrução: Um caminho coletivo para o futuro

Vizinhos ajudando vizinhos. As recentes enchentes que devastaram o sul do Brasil nos reafirmam o valor da solidariedade. Bilhões de reais e incontáveis doações chegaram a quem precisa, graças ao comprometimento dos próprios gaúchos, dos moradores de outros estados e de outros países. Os exemplos que vêm do Sul nos mostram, porém, que a verdadeira reconstrução começa antes das obras físicas nas casas, hospitais, escolas, ruas e empresas. Para que uma visão positiva de futuro se estabeleça, é imprescindível um compromisso coletivo, baseado em compartilhamento de valores e de objetivos.

Uma analogia com a situação no Oriente Médio nos ajuda a compreender porque a reconstrução naquela região deveria se inspirar no que acontece no Rio Grande do Sul, um estado no qual culturas, etnias e fés convivem com respeito e convergência de objetivos. Porto Alegre, aliás, conta com o mais ativo e representativo grupo de diálogo inter-religioso do país.

Hoje, não há gaúcho que pense em destruir seus vizinhos e que só enxergue o futuro a partir de uma premissa de exclusão. Neste sentido, o Oriente Médio enfrenta desafios enormes. Lá, a convivência pacífica é constantemente ameaçada por grupos terroristas, como o Hamas e o Hezbollah, financiados pelo Irã e pelo mau uso de verbas internacionais que deveriam ajudar os palestinos a viver melhor.

Se os bilhões de dólares gastos pelo Hamas em armas, túneis e privilégios para seus líderes tivessem sido utilizados para construir casas, escolas e hospitais, a Faixa de Gaza seria hoje um exemplo de desenvolvimento humano e econômico. O Hamas não quer e não consegue, porque seus objetivos passam longe disso. Sua visão de sociedade é baseada na interpretação radical da religião e na eliminação de todos os que não seguem a sua cartilha.

Na contramão do terrorismo e do radicalismo, o mundo árabe, cada vez mais, trabalha pela cooperação, que gera infinitamente mais valor do que o conflito. Desde 1979, Egito e Israel vivem em paz, depois de guerras e tensões que pareciam insolúveis. Anos mais tarde, foram Jordânia, Marrocos, Mauritânia e Tunísia.

Mais recentemente, os históricos acordos entre Israel e Emirados Árabes Unidos iniciariam uma nova era de prosperidade e de desenvolvimento na região. A Arábia Saudita já costura um acordo com Israel, o que deixará a ditadura fundamentalista iraniana ainda mais isolada. Não é necessário um PHD em Geopolítica para compreender que esse foi um dos principais motivos do ataque do Hamas a Israel, no qual 1,2 mil pessoas foram assassinadas e mais de 230 sequestradas.

Para os radicais de Teerã, que sufocam à força a inconformidade crescente de seus próprios cidadãos, boicotar a aliança entre Israel e os regimes moderados da região é uma questão de sobrevivência política. Legitimar a igualdade de gêneros, o respeito às diferenças, a liberdade de expressão e o voto livre significaria o fim para quem governa pelo medo e pela repressão. Por isso, antes de falar em reconstrução na Faixa de Gaza, alguns passos anteriores se impõem: aceitar o direito à existência de Israel, acabar com o terrorismo, punir os terroristas, libertar todos reféns mantidos em cativeiro e estabelecer quais valores estarão na base de um futuro Estado Palestino.

No sul do Brasil, vemos exemplos inspiradores de voluntários ajudando quem precisa, sem perguntar sobrenome, origem ou crença política. Há divergências e debates normais em uma democracia. Em momentos de grande carga emocional, muitas vezes não nos expressamos da melhor forma. Mas quando há convergência de propósitos, reencontrar o rumo é uma imposição natural. Mãos à obra: comunidades se unem para limpar escombros e reerguer suas vidas, movidas pela certeza de um amanhã bem melhor.

Não será fácil. A reconstrução exigirá tempo, pela dimensão dos danos materiais e emocionais. Haverá obstáculos e vitórias, tropeços e recomeços. Mas existe vontade, trabalho, união e persistência. O reencontro com o futuro já começou em Porto Alegre e em centenas de cidades gaúchas. Parafraseando o hino rio-grandense, é uma façanha que deveria servir de modelo a toda Terra.

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* Claudio Lottenberg é presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib)

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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