MBL deixa protestos anticorrupção de lado e terá candidatos em 38 cidades

Aiuri Rebello

Colaboração para o UOL, em São Paulo

  • Eduardo Knapp/Folhapress

    16.ago.2015 - Ato contra o governo Dilma promovido pelo MBL na av. Paulista

    16.ago.2015 - Ato contra o governo Dilma promovido pelo MBL na av. Paulista

Com o impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), prestes a chegar a um desfecho no Senado, o MBL (Movimento Brasil Livre) está deixando oficialmente as manifestações contra a corrupção de lado e começa a focar nas eleições municipais de 2016.

A coordenação nacional do movimento confirmou ao UOL o lançamento das candidaturas de 43 lideranças em 38 cidades no pleito deste ano.

Os candidatos vão disputar as eleições municipais em 13 Estados e estão abrigados em legendas que apoiaram o impeachment (PSDB, DEM, PMDB, PSC e PPS) e ao Partido Novo, sigla criada no ano passado.

São 41 candidatos a vereador, um a vice-prefeito e um à Prefeitura de Porto Alegre, que já era político antes do MBL mas foi "adotado" pelo movimento. O anúncio oficial deve ser feito em um encontro nacional do movimento ainda este mês.

O MBL foi criado no final de 2014 e apresenta-se como um movimento da sociedade civil apartidário, sem fins lucrativos e que luta contra a corrupção e por uma agenda de governo liberal.

O movimento ganhou notoriedade como um dos principais articuladores das manifestações de rua contra o PT e o governo de Dilma.

Apesar da identificação com ideais e propostas de partidos da então oposição ao governo petista, o MBL sempre tentou evitar ter sua imagem associada a um ou outro grupo político durante as manifestações pelo impeachment.

"Nunca fomos contra os partidos políticos. É natural e legítimo que algumas lideranças assumam um protagonismo e busquem uma representação política que em nada enfraquece o MBL, só fortalece", diz Kim Kataguiri, 20, um dos coordenadores nacionais do MBL.

Reprodução/Facebook
Coordenadores do MBL (da esq. para dir.): Kim Kataguiri, Renan Santos e Fernando Holiday

Bandeiras

Segundo Kataguiri, todas as candidaturas do MBL possuem uma base de propostas em comum, apesar da fragmentação partidária.

"Todas as candidaturas contemplam os ideais do movimento, pregam reformas liberais na economia e na política", diz Kim.

Entre as principais bandeiras, estão a implantação da Escola Sem Partido e a redução de direitos trabalhistas. Na área de transporte público, o MBL defende a privatização de linhas de metrô e VLTs (Veículo Leve sobre Trilhos).

Em seu site, o MBL também apresenta como proposta a substituição do SUS (Sistema Único de Saúde) por planos de saúde subsidiados pelo poder público. Eles também defendem a "redução dos impostos para escolas privadas", "militarização das escolas em áreas de risco" e a "gestão privada de escolas públicas". 

Renan Santos fala sobre a ligação do MBL com partidos políticos

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Nova postura e financiamento

De acordo com Fernando Silva, conhecido como Fernando Holiday, uma das lideranças nacionais do MBL e candidato a vereador pelo DEM em São Paulo, a mudança de postura do movimento aconteceu em novembro do ano passado.

"Tivemos um encontro nacional, onde decidimos que iríamos buscar a aproximação com as legendas de oposição ao governo do PT", diz o candidato de 20 anos de idade.

Arquivo Pessoal/reprodução Facebook
Em imagem de dezembro de 2015, coordenadores do MBL (entre eles, Fernando Holiday, candidato a vereador pelo DEM, em São Paulo, abaixo, à direita) posam para foto ao lado de Eduardo Cunha

"Como a política nacional é muito fragmentada, o partido ao qual nos associaríamos dependia da conjuntura local de cada um. Em São Paulo, quem mais se aproximava de nossos ideais e propostas era o DEM", diz o aspirante a vereador paulista.

O candidato diz não saber quanto irá gastar na campanha e que pretende contar mais com doações virtuais de apoiadores do MBL do que com doações do DEM. "Não será uma campanha cara, não haverá comícios, bandeiras, toda a comunicação será feita pela internet", afirma Holiday.

