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OPINIÃO

O que acontece na Amazônia não fica só lá. É só ver as queimadas no Brasil

Drone mostra área queimada perto de Ribeirão Preto, em 24 de agosto Imagem: JOEL SILVA/Reuters

Daniela Orofino e Karina Penha*

Colunistas convidadas

05/09/2024 12h00

Nas últimas semanas, o Brasil sentiu isso na pele, literalmente. Seca extrema, céu esfumaçado, ar difícil de respirar. Só em 2024, já foram registrados cerca de 60 mil focos de incêndio na Amazônia, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Estamos testemunhando o maior índice de queimadas em quase duas décadas e a pior seca na região em mais de 40 anos. Os efeitos são sentidos mais diretamente pela população que mora na Amazônia, mas as consequências das queimadas não ficam restritas ao bioma.

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O fogo criminoso e descontrolado deixa um rastro de fumaça que se alastra por milhares de quilômetros, atingindo outros estados brasileiros e até países vizinhos. Como resultado, as correntes de vapor que levam umidade para o continente ficam comprometidas, intensificando ainda mais a seca típica desta época do ano.

É nesse cenário, agravado ano após ano, que o Brasil vai receber a COP30 na cidade de Belém do Pará, no final do ano que vem. A Conferência das Partes (COP) é o principal fórum internacional para avaliar, debater e acompanhar políticas de controle da emissão de gases responsáveis pela crise climática. Em 2025, pela primeira vez na história, uma COP será realizada na região amazônica.

Apesar de a Amazônia ser frequentemente lembrada em debates internacionais, até então uma cidade amazônica nunca havia sido escolhida como palco para um evento de tal magnitude. Sediar uma COP significa receber chefes de Estado e lideranças climáticas de diferentes países, representantes de grandes empresas e a atenção midiática dos maiores veículos de imprensa do planeta.

A COP30 é uma oportunidade única de trazer os olhos do mundo para a Amazônia e mostrar a realidade de um território que é habitado por mais de 30 milhões de pessoas, e que possui problemas sérios e urgentes. Mas mais do que isso: pela primeira vez, a população amazônica tem chances mais concretas de pautar a justiça climática dentro do seu próprio território, a partir da sua própria perspectiva.

Enquanto os líderes mundiais estiverem reunidos em Belém, justamente na época da seca, as queimadas, o desmatamento ilegal e a fumaça serão questões inevitáveis.

Ao redor do mundo, as emissões de carbono são provenientes principalmente da queima de combustíveis fósseis. Mas, no Brasil, nossas emissões são fruto da mudança do uso da terra, principalmente com a derrubada da floresta para dar lugar a pasto. O desmatamento dos nossos biomas responde por 48% do nosso total nacional de emissões, segundo relatório mais recente do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).

Como país-sede, o Brasil terá a responsabilidade de demonstrar liderança e ambição na revisão de suas metas climáticas, especialmente quanto à redução do desmatamento e à justiça climática. A destinação dos 57 milhões de hectares de florestas públicas não-destinadas na Amazônia Legal, deixando-as sob os cuidados de povos indígenas, quilombolas, extrativistas e Unidades de Conservação, seria um primeiro passo para avançarmos em políticas socioambientais e demonstrar, na prática, que estamos comprometidos com a proteção da Amazônia, entendendo sua importância para o equilíbrio climático global.

Da parte dos movimentos sociais e das organizações do terceiro setor, o trabalho já começou. Desde o anúncio oficial do local da COP30, representantes da sociedade civil têm desempenhado um papel vital na mobilização em torno do evento, criando comitês e espaços de discussão que buscam garantir que a construção da conferência seja participativa e inclusiva.

O protagonismo de organizações da Amazônia nessa construção é essencial para que a COP30 seja mais do que uma reunião de líderes mundiais, mas um evento que reflita as vozes e necessidades das populações que vivem na região.

A COP é uma oportunidade para aprofundar o debate sobre meio ambiente e clima com a sociedade brasileira, especialmente por quem vive na Amazônia. Parte do sucesso do evento dependerá da ampliação da participação popular, envolvendo não apenas lideranças e especialistas no tema, mas também as comunidades que serão diretamente impactadas pelas decisões tomadas.

Nessa toada, cerca de 300 atividades culturais em prol da defesa da Amazônia e do clima estão acontecendo neste momento nas cinco regiões do país, na semana em que celebramos o Dia da Amazônia. Já em sua terceira edição, a Virada Cultural Amazônia de Pé mobiliza uma coalizão de mais de 350 organizações e coletivos, que perpetuam a mensagem "O que acontece na Amazônia não fica na Amazônia" para iniciar diálogos com diferentes segmentos da população brasileira.

Como resultado desses dias de mobilização, vamos entregar uma carta para os ministros Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e Paulo Teixeira, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, na Cúpula Social do G20, que acontece em novembro, no Rio de Janeiro, com propostas para a proteção das florestas públicas da Amazônia contra a grilagem, o desmatamento e as queimadas.

Em um momento em que todo o país sente o cheiro da fumaça, não dá mais para ficar parado. Até 2025, a missão de brasileiros e brasileiras preocupados com o ar que respiramos é fazer com que o Brasil e o mundo entendam que somos a última geração que ainda pode salvar a Amazônia, e que esse precisa ser um esforço coletivo. Afinal, o que acontece na Amazônia impacta não só o Brasil, mas o mundo inteiro.

*Daniela Orofino e Karina Penha são, respectivamente, diretora e gestora de representação do Amazônia de Pé

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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