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O curioso caso da democracia americana, em retrocesso no governo Trump

No filme "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008), o protagonista nasce idoso e rejuvenesce ao longo da vida, seguindo um ciclo inverso ao natural. Em uma analogia preocupante, a democracia americana parece viver um processo semelhante sob o segundo governo de Donald Trump. Conquistas históricas, fruto de décadas de luta, estão sendo rapidamente desmontadas por uma administração marcada pelo conservadorismo extremo, políticas de exclusão e discursos negacionistas.

Desde o início do novo mandato, Trump formou um gabinete composto por figuras polêmicas e de posicionamentos radicais. Entre elas, JD Vance, agora vice-presidente, que, apesar de ter sido crítico ferrenho de Trump até 2018, tornou-se seu aliado.

Outro nome de destaque é Peter Thiel, bilionário do setor tecnológico e mentor de Vance, conhecido por sua oposição à ajuda humanitária internacional. Para ele, os recursos deveriam ser direcionados exclusivamente para o combate à imigração ilegal, reforçando uma política de segregação em detrimento da solidariedade global.

A nomeação de Tom Homan para a liderança da política migratória representa uma continuidade de medidas severas, como a separação de famílias imigrantes. Em outro setor, Elon Musk assume o Departamento de Eficiência Governamental, apesar de evidentes conflitos de interesse, dado seu envolvimento direto em setores como criptomoedas e inteligência artificial, que demandam regulação governamental.

Na área da defesa, Pete Hegseth, novo secretário do setor, adota um discurso hostil à diversidade nas Forças Armadas, ridicularizando a inclusão de militares transgêneros e promovendo uma visão ultrapassada de poder bélico. Já Pam Bondi, nomeada procuradora-geral, enfrenta um histórico de acusações de má conduta, enquanto Kristi Noem, agora à frente da Segurança Interna, defende uma postura autoritária e de repressão extrema.

No campo da saúde, a situação não é menos preocupante. Mehmet Oz e Robert F. Kennedy Jr., ambos conhecidos por discursos negacionistas e pela disseminação de desinformação sobre a covid-19, assumem cargos-chave na administração. Essa escolha coloca em risco a confiança da população na ciência e nas políticas públicas de saúde.

O governo Trump, em sua nova configuração, simboliza um retrocesso democrático. Em vez de fortalecer os pilares de diversidade, inclusão e progresso, observa-se um movimento contrário, que restringe direitos e compromete avanços históricos.

Assim como Benjamin Button se aproximava de uma infância desprotegida no final de sua vida, os Estados Unidos parecem retornar a um estado frágil, desprovido das garantias democráticas conquistadas ao longo do tempo.

Seja na política migratória, na repressão a minorias ou na desconstrução de avanços sociais e ambientais, a atual gestão evoca um cenário de regressão. A metáfora de Benjamin Button nos serve de alerta: a democracia deve amadurecer e evoluir, sob pena de se tornar irreconhecível e vulnerável. O futuro dirá se os Estados Unidos encontrarão uma nova oportunidade de redenção ou se esse retrocesso marcará o início de uma era de instabilidade global e do declínio do que parecia inabalável.

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*Membro da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político), é advogada especialista em direito processual e processos educacionais e está cursando especialização em direito eleitoral.

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