A página do MBL no Facebook é o principal meio de comunicação e convocação para os protestos contra a corrupção. O movimento tem cerca de 1,3 milhão de seguidores.

A maior parter do material publicado pelo grupo é contra Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outras figuras do PT.

Figuras de outros partidos que são alvo de denúncias de corrupção não são expostas na página, salvo exceções como o deputado federal e ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ainda hoje, pelo menos na internet, o movimento esforça-se em não ser associado a nenhuma legenda específica.

Em maio, o UOL revelou que as manifestações pró-impeachment organizadas pelo MBL eram em parte financiadas por partidos da então oposição como DEM, PSDB e Solidariedade.

Antes, já havia revelado que um dos principais líderes nacionais do MBL, Renan Antônio Ferreira Santos, respondia a mais de 60 processos e sofria a cobrança de R$ 4,9 milhões na Justiça. Em entrevista ao UOL, Renan admitiu que deve e afirmou que se trata de pendências advindas de sua atuação como empresário, geradas "pela dificuldade que existe na atividade empresarial no Brasil".

Na internet, o grupo pede contribuições em dinheiro aos simpatizantes da causa. A associação às cinco legendas que abrigam os candidatos do MBL este ano não fica clara em nenhum post.

Kataguiri explica que decidiu não se lançar candidato a despeito de alguns convites na capital paulista, mas que irá subir no palanque e poiar todos os candidatos do MBL. "Vou rodar o país apoiando nossas campanhas", diz.

Política tradicional

Em Vinhedo, no interior paulista, Rubens Nunes, um dos fundadores do MBL, confirmou sua pré-candidatura a vice-prefeito na chapa encabeçada pelo PDT.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Fundador do MBL é candidato a vice-prefeito em Vinhedo (SP) pelo PMDB

No PMDB desde março, quando seu pai e vereador da cidade trocou o PR pela mesma legenda, Nunes chegou a anunciar sua candidatura à prefeitura, mas em uma composição com as forças políticas tradicionais, acabou aceitando ser vice do candidato a prefeito Doutor Dario Pacheco.

Fora seu pai, Nunes e o MBL contam com o apoio incondicional do industrial e presidente do PMDB em Vinhedo, João Marcos Lucas.

Nunes e Kataguiri não veem contradição em um nome do MBL ser filiado ao PMDB, sigla que também é investigada pela Lava Jato, e nem de participar de uma composição partidária feita por forças políticas tradicionais na cidade.

"O PMDB é um partido enorme, com muitos grupos regionais. O fato de alguns destes grupos e lideranças estarem envolvidos com denúncias de corrupção não invalida o trabalho feito em outras praças", diz Kim.

Reprodução/Facebook
O deputado federal Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS), que concorre à Prefeitura de Porto Alegre

É ou não é MBL?

O deputado federal pelo PSDB gaúcho Nelson Marchezan Júnior está na política desde 2002 e evita cravar que sua candidatura à Prefeitura de Porto Alegre é do MBL, mas fica feliz que o movimento o considere "seu".

Na capital do Rio Grande do Sul, Marchezan foi uma das principais lideranças que ajudou a organizar os protestos pelo impeachment, em conjunto com a articulação nacional do MBL, e acabou virando uma espécie de "dirigente regional".

"Não me considero líder do MBL mesmo porque o movimento não tem líderes", diz o deputado. "Mas faço parte de um grupo de colaboradores aqui na região e faço o possível para ajudar o movimento. Participo de reuniões, coloco eles em contato com empresários para conseguir apoio e ajudo a articular o movimento", afirma Marchezan.

"Minhas propostas vão de encontro às do movimento, então me coloco como candidato deles aqui, mas não só deles, de todos que concordam com o que defendemos", completa.

Apesar do foco do MBL estar agora voltado às eleições, Kataguiri diz que o movimento não irá baixar a guarda e ficará vigilante em relação ao governo Temer.

"Ele [Temer] mostra uma preocupação com sua história e biografia e não com pretensões políticas. Assim, vemos espaço para ele promover as reformas que precisamos, inclusive a implantação do parlamentarismo. Se começar a virar a mesma palhaçada do governo Dilma, voltaremos às ruas", diz. Por hora, não há nenhuma manifestação marcada.

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